Título: Atraso no corte da cana muda cenário do mercado de álcool
Autor: Tenório, Roberto ; Costa, Edson Álvares da
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/09/2008, Agronegócio, p. C9

3 de Setembro de 2008 - Os problemas com o excesso de chuva no início da moagem da cana-de-açúcar, entre abril e maio, devem conspirar a favor dos usineiros neste segundo semestre, que reclamam da baixa remuneração do álcool combustível no mercado interno. A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) revisou para baixo a estimativa de safra na região Centro-Sul, responsável por mais de 80% da produção nacional, para 487,5 milhões de toneladas, ante os 498,1 milhões de toneladas previstos inicialmente (-2,1%). Somado ao aquecimento da demanda interna dos carros flex, a expectativa dos especialistas é de alta nos preços do etanol. Marcos Jank, presidente da Unica, acrescenta que a redução da estimativa da safra canavieira no Centro-Sul também ocorreu, em parte, por causa do atraso da entrada em operação de novas usinas. Jank disse que, das 32 usinas programadas para entrar em operação nesta safra, 18 o fizeram, 11 deverão começar a partir de setembro e três deverão processar cana só a partir de 2009. Segundo Sérgio Prado, representante da Unica em Ribeirão Preto, problemas climáticos, como o excesso de chuva no início da safra em algumas regiões do Centro-Sul, prejudicaram a colheita mecanizada. "Várias usinas tiveram que interromper a moagem em virtude das chuvas, principalmente no Paraná", disse Prado. Segundo ele, se o tempo permitir, ou seja, se não chover demais, as usinas da região deverão prolongar a safra até dezembro. Os dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Universidade de São Paulo (Cepea/USP) indica que os preços do álcool hidratado para combustível (etanol) recuaram 1,35% até o dia 25 de agosto e estão cotados a R$ 0,73 o litro. José Carlos Toledo, presidente da União das Usinas do Oeste Paulista (Udop), observa que não existe expectativa de desabastecimento. "O que iria sobrar acabou sendo retirado do cálculo. A tendência é que o mercado fique mais justo". Disse ainda que, no atual patamar, o preço pago ao produtor está dando prejuízo e que o custo varia em cada usina, tendo que levar em consideração o nível de tecnologia adotado por cada uma. "A revisão dos números já era esperada", afirma Miguel Biegai Júnior, analista da Safras & Mercado. Ele diz que, a princípio, a notícia é mais um fator que deverá produzir efeito positivo nos preços do etanol. A outra explicação é a forte demanda gerada pelos carros flex, que estão exigindo a maior concentração do mix (60%) para a produção do combustível vegetal. "Ao contrário do ano passado, o mercado doméstico deverá absorver cerca de 19 bilhões de litros sem dificuldade". Toledo acrescenta que grande parte dos contratos de exportação (algo próximo a 3 bilhões de litros) já foram concluídos. Mas não acredita que serão feitos grandes estoques por causa da necessidade das usinas cobrirem custos. "A produção está sendo desovada rapidamente. Precisamos esperar para ver como o mercado vai reagir na entressafra". A expectativa da Unica é que sejam produzidos cerca de 24 bilhões de litros neste ano, incremento de 16% em relação ao ano anterior. Já as usinas filiadas deverão exportar 4,2 bilhões de litros em 2008. Açúcar em alta A redução do mix destinado à produção de açúcar está impulsionando os preços da commodity no mercado interno. De acordo com a Safras & Mercado, os preços da saca de 50 quilos do açúcar, base Ribeirão Preto, subiram 27,6% desde janeiro, saltando de R$ 23,90 a saca para R$ 30,50 no início deste mês com IPI incluso. "Além da redução do mix, a produção foi menor no último mês". No total, a expectativa da Unica é que sejam produzidos 26,5 milhões de toneladas, número 7,2% menor que a estimativa inicial, de 28,5 milhões de toneladas. (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 9)(Roberto Tenório e Edson Álvares da Costa)