Título: Sob pressão, Lula decide afastar Lacerda e toda diretoria da Abin
Autor: Quadros, Vasconcelo
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/09/2008, Política, p. A7

Brasília, 2 de Setembro de 2008 - Pressionado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afastou ontem à noite o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Paulo Lacerda e toda a diretoria do órgão. Junto com o delegado, deixaram os cargos o diretor-adjunto, Milton Campana e o delegado federal Renato da Porciúncula, assessor especial de Lacerda. A decisão de Lula foi motivada pela crise institucional gerada pela suspeita de a Abin teria se envolvido na espionagem ilegal contra o presidente do STF, Gilmar Mendes e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). O anuncio foi feito à noite em nota divulgada pelo Palácio do Planalto, depois que uma romaria de ministros do STF e parlamentares da oposição e da base governista ao gabinete do presidente Lula para pedir a cabeça de Lacerda. Pela manhã, acompanhado do general Jorge Félix, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e seu superior hierárquico, em audiência no Planalto, Lacerda negou que agência tenha grampeado telefones e defendeu que o governo esperasse a conclusão das investigações oficiais. O delegado já havia mandado a Corregedoria do órgão abrir uma sindicância interna, mas queria uma investigação ampla, com a participação de perícia especializada. Lula não quis dar o tempo que o delegado pedia e, depois de receber, em audiência separadas várias autoridades, entre elas o presidente do STF, Gilmar Mendes e o presidente do Congresso, Garibaldi Alves (PMDB- RN), decidiu pelo afastamento e mandou a Polícia Federal abrir investigação para esclarecer o caso. O inquérito foi anunciado à noite, depois que o Palácio do Planalto divulgou nota confirmando a queda da diretoria da Abin. A investigação será tocada por um delegado da Superintendência da Polícia Federal do Distrito Federal e deverá ser acompanhado por senadores da Comissão de Controle de Atividade de Inteligência do Congresso. Não há ainda qualquer indício forte que confirme ter saído da Abin o grampo que captou a conversa do presidente do STF e do senador mas, pressionados pela classe política, o presidente temia que o restante de seu segundo mandado fosse contaminado pela suspeita de espionagem ilegal. Vinculada ao GSI, a Abin é responsável pela produção dos relatórios de informações confidenciais que chegam ao presidente. Pouco antes do afastamento ser anunciado, o senador Demóstenes Torres disse que o general Jorge Félix aventou várias hipóteses para a autoria do grampo, entre elas a de que possa ter se originado do sistema de controle telefônico no próprio Senado. A denúncia de que o grampo tem origem na Abin foi publicada pela revista Veja no último final de semana. A reportagem mostra a transcrição da conversa entre Mendes e Torres que diz ter recebido de um servidor dos quadros da Abin. "A Polícia Federal e a Abin têm condições de esclarecer o caso. Se não o fizerem, devem fechar as portas", disse o deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), presidente da CPI do Grampo, que hoje à tarde toma o depoimento do general Jorge Félix, em mais um capítulo da crise. Félix acha que a Abin não está envolvida com a espionagem. Lacerda deixa o cargo um ano depois de assumir com o propósito de promover uma ampla reformulação na agência. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)(Vasconcelo Quadros)