Título: Para analistas, Argentina deve cortar gastos
Autor: Illiano, César
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/09/2008, Internacional, p. A8

Buenos Aires, 2 de Setembro de 2008 - A Argentina não tem muitas opções além de ajustar o gasto público desfazendo o gigantesca emaranhado de subsídios em torno das contas públicas, se realmente quiser frear uma inflação que chega próxima dos 25% ao ano, dizem analistas. Depois de subir as taxas de juros agressivamente, um tanto para conter os preços e também para evitar uma fuga de capitais durante uma recente crise política, analistas opinam que a presidente, Cristina Fernández, deveria desfazer o ciclo de um Estado que funciona como roda motriz para toda a economia. O gasto público cresceu 37% ao ano no primeiro semestre do ano, frente à expansão nominal - que inclui o impacto da inflação - de 26% do PIB. A economia cresce desde 2003 a taxas superiores a 8% por ano, em boa medida apoiada no consumo doméstico que reaqueceu os preços, um processo que se somou à inflação global nos alimentos. Mas um extenso conflito entre o governo e o setor agropecuário - que derrubou a imagem da presidente - esfriou as expectativas de crescimento econômico por parte dos analistas e ajustou ainda mais o escasso financiamento disponível para o país nos mercados globais. Tal cenário gerou uma leve desaceleração da economia, que estaria ajudando o governo a aplacar a inflação, mas os especialistas acreditam que a batalha só poderá ser ganha se o gasto público for contido. "As taxas de juros poderiam continuar subindo e as taxas de câmbio baixando, mas não se pode fazer com que a parte monetária faça todo o ajuste que, em parte, deve fazer a situação fiscal", disse Fausto Spotorno, economista do escritório Orlando Ferreres. A essência do possível gasto a ser cortado são os mais de US$ 9,7 bilhões em subsídios que este ano permitirão aos argentinos desfrutar das tarifas de serviços públicos mais baixas da região. Em julho, o governo anunciou aumentos nas tarifas residenciais de eletricidade, mas os analistas acreditam que por mais impopular que seja esse caminho, o governo deverá continuar dando más notícias. Frear os subsídios "Fizemos o exercício sobre quanto as tarifas deveriam subir e é algo politicamente inconcebível, mas poderíamos frear o crescimento" dos subsídios, disse Marina Dal Poggeto, economista do escritório Bein y Asociados. A crítica dos analistas ao esquema de subsídios estatais é que estes cobrem todas as classes sociais do país. Uma casa humilde nos arredores de Buenos Aires paga a mesma tarifa de gás natural que uma mansão na zona mais cara da cidade. "O governo pode ainda jogar com os subsídios, com as tarifas e com a qualidade do gasto, há espaço para isso", disse Bernardo Kosacoff, diretor para a Argentina da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). A receita da Cepal para combater a inflação na região é tomar uma estratégia global. "Se só se recorre ao aumento das taxas de juros para controlar a demanda agregada, o aumento necessário pode ser exageradamente alto, com efeitos negativos sobre o investimento e o crescimento futuro, disse em um informe. Outras opiniões indicam o contrário. Frente às críticas, o governo responde que os fundamentos da economia estão sólidos - superávit comercial, de conta corrente e primário - e que os indicadores mostram uma indústria que se recuperou depois de alguns meses ruins como conseqüência da disputa política com o setor rural. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)(César Illiano/Reuters)