Título: Ações da Petrobras valem menos com as novas reservas
Autor: Luíza, Maria
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/09/2008, Finanças, p. B1

São Paulo, 2 de Setembro de 2008 - Investidores, preparem-se: as ações da Petrobras continuarão em zona de turbulência em setembro. A ansiedade do mercado reside sobre a primeira versão da proposta do Comitê Interministerial, formatado pelo presidente da República para definir alterações no modelo dos contratos de exploração de petróleo, e a divulgação do novo plano de investimento da petrolífera, ambos agendados para este mês. Além da expectativa, a queda superior a 20% no preço do barril do petróleo desde o pico mais recente (US$ 145 em 3 de julho) também pressiona a cotação das ações da Petrobras. O conjunto de fatores tem mantido o valor do papel abaixo do preço antes das descobertas de novas reservas. No dia 8 de novembro, data do primeiro anúncio, referente à Tupi, a ação preferencial da petrolífera chegou a R$ 39,85. Dez meses depois e seis descobertas a mais, valem R$ 34,21 - retração de 14,15% no período. Um dia antes de anunciar a descoberta de Tupi, as preferenciais valiam R$ 34,90 e as ordinárias, R$ 40,55. "A Petrobras divulgou um resultado do segundo trimestre muito bom, mas nem isso foi capaz de impulsionar consistentemente o preço das ações da companhia, que parecem muito vinculados ao preço do petróleo no mercado internacional e à formatação do modelo de exploração do pré-sal", define Felipe Cunha, analista da Brascan Corretora. A apreensão dos analistas de investimento não encontra força na criação de uma nova estatal, mas sim na alteração de licitações já feitas com mudanças de taxação (royalties e impostos). Se o novo modelo não mexer com o que já foi concedido, uma nova empresa pode ser até positivo, na avaliação de Luiz Otávio Broad, analista da Ágora. "Mas para o curto prazo há uma indefinição muito grande e por isso não indicamos o papel", diz. Para quem está mirando o longo prazo, o consenso entre os analistas ouvidos é que o papel da petrolífera continua sendo um bom investimento. Com ou sem pré-sal. "De forma concreta, a única reserva que conseguimos precificar hoje é Tupi, que tem maior volume de informações. Acreditamos que essa reserva seja capaz de agregar cerca de R$ 5,00 por ação no atual modelo de exploração, com um preço justo da preferencial de R$ 65", avalia Cunha. A reserva de Tupi tem estimativa de 5 a 8 bilhões de barris, enquanto as reservas totais do Brasil hoje são de 14 bilhões de barris. "Expurgando Tupi e considerando apenas os blocos já existentes e a curva de produção traçada pela companhia, o preço seria de R$ 60,00", diz o analista da Brascan Ou seja, quase o dobro da cotação atual. O analista da Corretora Gradual, Eduardo Cortez, lembra que a companhia apresenta maior liquidez e participação no Ibovespa justamente pela grande participação de estrangeiros ¿ que, com aumento de aversão ao risco devido ao cenário externo realizaram lucro do ativo. E, com a indefinição do modelo dos próximos contratos de exploração, não devem retomar posição agora. "De todo jeito, as ações estão muito desvalorizadas. Vemos um preço justo de R$ 53 (PN) sem pré-sal", diz Cortez. Hoje, a Petrobras inicia a produção do primeiro óleo do pré-sal, no Campo de Jubarte, na Bacia de Campos, localizada no litoral sul do Espírito Santo. A expectativa do mercado é que Jubarte sirva como parâmetro para exploração nesse tipo de camada, ainda que sua profundidade seja de 4,7 mil metros, enquanto em outras bacias ultrapassa 6 mil metros de profundidade (caso de Tupi). "Hoje é um dia importante porque, apesar do nível de dificuldade em Jubarte ser um pouco menor, mas será um bom balizador para medir o volume de investimento e o verdadeiro potencial em pré-sal", considera Marco Saravalle, analista da Coinvalores. Estrutura do capital A estimativa mais conservadora no mercado hoje é que a exploração do pré-sal exija investimento da ordem de US$ 600 bilhões em 30 anos, conforme relatório divulgado pelo banco UBS. A expectativa, ressalta Saravalle, é sobre a estrutura do capital no novo plano de investimento - recursos próprios, alavancagem, parceria com empresas internacionais ou injeção da União. "O que o mercado espera é não ter decisões extremas, mas um modelo intermediário que possa rentabilizar o investimento por parte do acionista da Petrobras e ao mesmo tempo trazer benefícios para o País." Enquanto isso, quem se beneficia são as empresas fornecedoras da cadeia de exploração, passando por fabricantes de navios e desenvolvedoras de tecnologia a logística de funcionários. Lupatech e Confab são algumas das empresas cujo potencial começou a aparecer no preço da ação. Desde o anúncio de Tupi, a Confab (PN), que fabrica tubos para gasoduto e oleoduto, saltou de R$ 5,55 para R$ 6,27 - e tem preço justo dado pela Corretora Gradual de R$ 9,30. No mesmo período, a ação da Lupatech (ON) registrou valorização de 32%, saltando de R$ 47 para R$ 62,50.(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Maria Luíza Filgueiras)