Título: Brasil pode ser o melhor dos BRIC
Autor: Loureiro, Ubirajara
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/09/2008, Nacional, p. A5

Rio, 1 de Setembro de 2008 - O Brasil tem condições de ser melhor do que a Rússia, a Índia e a China, as quatro economias que formam o BRIC, mas há um longo caminho a ser percorrido para que se alcance esse objetivo, segundo o ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso. Rússia e China são potências mundiais e a Índia tem registrado níveis extraordinários de crescimento econômico. Mas cada uma dessas nações tem limitações que não estão presentes no quadro brasileiro. Segundo Velloso, a China, até 1979, era um país pobre, até com um certo complexo de inferioridade. Foi só a partir das reformas de Deng Xiao Ping que explodiu em termos de desenvolvimento. "Mas até hoje enfrenta muitos óbices internos. Primeiro é que o progresso econômico ocorre preponderantemente nas províncias do litoral. Na área rural, que tem 700 milhões de pessoas, há uma pobreza assombrosa", diz Velloso. A Índia, segundo Velloso, vive a questão crucial de ter ilhas de prosperidade num oceano de grande pobreza. E Rússia, afirma, está potencializando suas vulnerabilidades ao retomar a postura imperialista da extinta União Soviética, o que prejudica sensivelmente suas possibilidades de cresci-mento econômico, dada a instabilidade e riscos que assume. Nesse quadro, Reis Velloso entende que, apesar de todos os problemas brasileiros, o País tem menos vulnerabilidades do que os demais integrantes do BRIC. Segundo ele, o Brasil aproveitou a fase de crescimento da economia mundial, conseguiu melhorar os fundamentos econômicos. Para aproveitamento das vantagens, solidificadas com a estabilidade dos últimos anos, Velloso preconiza a modernização do Estado brasileiro, mediante uma inserção internacional inteligente, para evitar a volta do risco de vulnerabilidade externa, com queda relativa de exportações e aumento do déficit em transações correntes que começam a aparecer no horizonte. O primeiro passo para isso seria balizar um avanço também nas áreas institucional e política. "Se formos às raízes dos escândalos e apagões, veremos que são as mesmas: o arcaísmo e conseqüente necessidade de modernização das instituições políticas, ainda frágeis, com fraqueza dos partidos, falta de iniciativas relevantes pelo Congresso que sequer tem agenda própria, ao lado de um presidencialismo imperial", destaca Reis Velloso. É esse tipo de discussão que motivou uma diversificação na agenda de convidados do Fórum, que se realiza de quarta-feira a sexta-feira, no auditório do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Normalmente com participação de especialistas da área econômica, desta vez, lá estarão os presidentes da Câmara e do Senado e líderes do PMDB, PSDB, PT e DEM. Todos dispostos a debater o fortalecimento de suas instituições, para articular a sociedade na direção do progresso. A expressão BRIC foi cunhada em 2003 pelo economista inglês Jim O""Neill, um dos principais executivos do Goldman Sachs, para referir-se a um bloco de países emergentes que reuniria as melhores condições de desenvolvimento. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Ubirajara Loureiro)