Título: Varejo regional vai enfrentar gigantes na web
Autor: Oliveira, Regiane de
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/09/2008, Administração & serviços, p. C8

1 de Setembro de 2008 - É em ritmo de contagem regressiva que muitas redes de varejo estão se preparando para iniciar suas operações em um conhecido, mas ainda pouco explorado, segmento de mercado: o comércio on-line. Desta vez, a movimentação não parte só das redes do eixo Rio-São Paulo. São as empresas de varejo regionais que aproveitam o bom momento da economia para expandirem seus negócios para outras regiões do Brasil. A regra é simples: faça agora, antes que outros o façam. Especialmente quando `outros¿ significa a já anunciada entrada no e-commerce, ainda este ano, de gigantes como Wal-Mart, Carrefour e Casas Bahia. O Wal-Mart, maior varejista do mundo, promete para o final deste mês o lançamento de seu portal de vendas no Brasil. Casas Bahia e Carrefour, que ainda não possuem sua vertente virtual, também vêm trabalhando para conseguir colocar seus portais no ar ainda neste ano. Segundo o diretor de não-alimentar e serviços do Carrefour, Roberto Britto, a rede planeja ampliar em breve sua atuação no Brasil por meio de uma operação de e-commerce. "Isso vai permitir que possamos atender de forma mais completa ao consumidor on-line, que hoje já conta com nossa agência de viagens Turismo Carrefour na internet, lançada em maio deste ano", diz Britto. Apesar de o executivo não falar em uma data para o lançamento do portal, fontes do mercado garantem que a rede francesa vai disputar o período de lançamento com o Wal-Mart, no final de setembro. O momento é de otimismo, mas também de expectativa, afirma Alessandro Gil, sócio da desenvolvedora de portais Ikeda Internet Software, responsável pela construção da primeira loja do portal Submarino. "Com o anúncio de que o Wal-Mart entraria na internet várias empresas procuraram a Ikeda para se antecipar", conta. Trata-se de um varejo de pequeno e médio porte que, ao contrário das gigantes, é ágil nos processos de decisão de seus investimentos. "Para a Casas Bahia investir no e-commerce há todo um trabalho longo de transformar sua base de clientes em usuários de cartões (processo que começou em 2005 com a parceria com o banco Bradesco )", afirma Gil. No final de 2005, a Casas Bahia fez um projeto piloto de vendas no site ShopFácil do Bradesco. O plano da empresa era entrar no e-commerce quando conseguisse migrar ao menos 4 milhões de clientes de sua carteira para sua base para os cartões. A meta já foi superada: a empresa tem hoje 4,1 milhões de cartões emitidos. Essa corrida atrás do canal eletrônico, em nada se parece com os tempos do estouro da "bolha", em 2001. Nessa época bilhões de dólares foram injetados na internet, num movimento que teve início com a oferta pública da Netscape em 1995. E o resultado bem conhecido: falências de diversas empresas. "O varejo ficou tímido com o estouro da bolha e os negócios via internet ficaram voltados para o B2B (business-to-business)", diz Gil, da Ikeda. A principal diferença para aqueles tempos é que hoje são empresas já consolidadas no mercado real que buscam a internet, como a MM Mercadomóveis, rede varejista de móveis e eletrodomésticos do Paraná com 30 anos de atuação e 100 lojas, que prepara sua estréia no mundo virtual. O plano da empresa é transformar um site tímido que, ainda assim, responde por 5% do faturamento, em um portal de negócios e dobrar sua receita ainda neste ano. No Espírito Santo, a rede varejista de móveis e eletroeletrônicos Sipolatti, também planeja sua entrada no comércio para meados de 2009. Segundo o diretor da empresa Fábio Sipolatti, a rede é realista em relação às suas chances na internet. Pesquisas feitas pela empresa mostram que o negócio não é muito rentável a curto prazo devido aos investimentos na logística e estrutura necessários para prestar um bom atendimento aos clientes. "Mas sabemos que é o futuro e que temos que participar", diz o executivo. Primeiramente, a rede quer ganhar corpo e passar a uma atuação regional. A empresa, que tem hoje 21 lojas, pretende chegar ao final de 2008 com 27 unidades. Gil destaca outros exemplo como Armazém Paraíba, rede de departamentos do Grupo Claudino, do Piauí, com 300 lojas, que deve colocar seu site no ar nos próximos meses. Além de gigantes regionais que já são bem sucedidos no e-commerce como Magazine Luiza (SP), Lojas Colombo (RS) e Ricardo Eletro (MG). Só no Nordeste, a Insinuante e a Lojas Maia somam uma força de 400 lojas para dar apoio às entregas dos portais. Segundo o diretor-geral da consultoria e-bit, Pedro Guasti, o movimento de redes varejistas regionais em direção ao mercado eletrônico começou a ficar mais forte em meados do ano passado: "O segmento vem crescendo com muita força nos últimos quatro anos e ninguém quer ficar de fora". No entanto, para brigar pela liderança com grandes redes é preciso, observa Guasti, cuidar do posicionamento da empresa, com ações de marketing on-line, links patrocinados, marcar presença em portais. "Se não fizer isso, vai continuar pequeno." Pioneirismo De acordo com Guasti, das 20 maiores lojas de e-commerce hoje em atuação no Brasil, metade está no mercado virtual. Na opinião do executivo, em dois ou três anos, dificilmente, alguma das grandes varejistas ainda vai estar fora do comércio eletrônico. O que vai variar, segundo ele, é o apetite de cada uma em relação ao canal. "Algumas devem entrar para se posicionar, outras vão montar operações mais consistentes." Mas não há milagres. Redes que hoje já têm bons resultados tiveram um trabalho árduo e ainda continuam se reinventado para melhorar as margens. É o caso do Grupo Pão de Açúcar. Em 1999, a rede foi pioneira ao lançar o Amelia.com, primeira lojas de serviços virtual brasileira. No antigo formato, a loja comercializava desde eletroeletrônicos e alimentos até serviços para casa, como lavanderia delivery. Em 2001, uma estratégia de reestruturação dividiu o site em duas unidades independentes: o Extra.com (equipamentos eletroeletrônicos e informática) e Pão de Açúcar Delivery - PDA (alimentos). Recentemente, a empresa lançou também o portal da marca Taeq, com informações sobre os produtos e dicas sobre como melhorar a qualidade de vida. A meta do Grupo Pão de Açúcar é chegar a um faturamento de R$ 1 bilhão com a internet. Só no ano passado, as vendas do portal Extra.com chegaram a R$ 150 milhões. Para este ano, a expectativa é mais que dobrar este resultado para R$ 350 milhões. Uma estratégia da empresa será a venda de fármacos pelo portal, que deve começar até o final de 2008. O Extra.com faz entregas em todo o País. Já o site PDA atende as regiões da capital de São Paulo, Osasco, Barueri, Santana do Parnaíba, Cotia, Jandira, Indaiatuba, Litoral Paulista e Interior Paulista, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba e Fortaleza. Brasil ainda engatinha Apesar dessa movimentação, o Brasil ainda está engatinhando no comércio on-line. "A B2W, proprietária dos portais Lojas Americanas, Submarino e Shoptime, tem 45% do mercado", afirma Gil. Essa participação é alta quando comparada com os resultados do mercado norte-americanos. "A Amazon.com, maior rede de varejo do mundo, tem um faturamento de US$ 10 bilhões ao ano, e possui apenas 10% do mercado americano", diz o empresário. O restante, segundo ele, é pulverizado entre redes regionais dos mais diversos setores. Essa realidade ainda vai demorar para chegar ao Brasil, acredita Gil. "O comércio eletrônico representa cerca de 3% do varejo total do Brasil, enquanto nos Estados Unidos essa participação é de 6%", afirma. Mas a entrada de novos portais, inclusive das gigantes, deve colaborar para diminuir a concentração e também ajudar a educar consumidores de fora das grandes cidades. "O grande varejo tem maior força para investir em publicidade o que ajudará a divulgar o canal de vendas", diz Gil. "Redes sólidas no mundo físico já tem um ponto a mais com o consumidor", afirma, citando como exemplo os portais CompraFácil, da rede Hermès e o e-Fácil, da atacadista Martins. Crescimento do mercado São vários os fatores que servem de base para que o varejo regional invista no canal de vendas on-line. Dados da consultoria e-bit mostram que no ano passado, o comércio eletrônico faturou R$ 6,3 bilhões, um crescimento de 43% em relação a 2006. Para este ano, a expectativa é alcançar vendas de R$ 8,5 bilhões. No primeiro semestre, já faturou R$ 3,8 bilhões, 45% mais que no mesmo período do ano passado. Em sete anos, o número de internautas quadruplicou, passando de 9,8 milhões em 2000 para 39 milhões até o final de 2007. Desse total, 24% já realizaram compras pelo canal eletrônico, o que significam mais de 9,3 milhões de e-consumidores. Além do mais, 4,6% da população e 13% das residências possuem conexões banda larga no País (ver mais na reportagem abaixo). Juntos, os estados de São Paulo e Rio de Janeiro respondem por 60% das vendas do comércio eletrônico nacional, segundo dados da e-bit. Vender para esses mercados é alavancar as vendas. "Se você não vende para esses mercados, está vendendo para um público pequeno", diz Guasti. Nada indica uma mudança a curto prazo desse cenário. Mas vale ressaltar que dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que s maiores acréscimos nas vendas do varejo em 2007 ocorreram em Alagoas (19,2%), maranhão (14,3%), Mato Grosso do Sul (13,3%), São Paulo (12,5%) e Mato Grosso (12,3%). Esses resultados, aliados ao crescimento da classe C e aos esforços do governo em programas de inclusão digital para o consumidor final e também para as empresas, como o Cartão do BNDES e o Prosoft (Programa para o Desenvolvimento da Indústria de Software e Serviços de Tecnologia da Informação), são mais um alento para as redes que aventuram-se no e-commerce. Colaborou Amarilis Bertachini (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 8)(Regiane de Oliveira e Valéria Serpa Leite)