Título: Nuclep ganha contrato de Alcântara
Autor: Virgínia Silveira
Fonte: Gazeta Mercantil, 17/09/2004, Telecomunicações & Informática, p. A-12

Estatal foi escolhida para reconstruir torre de lançamento no Maranhão, ao custo de R$ 30 milhões. A Agência Espacial Brasileira (AEB) espera iniciar ainda este mês a reconstrução da torre de lançamento de Alcântara, no Maranhão, com a contratação da Nuclep (Nuclebrás Equipamentos Pesados S.A), empresa vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, escolhida para executar o projeto. As obras, segundo o presidente da AEB, Sérgio Gaudenzi, estão avaliadas em R$ 30 milhões e serão financiadas com recursos do orçamento do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE).

A reconstrução da torre ia ser feita inicialmente por uma empresa escolhida por meio de licitação pública, mas a decisão pela Nuclep foi estratégica e teve como objetivo privilegiar uma indústria nacional ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Especializada na fabricação de grandes construções metálicas e de equipamentos pesados para usinas nucleoelétricas, a Nuclep, firmou em agosto contrato para a fabricação do casco da plataforma de petróleo P-51, da Petrobras.

"A Nuclep tem todas as condições técnicas de engenharia pesada para reconstruir a torre de Alcântara e de concluir as obras dentro do prazo que o governo estipulou para o lançamento do VLS até 2006", justificou o Ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos. Segundo ele, além de não existir nenhum impedimento administrativo na contratação da Nuclep, por ser uma estatal ligada ao MCT, o contrato também ajudará a empresa a reativar a sua capacidade instalada.

As especificações técnicas da plataforma estão sendo desenvolvidas pela Aeronáutica, através do Centro Técnico Aeroespacial (CTA). O projeto original da torre, desenvolvido em 1994 pelas empresas Andrade Gutierrez, Akros Engenharia e Innocenti Indústria Mecânica, sofrerá modificações.

A nova plataforma, segundo o CTA, terá uma torre de escape e provisão para utilização futura de combustíveis líquidos, tecnologia que vem sendo estudada em conjunto com os russos para ser incorporada em um dos estágios do foguete VLS, com o objetivo de garantir maior desempenho do veículo. Para ajudar no trabalho de especificação técnica da nova torre foi contratada a empresa russa KBTM. Os sistemas elétricos e de segurança da torre serão aperfeiçoados.

A plataforma de lançamento do VLS é uma estrutura que envolve quatro subsistemas principais: torre móvel de integração, torre de umbilicais, mesa de lançamento e a parte de infra-estrutura. Só a torre móvel, com 36 metros de altura, é equivalente a um prédio de 12 andares. Projetada em estrutura metálica, a torre pesa cerca de 250 toneladas.

A previsão de investimentos para o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) este ano, segundo Gaudenzi, é de R$ 50 milhões. Além da reconstrução da torre, estão previstas obras de infra-estrutura, compra de equipamentos e a construção de um porto, projeto gerenciado pelo Ministério dos Transportes e com orçamento à parte.

O porto permitirá a atracagem de navios para o descarregamento de partes de foguetes, combustível e equipamentos. O empreendimento integra o projeto de transformação de Alcântara num centro espacial para lançamento futuro de foguetes comerciais. Parte dos recursos será aplicada na adequação do CLA para o lançamento do foguete Cyclone-4, em atendimento ao acordo de cooperação firmado entre a Ucrânia e o Brasil em 1999. O acordo já foi aprovado no Congresso e a expectativa da Agência Espacial é que o documento tenha a mesma aceitação no Senado até o final deste ano, o que permitirá o início das obras do novo sítio de lançamento.

A parceria com a Ucrânia, segundo Gaudenzi, também prevê a formação de uma joint venture entre empresas ucranianas e a Infraero, visando a exploração comercial de Alcântara pelo foguete Cyclone-4. Outro aspecto do acordo entre os dois países é a participação do Brasil no desenvolvimento de parte do foguete ucraniano, além de parcerias nas áreas de propulsão líquida, sistemas de guiagem e controle.

"A Ucrânia poderá ajudar o Brasil num projeto futuro de desenvolvimento de um veículo lançador de maior porte, com capacidade de lançar satélites maiores", diz. Movido a propelente líquido, o Cyclone pode colocar satélites de 4,5 toneladas em órbitas baixas, de 700 quilômetros. O VLS lança cargas de até 200 quilos, em órbitas baixas.