Título: IGP-M recua 0,32% e registra a menor taxa desde abril de 2006
Autor: Saito, Ana Carolina
Fonte: Gazeta Mercantil, 28/08/2008, Nacional, p. A6

São Paulo, 28 de Agosto de 2008 - O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) registrou deflação de 0,32%, o menor patamar desde abril de 2006, quando apresentou declínio de 0,46%. A desaceleração de 2,08 pontos percentuais em relação a julho não supera apenas a queda de 2,83% para 0,71% entre março e abril de 1999. Mesmo com o forte recuo, o cenário inflacionário no Brasil ainda exige atenção e não deve mudar a atual conduta do Banco Central (BC) em relação aos juros. Além da volta de pressões dos preços de commodities, a demanda interna aquecida continua como fator de risco inflacionário, na avaliação de economistas. Para o economista da Rosenberg & Associados Luis Fernando Azevedo, a queda de agosto deve ser ponto fora da curva sem chances de se repetir no próximo mês. A expectativa para setembro é de uma pequena deflação ou uma taxa próxima a zero. Azevedo destaca que a desaceleração dos preços de commodities internacionais se concentrou exatamente no período de coleta do IGP-M deste mês, do dia 21 de julho ao dia 20 de agosto. "E nas últimas semanas, houve recuperação lá fora." Nas projeções da Tendências Consultoria Integrada, o indicador deve registrar uma aceleração mais forte, para 0,25% em setembro. Segundo o economista Gian Barbosa, a queda de 4,81% dos preços agrícolas no atacado deve ser bem menor em setembro, movimento que resultará´ no fim da deflação no próximo mês. "Os fundamentos que sustentam os preços das commodities continuam. Há ainda um cenário de demanda razoavelmente aquecida, puxada pelos emergentes", comenta o economista. O Índice de Preços por Atacado (IPA), que representa 60% do IGP-M, apresentou forte desaceleração entre julho e agosto, passando de uma alta de 2,20% para queda de 0,74%. As matérias-primas, com variação negativa de 4,71¨%, foram responsáveis por 80% desse recuo de 2,94 pontos percentuais. Segundo o coordenador de análises econômicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), Salomão Quadros, dos 25 produtos agropecuários pesquisados 17 tiveram queda nos preços. Entre as maiores influências negativas, estão soja (-13,32%), tomate (-30,66%) e milho (-11,46%). Para Quadros, a deflação de 0,32% em agosto marca uma mudança no processo inflacionário do País. Na sua avaliação, com o alívio das pressões relacionadas a fatores internacionais, a inflação doméstica fica mais evidente. "Agora, há uma inflação genuinamente brasileira aparecendo mais", afirma. "Enquanto predominava a alta dos alimentos, isso ficava escondido". Parte dessa inflação doméstica está relacionada à alta de preços administrados e serviços. Além de aumentos nos custos com energia elétrica e telefonia, outros serviços, como alimentação fora de casa e transportes, já registram aumento médio de 5,94% em 12 meses até agosto, ante elevação de 4,23% no ano passado. "Está mais fácil para cumprir a meta de inflação, mas não dá para o BC vacilar", alerta. Quadros cita ainda como fatores de pressão interna o aumento de custos na construção civil. Em agosto, todos os componentes do Índice Nacional do Custo da Construção Civil (INCC) subiram. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 6)(Ana Carolina Saito)