Título: Investimento industrial fica aquém do necessário, diz Iedi
Autor: Cavalcanti, Simone
Fonte: Gazeta Mercantil, 28/08/2008, Nacional, p. A9

São Paulo, 28 de Agosto de 2008 - A taxa média de investimento da indústria brasileira foi de 12,9% entre 1996 e 2006. Um percentual baixo perto dos 20% considerados ideais por Júlio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Esse cenário o preocupa porque é preciso investir mais, especialmente em setores de tecnologia diferenciada e inten-sivos em escala para que eles consigam elevar tanto a sua produtividade quanto as condições de competir. "Mas está havendo menos estímulos. E isso é uma questão de orientação do País", ressalta. A avaliação tem como base uma contradição. Como indica o estudo "Evolução da Estrutura Industrial", o aumento de produtividade (capacidade de produzir mais com o mesmo número de trabalhadores) é obtido com a elevação do volume de investimentos para obtenção de máquinas tecnologicamente mais avançadas. Mas esse raciocínio não se comprovou para aquelas indústrias ligadas às commodities. A conjuntura dos últimos anos com o preço das commodities subindo vertiginosamente impulsionou a indústria extrativa brasileira, que elevou sua eficiência sem necessariamente ter aumentado sua taxa de investimento. Essa razão, calculada pelos investimentos sobre o valor agregado (produção menos os insumos usados), teve destaque em dois setores nos quais a Petrobras está inserida. Foi de 4,1% no setor de extração de petróleo e serviços relacionados, que ficou 412,6% mais eficiente em 11 anos. No de fabricação de coque, refino de petróleo, elaboração de combustíveis nucleares e produção de álcool a taxa ficou em 16,6% e as indústrias relacionadas ampliaram sua produtividade em 1.086,4%. Outros exemplos são os setores de extração de minerais metálicos e os de não-metálicos. O primeiro elevou sua eficiência em 511,4% com inversão média de apenas 8,3%. Já o segundo apresentou a maior taxa de investimento (26,2%) entre todos os setores industriais e acumulou no período analisado alta de 123,3% em eficiência. O resultado dos três primeiros setores, aponta do estudo do Iedi, sugere que os investimentos feitos foram mais eficazes para expandir a produção. Almeida explica que, nessas áreas ligadas às commodities, o ganho de competitividade ocorre na exploração dos recursos naturais favorecida com os preços internacionais muito elevados. Desta forma, não é decisivo fazer investimentos, pois, como ocorre no quadro atual, é possível a uma indústria se manter e fazer lucro. Resultado inchado Esses percentuais obtidos pelos setores extrativistas e a saída do mercado de empresas menos eficientes -pela abertura econômica e os seguidos problemas econômicos na década passada - acabou por inflar a taxa média anual de produtividade, para 10%. Muito alta na avaliação do consultor do Iedi, que estima em 4,2% o crescimento fechado para 2007. "Isso, se confirmado, já seria motivo para soltar foguete", afirma, principalmente porque, entre 2003 e 2007, a média fica em 3,5% anuais. De acordo com Almeida, a indústria vem evoluindo nos últimos anos em produtividade, mas, mesmo assim, perde competitividade por fatores, como a valorização excessiva do real frente ao dólar. "No final quem perde com tudo isso é o País, que reduz empregos, sofrem as empresas de menor porte e deixa de produzir determinado produto de valor agregado", ressalta o economista do Iedi. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 9)(Simone Cavalcanti)