Título: Mais de dois mil municípios terão duelos
Autor: Falcão, Márcio
Fonte: Gazeta Mercantil, 28/08/2008, Política, p. A17
Brasília, 28 de Agosto de 2008 - As eleições municipais de outubro serão marcadas por duelos em quase metade das cidades do País. Em 2.736 (49,2%) municípios, os eleitores só poderão escolher nas urnas entre dois candidatos a prefeito. É o que mostra levantamento divulgado ontem pela Confederação Nacional de Municípios (CNM). A polarização está mais presente em municípios de pequeno e médio porte. Situação diferente vivem eleitores de 136 cidades que só contam com candidaturas únicas e já conhecem seus futuros prefeitos. Os duelos estarão mais presentes em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país. São 469 municípios com dois candidatos. Na seqüência, estão Rio Grande do Sul, com 334 cidades polarizadas e São Paulo, com 246. A concentração da disputa eleitoral entre dois candidatos não é novidade. Em 2004 alcançou 46,66% das cidades e em 2000 foi registrada em 51,71% municípios. A polarização divide opiniões. O presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, avalia que é positiva para o eleitor. Argumenta que com menos possibilidades o cidadão pode esmiuçar o plano de governo de cada candidato e decidir com mais consciência o seu voto. "O resultado disto para o eleitor é bom porque tem como clarear mais as propostas dos candidatos." Alguns analistas políticos, no entanto, acreditam que a polarização é um risco ao eleitor e representaria até uma espécie de plebiscito, dizendo apenas sim ou não para um determinado candidato e seu plano de governo. O cientista político da Universidade de Brasília, Leonardo Barreto, diz ainda que a situação é delicada e pode, ao invés de promover um debate de idéias entre os dois candidatos, aumentar a temperatura da disputa. "Poucas alternativas podem representar em alguns casos prejuízo ao eleitor", reconhece Barreto. "Com a polarização a tendência é que a crítica ao adversário seja uma das armas mais utilizadas." Na avaliação de Ziulkoski, o duelo de candidatos tem sido motivado por acordos políticos e também por uma onda de "denuncismo" que ronda as cadeiras máximas das prefeituras. O presidente da CNM afirma que há receio entre algumas pessoas, inclusive com currículo para ser um bom gestor, de se candidatar, porque, de uma maneira ou de outra, acabam envolvidos em denúncias e escândalos. "Quem acaba se candidatando são os que chamamos de políticos de carreira." Ziulkoski acredita que há uma pressão e um sistema de fiscalização mais rigoroso em cima dos municípios do que nos outros entes, como a União e os governadores. "O Ministério Público fiscaliza a lei, mas no País não se discute a aplicação das leis", disse Ziulkoski. "É preciso mudar este sistema aqui em Brasília. É claro que há má gestão, corrupção, não vou ser hipócrita de falar que não há, mas há também um desconhecimento da realidade dos estados. Muitas vezes o gestor não tem como cumprir determinada exigência e acaba enquadrado dentro de uma irregularidade porque ao invés de colocar três empresas disputando uma licitação para fornecer merenda, colocou duas. O elevado número de prefeitos condenados impressiona. Ao todo, 462 gestores municipais foram enquadrados pelo Tribunal de Contas da União no último ano. São 38,5 por mês, mais do que um prefeito por dia. A maioria esmagadora das condenações são pelo que o TCU chama de "desvio de finalidade". São recursos repassados por ministérios, fundos estatais e autarquias para serem utilizados em finalidade específica, mas que os gestores municipais aplicaram em outros locais ou simplesmente não prestaram contas da execução. Eleitos Segundo a CNM, 136 cidades do País têm somente um candidato a prefeito. O Rio Grande do Sul tem o maior número de cidades nessa situação, com 30, seguido por São Paulo (21), Paraná (19), Minas Gerais (17), Piauí (9) e Santa Catarina (9). Na avaliação de Barreto, esta ausência de candidatos pode explicada por acordos políticos - prevendo a troca de futuros cargos ou outros tipos de barganha política - e até pelo custo das campanhas. "As campanhas estão muito caras e algumas legendas preferem participar de uma espécie de consórcio dividindo não só os custos, como os benefícios garantidos com a eleição do candidato. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 17)(Márcio Falcão)