Título: Cresce o desemprego no DF
Autor: Borba, Julia
Fonte: Correio Braziliense, 28/04/2011, Cidades, p. 42

A chuva nos primeiros meses do ano, a nova postura do governo federal frente aos gastos públicos e o aumento da taxa Selic foram alguns dos motivos usados para justificar o aumento do desemprego no Distrito Federal, entre fevereiro e março. A taxa saltou de 12,7% para 13,4%, ou seja, 11 mil pessoas perderam o trabalho em apenas um mês. São 186 mil desempregados. Em contrapartida, houve aumento no número de carteiras assinadas, o que é considerado um importante avanço nas condições de trabalho.

O setor da construção civil, que vinha registrando grandes expansões no número de vagas, apresentou maior redução no período (-8,8%), com a dispensa de 6 mil profissionais. Na indústria, também ocorreu uma retração: menos 2 mil postos de trabalho entre o segundo e o terceiro mês do ano. Na administração pública, 5 mil servidores foram dispensados, uma redução de 0,5%. Apenas os setores de serviços e de comércio ficaram com saldo positivo, com a contratação, respectivamente, de mil e 12 mil funcionários.

¿Está mais difícil ser contratado ou manter o emprego¿, diz a farmacêutica e funcionária pública Cleide Regina da Silva, 57 anos. Ela conta que presenciou a demissão de alguns colegas nos últimos meses. ¿Tenho dois empregos e houve dispensa no dois. Acho que esse é o momento de o governo intervir¿, defende.

Para o diretor de Gestão de Informações da Codeplan, Júlio Miragaya, o aumento do desemprego é natural para esta época do ano. ¿Isso ocorre em todas as regiões. Mas vejo que, para os próximos meses, o comportamento do mercado estará de acordo com a característica deste governo, que entrou com o pé no freio¿, prevê.

Mudança Na comparação entre fevereiro de 2010 e de 2011, a remuneração também decresceu 3,1%. Segundo o supervisor do Dieese, Clóvis Scherer, o motivo do número estar menor representa uma mudança na composição do emprego na cidade. ¿A indústria e o serviço público, que remuneravam melhor, agora empregam menos. Enquanto isso, aumentou o número de oportunidades com salários menores e isso reduziu a média¿, explica.

Segundo o professor de economia da Universidade Católica de Brasília Adolfo Sachsida, os números obtidos ainda não são preocupantes. ¿Não há um problema, mas um sinal. O mercado começa a questionar se o Banco Central está empenhado em conter a inflação, se o corte de gastos vai mesmo ocorrer. Caso contrário, o desemprego subirá muito até o fim do ano.¿

Os resultados dos últimos 12 meses são mais animadores. Foram criados 29 mil empregos com carteira assinada, 5 mil estavam contratados, mas não tinham registro, e 28 mil autônomos foram regularizados. O desemprego no período caiu de 14,7% para 13,4%.

Os números foram levantados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em parceria com a Companhia de Planejamento do DF (Codeplan) e a Secretaria de Trabalho.

Foco A professora de administração da UnB Débora Barem salienta que o trabalhador precisa mudar o foco para manter o emprego. ¿Não é hora de se preocupar com possíveis demissões. No lugar disso, as pessoas devem se capacitar e buscar ter um perfil de excelência. É isso que irá garantir a vaga¿, aconselha.