Título: Lula pouco fala com equipe de ministros
Autor: Correia, Karla
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/08/2008, Política, p. A7

Brasília, 18 de Agosto de 2008 - Uma estrutura formada por um executivo-chefe, o conhecido CEO (de Chief Executive Officer) e 38 diretores, onde alguns desses funcionários reúnem-se quase diariamente com o executivo principal, enquanto outros colecionam raros encontros na sala de seu superior, em sua passagem pela organização. O estilo de gestão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva - com 38 ministros espremidos nos 19 prédios da Esplanada dos Ministérios - é, para especialistas em gestão empresarial, um modelo de ineficiência e burocracia que fatalmente levaria o empreendimento à falência. Visto, entretanto, em seu ambiente natural, esse modelo apenas reflete as mazelas impostas à administração pública pelo que é visto como o principal propósito de um governante, neste ou em qualquer país democrático: o desejo de perpetuação no poder. "Enquanto o principal incentivo da iniciativa privada é gerar lucro, diminuindo despesas e aumentando eficiência, o incentivo do político é ser reeleito", compara o coordenador das faculdades Ibmec de Minas Gerais, Paulo Henrique Cotta Pacheco. A multiplicação de ministérios, baseada, sobretudo, na necessidade de acomodar apoios políticos dentro do governo, é uma demonstração clara dessa lógica, afirma o especialista em gestão empresarial. Um olhar só um pouco mais aprofundado sobre a agenda presidencial nos últimos anos joga luz sobre peculiaridades de Lula como "CEO" federal. Titulares de ministérios criados no governo Lula como a pasta de Igualdade Racial configuram em raras aparições nas audiências no gabinete do terceiro andar do Palácio do Planalto. Juntos, os três ministros que já ocuparam a pasta - Benedita Silva, Matilde Ribeiro e Edson Santos - aparecem exatas 15 vezes em audiências particulares nos seis anos da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-ministro da Cultura Gilberto Gil foi recebido apenas em seisocasiões pelo presidente Lula. No mesmo período, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci, foi recebido 159 vezes no gabinete presidencial. Sem contar, bem entendido, com as reuniões extra-agenda. Com um ano e cinco meses de governo, o ministro da Comunicação, Franklin Martins, foi recebido 47 vezes, enquanto José Gomes Temporão, da Saúde, apenas 12. "Como em qualquer governo e em muitas empresas, a comunicação, o marketing, ocupam espaço privilegiado nas prioridades do comando central do governo. O Planejamento e os assuntos econômicos em geral têm destaque porque o desempenho da economia é fundamental para manter o capital eleitoral de Lula. O restante da agenda governamental vai para o fim da fila", comenta Cotta Pacheco, que ressalta a falta de comunicação entre as diversas áreas do governo como o principal sintoma da ineficiência do modelo adotado por Lula. Para o especialista, as dificuldades enfrentadas pelo governo com o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) são exemplo claro dessa ineficiência. Ele cita os entraves entre o Ministério de Minas e Energia, com uma longa lista de projetos a executar no plano, e a pasta de Meio Ambiente, com a demora na liberação das licenças ambientais desses projetos, como amostra do problema. "Está claro que o governo não conversa internamente. Isso é resultado de uma máquina pesada demais, com gerentes demais e excessivamente centralizada no presidente e na chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff", argumenta o coordenador do Ibmec. A centralização diminui o poder dos "diretores" em tomar providências. O tamanho da estrutura aumenta o caminho entre os problemas e quem tem de fato o poder de decisão nas mãos. "Seria perfeitamente possível cortar pelo menos uns 20 ministérios dessa estrutura e isso não faria falta a ninguém. Pelo contrário, a eficiência aumentaria muito", acredita o coordenador do Ibmec. Além dos problemas de comunicação, diversos ministros agem como a maioria dos deputados e senadores, ficam três dias em Brasília e o restante da semana em seus estados de origem. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)(Karla Correia)