Título: Como empresa, o governo federal já estaria falido
Autor: Correia, Karla ; Seabra, Marcos
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/08/2008, Política, p. A7

Brasília e São Paulo, 18 de Agosto de 2008 - A adoção do pensamento exclusivamente empresarial na gestão pública é apenas uma utopia "que todos nós, como contribuintes, desejaríamos ver aplicada", reconhece Paulo Henrique Cotta Pacheco, do Ibmec. "Ainda assim, existem princípios de eficiência que poderiam perfeitamente ser aplicados na esfera pública, a bem da eficiência", pondera. Os especialistas são unânimes em afirmar que o pior efeito de uma estrutura pesada sobre a administração pública é o aumento de gastos. Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, um governo menor e o controle das despesas do governo poderia, por exemplo, reduzir os juros no País. "A Fiesp já mostrou por meio de estudos que um controle de gastos que eleve o superavit primário em 1% a mais do PIB permite uma redução da Selic de 2% ao ano. Acreditamos que a saída é uma maior coordenação entre as políticas monetária e fiscal", afirma. O especialista em políticas públicas e professor na escola de administração da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, Nelson Marconi, avalia que já estaria na "bancarrota" uma empresa que adotasse a estrutura administrativa do governo federal. "Com certeza seria uma empresa inviável do ponto de vista administrativo e só não estaria também no aspecto financeiro porque a fonte de recursos é praticamente inesgotável", disse Marconi. Para o professor da FGV, pelo fato de não faltar dinheiro nos cofres da União, o governo não se preocupa em gerir bem a máquina administrativa. "A grande diferença para uma empresa é que a receita é cada vez maior e a fonte não acaba, vai daí não se preocuparem com a gestão", acrescenta o professor. Para ele, o governo não se preocupa em saber quanto custa sustentar a estrutura. "Não há, por exemplo, um sistema que apure os custos, se há eficiência ou não na máquina", diz Marconi. A criação de ministérios, por exemplo, tem motivação política na avaliação do professor da FGV. "A motivação para a criação de ministérios deixa transparecer apenas a motivação política, onde se pode criar cargos para uma acomodação política", critica. Ainda que possa não concordar com o excesso de intervenção do governo em alguns setores, não haveria necessidade da criação de ministérios se a opção fosse essa. "É ótimo que o governo queira apoiar o setor pesqueiro, por exemplo, mas não há a necessidade da criação de um Ministério da Pesca para isso", acredita Marconi. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)(Karla Correia e Marcos Seabra)