Título: Presidência da Casa divide peemedebistas
Autor: Falcão, Márcio
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/08/2008, Política, p. A11

Brasília, 18 de Agosto de 2008 - A seis meses das eleições para as presidências da Câmara e do Senado, líderes de sete partidos fecharam um acordo para diminuir o tom da pré-campanha pela sucessão até o fim das eleições municipais de outubro. Caciques do PMDB, PT, DEM, PR, PP, PDT e PCdoB, se reuniram, na última quarta-feira, e avaliaram que o debate está avançado e pode ser prejudicial até para o andamento da pauta de votações nas duas Casas. Apesar do entendimento oficial, nos bastidores, a corrida continua intensa e ganha novos personagens. A deputada Rita Camata (PMDB-ES) foi a última a se lançar como alternativa para ocupar a cadeira máxima da Câmara. Sem muito alarde, a deputada tem conversado com correligionários na tentativa de brigar pela indicação do partido com o deputado Michel Temer (SP). Nas conversas com seus pares, Rita foi aconselhada a ser discreta, trabalhar nos bastidores e evitar bater de frente com Temer. Se a candidatura ganhar fôlego, deve lançar mão de um discurso feminista. Sem querer polemizar a discussão, Rita - que ganhou destaque político, em 2002, como vice na chapa de José Serra (atual governador de São Paulo) à Presidência da República - é cautelosa ao assumir a candidatura. "É muito cedo", afirma a deputada. "É uma discussão que vai ser feita num momento adequado. Sei que a Câmara tem um papel importante de resgatar inclusive a importância do seu papel, numa democracia que se consolida ainda, e eu espero, no momento oportuno, de estar participando e contribuindo para esse debate também", acrescenta Camata. A campanha de Rita, dizem peemedebistas, por enquanto, não empolga. Acreditam que a Casa precisa de figura de peso e polarizam a disputa interna entre Temer e o primeiro-secretário Osmar Serraglio (PR). Serraglio também corre por fora, mas aposta em uma estratégia ousada. Tem procurado governistas e colocado sob suspeita a lealdade de Temer ao governo Lula. O motivo: o apoio dos peemedebistas paulistas - grupo do presidente do partido - a reeleição do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM). Pelas mãos do ex-governador Orestes Quércia, deixaram de lado a campanha da petista Marta Suplicy pela Prefeitura de São Paulo. No entendimento de Serraglio, essa união seria um sinal de que o PMDB paulista - leia-se Temer - poderia trazer complicações nas votações na Câmara nos dois últimos anos do governo Lula. Questionado sobre a possível disputa, Serraglio nega que tenha lançado este argumento e diz que a sucessão do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) ainda não começou. "Esta questão, agora, é inoportuna", afirma Serraglio. Para deputados ligados a Temer esta teoria não faz sentido, uma vez que o presidente do partido conta com uma aceno explícito do Palácio do Planalto e, especialmente, do PT para sua eleição. Uma retribuição. A união de PT e PMDB, as duas maiores bancadas da Câmara, foi que permitiu a eleição de Chinaglia. O PMDB, maior bancada e que teria direito ao cargo, abriu mão para que em 2009, Temer ocupasse a vaga. O acordo de cavalheiros previa que em troca, o PT indicaria o presidente do Senado, com apoio dos peemedebistas. O PMDB na Casa Alta está rachado e alguns peemedebistas - ligado até ao presidente do Senado, Garibaldi Alves (RN), defendem que as Casas tratem a questão isoladamente. Por lá, PMDB e os partidos de oposição têm mais cadeiras do que o PT e prometem dificultar a chegada do petista Tião Viana (AC) ao cargo. Temer tem a seu favor na disputa entre os senadores o fato dos peemedebistas não terem um nome forte, o que facilitaria a confirmação do acordo da atual composição da Câmara. As incertezas do PMDB, até o momento, fortalecem o deputado Ciro Nogueira (PP-PI), principal adversário de Temer. Se as eleições fossem hoje, Ciro, conhecido como príncipe do baixo clero (grupo de parlamentares que não ocupam cargos de destaque na Câmara nem nos partidos políticos), é apontado como o favorito. Conseguiu prestigiar os deputados - distribuindo lembranças em seus aniversários e inflando as discussões do aumento da verba de gabinete para os deputados - e aos poucos desvincular sua imagem do ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti, que renunciou ao mandato para não ser cassado, depois de que foi denunciado por cobrar propina para prorrogar a permissão para um empresário manter em funcionamento um dos restaurantes da Câmara. Sem reconhecer publicamente o favoritismo, Ciro diz que deve mergulhar na campanha em novembro e com uma plataforma para recuperar a imagem da Casa. "Vamos quebrar resistências e apresentar propostas para fortalecer o Legislativo", promete. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 11)(Márcio Falcão)