Título: Custos em alta pressionam as siderúrgicas
Autor: Collet, Luciana
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/08/2008, Indústria, p. C2

São Paulo, 18 de Agosto de 2008 - Os resultados das siderúrgicas brasileiras no primeiro semestre deste ano foram todos positivos, até acima do esperado por analistas de mercado, devido principalmente à elevação da demanda nacional e aos reajustes de preços do produtos laminados. Para o segundo semestre, porém, o aumento dos custos e a possível desaceleração do crescimento do consumo em decorrência do ambiente macroeconômico internacional adverso podem reduzir a rentabilidade das empresas. "Ainda assim, é um cenário muito positivo, que deve garantir alta da receita e da geração de caixa, mas a eficiência operacional, a rentabilidade pode ser levemente reduzida", afirmou o analista de siderurgia da Brascan Corretora, Rodrigo Ferraz. Somente no segundo trimestre, a margem Ebitda da Gerdau cresceu 3,6 pontos percentuais na comparação com igual período do ano passado, para 24,7%. Na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), o indicador subiu de 43% para 48%. Já a Usiminas apresentou evolução mais tímida, de 0,2 ponto percentual. Ferraz ressaltou que a partir do terceiro trimestre, os custos de produção da empresa devem aumentar, uma vez que começaram a valer os reajustes do carvão, em aproximadamente 200%. Além disso, o coque metalúrgico também tem apresentado alta. "As empresas devem ter acumulado estoques para reduzir o impacto deste aumento, mas de qualquer forma deverá haver um impacto e é possível que percam alguma margem, principalmente no quarto trimestre." Entretanto, entre o terceiro e o quarto trimestres as empresas devem obter ganhos mais expressivos de receita e de geração de caixa, como reflexo, durante todo o período, dos reajustes aplicados entre o final de março e o início de agosto. Admitem até a possibilidade de novos aumentos nos preços. "As siderúrgicas norte-americanas já indicaram novos reajustes, o que abre espaço para que se apliquem reajustes também no mercado interno", afirmou na sexta-feira Otávio Lazcano, diretor financeiro da CSN, durante conferência telefônica que comentou os resultados da companhia no segundo trimestre. Já o vice presidente de finanças da Gerdau, Osvaldo Schirmer, disse, em evento semelhante, realizado uma semana antes, que o grupo não possui uma posição firme sobre um possível aumento de preços. "Os Estados Unidos emitem sinais mais contrastantes, já os emergentes dão sinais mais positivos", disse, ao avaliar o cenário brasileiro e internacional para o setor. Já o analista da Unibanco Corretora, Rogério Zarpao avalia que a Gerdau está em posição de elevar os preços e aproveitar a robusta demanda da construção civil brasileira. "Neste sentido, nós já estamos considerando o terceiro round de aumentos no preços de 20%, recentemente anunciados para 1 de agosto e pensamos que um quarto round é provável para este ano", afirmou em relatório. O desempenho da Gerdau no segundo trimestre foi acima do esperado por analistas, devido principalmente ao forte crescimento das vendas no Estados Unidos e Canadá, de 43,8% em volume e de 58,7% em receita, para US$ 4,17 bilhões, em parte devido às recentes aquisições na região. "Não ocorreu o esperado impacto negativo da crise norte-americana, em parte porque o reportado ainda é reflexo de vendas fechadas antes da crise", disse Ferraz. "Mas ainda pode haver algum impacto nos próximos trimestres, mas nada de muito significativo", completou Já a CSN e a Usiminas têm se beneficiado basicamente do forte crescimento da demanda brasileira tanto por bens duráveis como por bens de capital. Para atender o mercado interno, as duas produtoras de aços planos - que produzem insumos para a indústria automobilística, de máquinas e equipamentos e de linha branca - reduziram exportações. A Usiminas vendeu no País 87% de suas vendas do segundo trimestre, de toneladas enquanto na CSN 92% das vendas consolidadas da empresa foram ao mercado interno. Apesar da demanda forte, o diretor comercial da empresa, Luiz Fernando Martinez, garantiu que não houve problema de abastecimento. "Em galvanizados, ainda temos capacidade ociosa para atender o crescimento do setor automotivo." O Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), que reúne os principais produtores brasileiros de aço, reduziu na semana passada a previsão de vendas internas de aço para 2008, de 13,1% para 12,5%, ou 23,1 milhões de toneladas. Como no primeiro semestre a entidade apontou vendas recordes de 11,49 milhões de toneladas, ou alta de 18,4%, o segundo semestre deve indicar desaceleração. No entanto, as empresas devem ser beneficiadas por suas divisões de mineração, sempre mais fortes. Enquanto a Usiminas passou a usar em suas usinas o minério das minas da J.Mendes, adquiridas em fevereiro, a CSN deve obter faturamento extra com o aumento das exportações de minério de ferro. No primeiro semestre, a empresa vendeu 7,7 milhões de toneladas, dos quais 6,1 milhões de toneladas foram embarcadas. No segundo semestre as exportações vão dobrar, para 12 milhões de toneladas, informou o diretor de mineração da empresa, Jayme Nicolato,. As vendas internas de minério cresceram 12% ante o primeiro semestre, para 1,8 milhão de toneladas. (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 2)(Luciana Collet)