Título: Universidades facilitam crédito educativo
Autor: Oliveira, Regiane de ; Costa, Álvares da
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/08/2008, Administração & Serviços, p. C5

18 de Agosto de 2008 - O sistema de crédito educativo popular voltou a chamar a atenção do País após a institucionalização do Programa Universidade para Todos (Prouni), em 2005, que garante o pagamento de pelo menos 50% valor da mensalidade de estudantes universitários. Neste período, já foram realizadas mais de 4,6 mil contratações, número que despertou a atenção das universidades privadas e instituições financeira. De olho no público que quer cursar uma faculdade, mas não tem condições para pagar, estão sendo desenvolvidas linhas de crédito que atendam à necessidades desses alunos e garantam salas cheias. Dados do Banco Central mostram que o mercado de crédito total para a pessoa física movimente cerca de R$ 350 bilhões no Brasil. E a expectativa do mercado é que o segmento de crédito educativo atinja R$ 1 bilhão rapidamente. A Veris Educacional, proprietária do Ibmec, IBTA, Uirapuru e Metrocamp, participa dos programas pilotos dos bancos Santander, Unibanco e ABN Amro Real, além de ser uma das instituições cadastradas no PraValer, da Ideal Invest. Segundo Eduardo Wurzmann, presidente da entidade, a meta é dobrar o número de alunos financiados com crédito universitário neste ano. Hoje, cerca de 1,5% da base de 16 mil alunos recorreram ao crédito educativo. Só no IBTA, que oferece cursos de graduação e tecnólogos em São Paulo, essa porcentagem é de 4%. Os números, porém, estão muito aquém da média nos Estados Unidos, que chega a 20%. Esse potencial de crescimento vem movimentando outras universidades, como o Centro Universitário Moura Lacerda, de Ribeirão Preto, que participa de um projeto piloto com o Santander para oferecer crédito educacional para seus alunos. O projeto prevê que as instituições financiarão a educação superior de alunos mais carentes até o dobro do prazo da duração dos cursos. O aluno pagará mensalmente no máximo 60% do valor normal das mensalidades. Além da Moura Lacerda, a Anhanguera Educacional também participa do projeto piloto. A meta da instituição financeira é, em caso de sucesso, implantar o projeto em grande escala em todo o País. "Trata-se de um projeto social, pois há subsídios de ambas as instituições", diz Glauco Eduardo Pereira Cortez, reitor do Moura Lacerda. Segundo Cortez, inicialmente o programa não estará aberto a todos os sete mil alunos da instituição, mas apenas aos 800 a mil alunos ingressantes no segundo semestre deste ano. "A minha expectativa é de que o projeto dê certo e de que, a partir do primeiro semestre de 2009, a gente possa abrir o financiamento a todos os alunos", afirma o reitor. Com o programa, chamado Financiamento da Educação Superior (FES), a mensalidade do curso de Arquitetura e Urbanismo do Moura Lacerda, que custa hoje R$ 729,09, passará a R$ 430,16, com uma redução de 41%. Esse curso tem quatro anos de duração. O aluno, portanto, terá oito anos para pagar o financiamento. O curso de Educação Física terá uma parcela de R$ 332, em comparação com uma mensalidade de R$ 562. Para se cadastrar ao programa, os alunos têm que, além de estar matriculado e de preencher um questionário socioeconômico, comprovar que não tem pendência com o sistema financeiro de proteção ao crédito. Além de garantir que apenas 15% de suas renda pessoal ou familiar será destinada ao crédito educacional. Fábio Mattos Cavalheiro, superintendente do Santander Universidades, afirmou em comunicado que a escassez de financiamento no setor ocorre porque os sistemas de crédito educativo são, ao mesmo tempo, instrumentos financeiros e sociais. "Precisamos criar uma linha suportável para o aluno, com juros viáveis, mas sempre somando a margem de risco e retorno", afirma. Segundo Cavalheiro, "o Santander tem foco prioritário no desenvolvimento desse tipo de ação. Precisamos estar juntos nessa iniciativa, com dedicação diária, para que o projeto vá adiante." Banco Real O ABN Amro Real também desenvolve uma linha de crédito piloto, batizada de Real Crédito Graduação, em parceria com a Universidade Católica Dom Bosco, localizada em Campo Grande. O programa tem como foco atender alunos carentes e proporcionar a redução de 50% a 60% no valor normal da mensalidade, com taxas de juros de 1,49% por mês. A exigência para ter o crédito aprovado é que o aluno seja correntista da instituição. A universidade recebe da instituição financeira o valor do semestre à vista, o que pode contribuir para uma sensível redução na inadimplência, já que a cobrança passa a ser feita pelo banco. O ABN Amro tem como parceiro no Real Crédito Graduação o IFC, braço financeiro do Banco Mundial, que divide eventuais prejuízos. Ideal Invest Enquanto os bancos ensaiam sua entrada no segmento de crédito educativo, a Ideal Invest, empresa especializada em soluções de crédito para o setor de educação, vem aumentando sua carteira de clientes com o produto PraValer. Pequena perto do potencial das concorrentes, a empresa foi criada em 2001 para oferecer crédito às universidades com recursos de Fundos de Investimento em Direito Creditório (FIDCs), voltado para a expansão dos negócios, inclusive aquisições, ou mesmo quitação de dívidas. No final de 2006, a empresa lançou crédito educativo PraValer, para financiamento de graduação. O programa permite que o aluno pague apenas metade do valor integral da mensalidade. O valor restante será financiado para até o dobro do período de duração de seu curso. A mensalidade média dos cursos de alunos que contrataram o PraValer é R$ 686,00 - 25,6% maior que a mensalidade média dos estudantes que não contam com o crédito. "O objetivo do fundo é comprar direitos creditórios originados por bancos e financeiras para emprestar para os estudantes", explica Oliver Mizne, diretor da Ideal Invest. Assim os estudantes não precisam mais escolher as universidades pelo preço. "Temos umas lista de 5,9 mil cursos cadastrados em 101 instituições de ensino superior em 130 municípios." A Ideal Invest opera como um correspondente bancário do Banco ABC Brasil. "Os contratos são feitos na modalidade de CDC (crédito direto a consumidor), como é feito para o financiamento de veículos", conta Mizne. A diferença é que as empresas que trabalham com financiamentos de veículos têm como garantia o próprio ativo, enquanto no caso do crédito educativo, Mizne garante que a garantia é a carreira do aluno. "Sei que parece utopia mas, ainda que não haja nada que possa ser alienado, estamos falando de um mercado que nos Estados Unidos movimenta US$ 102 bilhões e também tem muito potencial no Brasil", afirma, referindo-se a levantamento de dados da DeVry University, dos quais 17% dos recursos são oriundos da iniciativa privada. No entanto, nem tudo é baseado na boa fé. A empresa exige para o aluno a figura de um garantidor - fiador. Ambos têm que ter o nome limpo e uma renda que, somada, seja ao menos duas vezes o valor da mensalidade. O executivo afirma que 84% dos alunos que tomam crédito da Ideal Invest são filhos de casais que não puderam freqüentar a universidade. Mizne diz que apesar de críticas quanto ao modelo de educação superior brasileiro, as estatísticas são promissoras para os formados. "Em média, quem faz faculdade no Brasil recebe de volta o valor do investimento no prazo de dois anos, após entrar no mercado de trabalho. Nos Estados Unidos são três anos. A diferença é que educação é um bem escasso no País", afirma. Além disso, o valor dos cursos universitários brasileiros são bem mais competitivos em relação a outros países. Como exemplo, ele afirma que no Brasil há vários cursos com mensalidade de R$ 500, o que daria um valor R$ 24 mil, sem considerar a inflação, no período de quatro anos. Nos Estados Unidos, um curso equivalente não sai por menos de US$ 70 mil. A "vantagem" brasileira tem um custo. O aluno tem de pagar o custo de manter o FIDC aberto, além do IPCA mais uma taxa de juros de 0,8% ao mês. Em 2007, dez mil alunos se cadastraram no PraValer. Neste ano, a empresa já teve 107 mil alunos cadastrados, sendo que 25 mil tiveram o crédito aprovado e se matricularam na universidade. Hoje cerca de 1 milhão de alunos já participam da rede PraValer, o que representa um quase um terço dos 3,5 milhões que anualmente se matriculam no ensino superior. "Consideramos que desse total, 20% são os alunos que não precisam se preocupar com recursos para o ensino; outros 20%, formam a base mais carente da população, que é atendida pelo governo", conta Mizne, referindo-se ao Programa de Financiamento Estudantil (Fies), criado em 1999, em substituição do Programa de Crédito Educativo (Creduc). Em 2005, o Fies passou a conceder também bolsas parciais de 50% para os estudantes que participam do Prouni. Ainda assim, "60% dos estudantes precisam de uma ajudinha do setor privado. O valor da carteira da empresa, até março de 2007, chegou a R$ 150 milhões, sendo que cerca de 30% do negócio proveniente do crédito estudantil. O PraValer é subsidiado pelas universidades, que pagam uma comissão pelo número de estudantes. (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 5)(Regiane de Oliveira e Edson Álvares da Costa)