Título: Corrida permanente contra o tempo
Autor: Feltrin, Ariverson
Fonte: Gazeta Mercantil, 10/09/2008, Editorias, p. A2

10 de Setembro de 2008 - Greves pipocaram na semana passada pelos lados da indústria automobilística. O estouro foi até maior em praças fora do ABC paulista, caso do Paraná, especificamente, transformado em terceiro pólo produtor de veículos, só atrás de São Paulo e Minas. Os metalúrgicos paranaenses cruzaram os braços para conseguir grande parte do que reivindicavam. Acabaram levando um aumento que incorpora a taxa de inflação nos últimos 12 meses mais reposição de perdas relativas a dissídios coletivos anteriores e um abono de quebra. Greves no setor automobilístico, de há muito fora da agenda sindical, voltaram, ainda que tímidas, em momento apropriado. Afinal, as montadoras estão produzindo e vendendo como nunca e, neste momento, faz sentido o empregado negociar a engorda de sua remuneração. Fases como as que estamos vivendo, de produção acelerada, podem ser rarefeitas e fugazes. Portanto, ou se negocia vantagem agora ou não se sabe quando haverá nova oportunidade. Tomara que boas oportunidades se repitam e afastem o trauma de anos seguidos de baixa empregabilidade que esvaziou estoques de profissionais. Estamos vivendo um período de franca recuperação econômica e, se a crise internacional não atrapalhar, o crescimento, ainda que em ritmo menos intenso, deve ter continuidade. Seja como for, há uma corrida contra o tempo para formar novos quadros de pessoal realmente qualificado. A escassez de pessoal é um mau ou um bom problema? Prefiro entender que é um bom problema, pois resulta de uma atividade econômica aquecida, com um mercado fértil em oportunidades, principalmente para os mais jovens. Depois de décadas de inflação galopante, o saldo do Brasil na criação de empregos foi negativo. A demanda era muito superior à oferta e não foram poucos os brasileiros que foram procurar emprego no exterior. Não havendo perspectiva de ocupação, o País, em época ainda recente, produziu contingentes de órfãos do emprego, agravou o quadro de desempregados e acelerou a informalidade. Pior ainda: a falta de perspectivas sociais em algum grau pode ter servido de agente propagador de descaminhos da juventude. Dirão alguns, olhando o passado distante, que os salários de hoje, nas montadoras, não chegam aos pés dos recebidos nos tempos em que o atual presidente da República dirigia o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. É verdade. Ainda assim, o emprego no setor é muito buscado por motivo bastante prático. Junto com o salário pago vem um pacote de benefícios que inclui a participação nos lucros e nos resultados. Ano passado, segundo balanço social divulgado pelo Instituto General Motors, a empresa, no Brasil, pagou a título de participação nos resultados um total de R$ 122,853 milhões para um quadro de 21.274 empregados. A soma dividida pelo quadro resulta no equivalente a R$ 5,8 mil por empregado a título de participação. Considerando o salário mensal inicial de parte do efetivo de chão de fábrica que é recrutado, a participação nos resultados pode representar mais cinco salários por ano. Empregos que ajudam o brasileiro a crescer e a tirar o pé da lama são sempre bem-vindos. ´É o caso do Estaleiro Atlântico Sul, encravado no porto de Suape, a alguns quilômetros de Recife. O estaleiro, no auge, em 2010, terá 5 mil metalúrgicos, trabalho de primeira linha e brotado numa região pobre de oportunidades, onde os governos costumam ser os maiores empregadores. Se o Brasil crescer de forma consistente, como esperamos, a escassez de mão-de-obra qualificada passará a ser um desafio a ser vencido permanentemente. Mesmo porque o nível de qualificação irá sempre se elevar. kicker: Empregos que ajudam o brasileiro a crescer e a tiraro pé da lama são sempre bem-vindos (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 2) ARIVERSON FELTRIN* - Editor de Infra-estruturaE-mail: afeltrin@gazetamercantil.com.br)