Título: Setores intensivos em capital puxam a criação de empregos
Autor: Americano, Ana Cecilia
Fonte: Gazeta Mercantil, 10/09/2008, Nacional, p. A4

Rio de Janeiro, 10 de Setembro de 2008 - No front do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mais algumas boas notícias foram divulgadas, ontem, com os resultados de julho da Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes). Os números indicam que o emprego industrial tem crescido de forma consistente, na maior parte dos 18 segmentos estudados e dos 14 estados estudados. O pessoal ocupado assalariado - um grupo que inclui tanto os empregados mensalistas quanto os trabalhadores horistas - viu o emprego industrial expandir-se em 0,7% em julho, em relação a junho. "É o segundo melhor resultado depois de maio de 2004, quando o índice cresceu 1,0%. No entanto, àquela época, o crescimento dava-se sobre a base de 2003, ano que registrou um crescimento modesto", ressaltou a técnica Denise Cordovil, economista da coordenação de Indústria do IBGE. "Julho é a segunda taxa positiva consecutiva; o crescimento de junho em relação a maio foi de 0,5% este ano", acrescentou. "Esse crescimento já tem impacto, inclusive, na média móvel trimestral, um indicador de tendências que, em julho, ficou em 0,4%, ante uma variação entre zero e 0,2% desde o início do ano", comparou Denise. Os dados de julho demonstram que não apenas o crescimento é generalizado - à exceção de alguns importantes setores de mão-de-obra intensiva como têxteis, vestuário, couros e madeira - como os segmentos que mais contribuíram para as taxas positivas atuais são aqueles que tradicionalmente não são grandes empregadores, trabalham com produtos de maior conteúdo tecnológico e de maior valor agregado: máquinas e equipamentos, aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações. Melhor ainda: as taxas de crescimento de julho dão-se sobre os resultados de 2007, um ano que também apresentou resultados positivos. Ou seja, o crescimento se dá sobre o crescimento do ano passado. Já quando se compara julho de 2008 com julho de 2007 o crescimento da ocupação industrial é de 2,8%. Trata-se da 25ª vez consecutiva em que esta taxa é positiva. As oportunidades na indústria se ampliaram para trabalhadores em 11 dos 14 estados acompanhados. São Paulo e Minas Gerais foram as áreas que mais contribuíram para a formação da taxa com 4,3% e 6,6%, respectivamente. Também explica o crescimento da ocupação industrial o fato de a expansão ter se dado, ainda, em 13 dos 18 setores pesquisados. Em relação a julho de 2007, os segmentos que apresentaram maior destaque foram máquinas e equipamentos, com 12,3%; meios de transporte (leia-se indústria automobilística), com 9,6%; máquinas e aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações, com 11,6%; e produtos químicos, com 11,1%. "O emprego nesses setores vem crescendo impulsionado pela produção. De um lado isso foi possível devido à expansão do crédito e da renda, o que permitiu um maior consumo de bens duráveis; e, de outro, isso de deu em função dos investimentos na indústria, que se traduzem em maior demanda por máquinas e equipamentos, terem sido contínuos", comenta a economista do IBGE. Folha salarial maior Também a folha de pagamento nas indústrias aponta para um crescimento. O IBGE contabiliza nesse indicador não apenas os salários, mas, ainda, direitos como 13 salário, horas extras, indenizações, comissões e participação nos lucros. Em julho, ela se expandiu 1,3% em relação a junho. Trata-se da terceira taxa positiva em seqüência, o que acumula uma expansão de 2,3% entre abril e julho. Quando a folha de julho de 2008 é confrontada com a de um ano antes, o crescimento é de 6,9%, informa a Pimes. Mais uma vez, São Paulo e Minas lideram nesse caso, com o crescimento de 7,4% e 11,4%, respectivamente. O indicador, aliás, foi positivo em todos os 14 estados estudados e em 13 dos 18 segmentos avaliados. As maiores contribuições vieram dos meios de transporte (11,9%), produtos químicos (16,6%), máquinas e equipamentos (8,3%) e minerais não-metálicos (18,2%). Demissões Para Rogério Cesar de Souza, economista e consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a Pimes traz resultados bastante positivos. "Isso é indiscutível", admite. Contudo, ressalta, a pesquisa também aponta para o desempenho negativo de setores como calçados, couro, vestuário e madeira. "Esses setores têm dispensado pessoas de maneira bastante acentuada, pois sofrem com o câmbio, tornando-os menos competitivos", frisa. Com o agravante de terem uma importância social grande, por exigirem mão-de-obra intensiva e por serem disseminados em várias regiões do País. Também Luciana de Sá, diretora de Desenvolvimento Econômico da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), comemora os resultados do IBGE. "Os dados revelam um crescimento saudável da ocupação industrial, grandemente pautado sobre o investimento industrial, o que vai permitir ao País um aumento de oferta nos próximos meses", resumiu. Segundo ela, o emprego industrial deve permanecer crescendo a taxas satisfatórias. "Não se viu até aqui qualquer impacto da alta de juros. Há setores muito favorecidos pelo crédito ou que guardam forte relação com o investimento industrial. E isso é extremamente positivo", afirmou. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Ana Cecilia Americano)