Título: Indústria tem espaço para produzir mais
Autor: Saito, Ana Carolina ; Assis, Jaime Soares de
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/08/2008, Nacional, p. A4

29 de Agosto de 2008 - A indústria de transformação tem espaço para expandir a produção e suportar o aquecimento da demanda. Apesar de os dados do Nivel de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) medido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e pela Fundação Getulio Vargas (FGV) indicarem que as empresas estão perto do limite, eles não refletem a condição real do parque industrial. Por conta disso, a Fiesp deverá reformular a metodologia de captura das informações para que seja possível ter uma leitura mais precisa deste indicador. A série histórica apurada pela entidade mostra as fábricas operando com 84% de sua capacidade, em média, o maior percentual desde 2001. Para Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Economia (Depecon) da Fiesp, o patamar de ocupação das fábricas "não ultrapassa os 70%, se for bem medido". O índice de utilização é uma das referências utilizadas pelo Banco Central (BC) para dosar os aumentos da taxa Selic se houver limitação da indústria em atender o mercado. "É um dado muito importante em termos econômicos e sabemos que o número que temos não é adequado", admite Francini. No mês de julho, o nível de ocupação da capacidade da indústria paulista, com ajuste sazonal, fechou em 84%, acima dos 83,7% registrados no mês anterior. Segundo Francini, o indicador, no entanto, não incorpora a elasticidade que as indústrias têm para ampliar sua produção e atender a demanda com novos turnos, suporte de mão-de-obra terceirizada, eliminação de gargalos e adoção de horas extras. Segundo a sondagem realizada pela FGV, o nível de utilização da capacidade instalada da indústria atingiu 86,5% em agosto, ante 85,7% no mesmo período do ano passado. Para o coordenador do Núcleo de Pesquisas e Análises Econômicas da FGV, Aloisio Campelo, não existe hoje um número "mágico" que defina os limites da capacidade da indústria para atender a demanda. Segundo ele, é necessário combinar outras variáveis como eficiência logística, número de turnos de trabalho, nível de estoque e escassez de matéria-prima. Nesse sentido, Campelo diz que, embora o Nuci se mantenha em um patamar elevado, a situação não é preocupante pois os estoques da indústria estão hoje mais equilibrados. O levantamento da FGV mostra que em agosto o nível de estoque se manteve em 99 pontos, sendo que 6% dos entrevistados relataram estoque excessivo e 5%, insuficiente. "Embora o nível de utilização continue alto, não é um quadro de superaquecimento." Campelo diz que alguns setores, como o de material de transportes por exemplo, já apresentam estabilidade ou até queda no Nuci. Por outro lado, se uma área merece atenção é a de materiais para construção. Em agosto, o nível de utilização do setor chegou a 91,4%, o maior patamar desde 1993. A pesquisa Sensor, da Fiesp, mostra também um nível elevado de estoques (47,9%), "acima do desejado", avalia Francini. Este dado mostra que o impacto da demanda será absorvido sem percalços pelas empresas. "Há algum tempo, havia um prazo maior para a maturação de investimentos. Hoje, as respostas são mais rápidas e as empresas podem operar em níveis elevados de capacidade", diz o economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI) Paulo Mol. Os cálculos da CNI consideram o uso da capacidade instalada em condições normais, sem, por exemplo, levar em conta o acréscimo de turnos de trabalho ou aumento de produtividade. "A capacidade em condições extraordinárias não é medida." O Nuci da CNI também se mantém em patamar elevado, em 83%. "Está alta mas não está crescendo", diz Mol, ressaltando que é importante para a indústria trabalhar em níveis baixos de ociosidade. "Significa redução de custos fixos."A Fiesp iniciou um trabalho para reformular a maneira de captura do nível de utilização da capacidade instalada. "Estamos estudando a metodologia e vamos a campo para fazer uma primeira amostra", diz Francini. "Queremos medir efetivamente a capacidade instalada, para saber qual o nível de ocupação." A avaliação de Francini está apoiada em uma sondagem realizada em 2005 junto a 1.000 empresas. Este grupo operava com 1,57 vezes o turno de 8 horas, 32% não haviam utilizado o recursos das horas extras. Considerando a aplicação destes parâmetros, as indústrias da amostra operavam com 67,5% da capacidade real. O trabalho será coordenado por Paulo Pichetti, que colabora na elaboração do Indicador de Nível de Atividade (INA). A primeira coisa que tem de ser respondida é qual é a exata capacidade instalada se forem utilizados todos os recursos. "Quem está em um turno não pode dizer que está com 87% de capacidade instalada", diz Francini. O trabalho será iniciado a partir de uma amostra de 50 empresas, com questionário para resposta pessoal. Em seguida este novo método será adotado em todo o Estado de São Paulo. Francini pretende também que esta metodologia passe a ser adotada em todo o País. O nível de atividade da indústria paulista apresentou expansão de 1,4% em julho. Com este resultado, o INA, da Fiesp, acumulou crescimento de 8,4% em doze meses. No período de janeiro a julho de 2008, o incremento industrial foi de 8,9%, taxa que revela um ritmo forte do setor. E a indústria brasileira continua apostando na forte demanda interna. Segundo a FGV, o Índice de Confiança da Indústria (ICI) registrou aumento de 1,1% entre julho e agosto, o segundo maior patamar desde abril de 1995. Das 1.012 companhias consultadas, 53% prevêem aumento na produção até outubro próximo. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Ana Carolina Saito e Jaime Soares de Assis)