Título: A China mostrou preocupação com o planeta? :: Maria Fernanda Teixeira
Autor: Texeira, Maria Fernanda
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/08/2008, Opinião, p. A3

26 de Agosto de 2008 - Foi exemplar a ação tomada pela China em mostrar ao mundo que, sim, tem a preocupação com o assunto poluição. Incrível esforço feito nos últimos dois anos para preparar as principais cidades onde as Olimpíadas iriam ocorrer e demonstrar ao mundo que, se quiser, pode fazer mudanças drásticas e reduzir o índice de poluição nas cidades. A avaliação final de Jacques Rogge, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), é que foi uma longa jornada, mas que fizeram a escolha certa. "O mundo aprendeu sobre a China, e a China aprendeu sobre o mundo", disse ele. Foi o sinal que os chineses precisavam para saber que receberam a aprovação que tanto desejavam quando foram escolhidos como sede das Olimpíadas de 2008. O que esperamos agora é que essa demonstração não tenha ficado apenas como maquiagem, para dizer que eles são bons habitantes do planeta. O que queremos é que todo esse esforço tenha servido para dirigentes do governo e setor privado chinês, e que esta semente seja germinada rapidamente, e que muitas outras ações sejam implantadas em nível definitivo naquele país. Parece que ainda não está claro para a grande massa da população mundial que o problema do aquecimento global e conseqüentes mudanças climáticas não podem ser vistos como devaneios de ambientalistas radicais. O problema é realmente muito sério e, se providências urgentes não forem tomadas, é certo que várias outras catástrofes vão ocorrer. Por essa razão, os países mais conscientes têm que não somente pressionar, mas apoiar países como a China e outros países mais poluidores, especialmente os emergentes, para que rapidamente implementem medidas de sustentabilidade. Não é à toa que países como a Inglaterra estejam tomando ações unilaterais para reduzir as emissões de carbono de forma dramática. A União Européia (UE) comprometeu-se em reduzir em 20% as emissões até 2020 e o Reino Unido foi mais além comprometendo-se em reduzir em até 60% as emissões até 2050. Coincidência ou não, o Reino Unido teve o seu hino tocado e sua bandeira hasteada, momentos antes da declaração de encerramento dos Jogos de Pequim. O prefeito de Londres, Boris Johnson, recebeu a bandeira olímpica para receber as Olimpíadas de 2012. Todas as nações devem se comprometer em controlar as emissões; mais do que isso, devem buscar fontes de energia alternativas que poluam menos o ar e a água, que também é outro recurso bastante escasso. Os brasileiros estão convencidos de que o Brasil faz muito pela natureza com o programa de bio-combustível, mas a realidade é que o Brasil também polui muito. Atualmente, somos a nação mais adiantada no quesito biocombustível. Por outro lado, o Brasil contribui enormemente com o aquecimento global, por conta das queimadas para desmatar ou colher a cana plantada, que é usada na produção do álcool. O filme de Al Gore mostra o Brasil filmado por satélite, com uma quantidade enorme de queimadas, em quase toda a extensão territorial do País. Outro setor em que o Brasil se destaca é a produção de energia a partir de hidrelétricas, e temos recebido boas notícias do governo de vários novos projetos para hidrelétricas, o que demonstra a grande capacidade hídrica do País. Por outro lado, o Brasil precisa urgentemente rever o seu parque de usinas hidrelétricas e modernizá-las, aproveitando melhor os recursos existentes, uma vez que nossas usinas em média têm mais de 30 ou 40 anos de existência. Outro paradigma que assistimos ser quebrado recentemente é que controlar as emissões prejudica o crescimento das nações, o que não faz nenhum sentido, basta examinar o que aconteceu no Reino Unido, que reduziu em 14% suas emissões em relação a 1990, e mesmo assim cresceu 40% neste período. Portanto, a bengala do crescimento usada por países com grandes emissões de carbono deve ser definitivamente abandonada. Embora os governos não sejam os responsáveis diretos pelas emissões, eles têm instrumentos políticos que podem ajudar a controlá-las. A China, por exemplo, necessita pensar a longo prazo. Se a China reduzir o uso de combustíveis fósseis e, conseqüentemente, a emissão de carbono, certamente reduzirá o nível de doenças respiratórias e melhorará o nível de vida de sua população e do mundo. Uma pesquisa recente mostrou que em muitos países a população está muito preocupada com as questões climáticas. Na Inglaterra, por exemplo, 60% da população acredita que o governo deve estabelecer algum tipo de medida para controlar as emissões, já nos Estados Unidos este índice cai para 40%. O Brasil deve estabelecer uma agenda que trate a questão das emissões com a seriedade que este tema merece, em especial as queimadas e o desmatamento. Além disso, não podemos nos acomodar com o uso puro e simples do etanol e considerar que tudo está resolvido. É fundamental o investimento para criar fontes alternativas de energia limpa. Cabe a cada um de nós termos a consciência das mudanças climáticas do nosso planeta, e tomar ações imediatas para que possamos continuar vivendo em condições seguras e especialmente deixando para as próximas gerações um planeta sustentável. Parabéns à China, que conseguiu obter a simpatia de muitos povos dando uma demonstração de que pode mudar muito. Parabéns também por ter feito um espetáculo esportivo nunca antes visto. kicker: A poluição diminuiu durante as Olimpíadas; o esforço deveria ter continuidade (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 3) MARIA FERNANDA TEIXEIRA* - Presidente do Grupo das Executivas de São Paulo. Próximo artigo da autora em 16 de setembro)