Título: Ataque a consulado no Brasil
Autor: Edson Luiz
Fonte: Correio Braziliense, 29/04/2011, Política, p. 6

Governo brasileiro revela que a Organização Setembro Negro enviou carta-bomba a representação diplomática israelense no Rio poucos dias após o assassinato de 11 atletas de Israel durante as Olimpíadas de 1972, na Alemanha. Documentos secretos do governo brasileiro liberados este mês revelam que, 22 dias depois do ataque de oito terroristas à Vila Olímpica de Munique, durante a realização dos Jogos Olímpicos em setembro de 1972, uma carta-bomba foi enviada ao Consulado de Israel no Rio de Janeiro. Encontrado por um funcionário dos Correios, o explosivo não chegou a ser detonado. No envelope, além de um cartão de felicitações, havia um panfleto escrito em árabe e em inglês, supostamente assinado pela Organização Setembro Negro ¿ o mesmo grupo que cometeu o atentado contra os competidores israelenses na Alemanha. Na época, dois atletas morreram no alojamento onde estavam e outros nove foram executados durante a fuga dos terroristas.

A carta-bomba era endereçada a um diplomata israelense que já não se encontrava mais no Brasil. O documento não revela a origem da postagem do explosivo, mas chegou ao posto dos Correios no Largo do Machado, bairro do Flamengo, no Rio. O envelope retangular tinha cerca de 22cm de largura e 11cm de altura, mas não há referências sobre o seu peso. ¿Era sensível à apalpação a existência, em seu interior, de um retângulo de cartolina de 20,5cm x 10,4cm, o qual se verificou depois ser um cartão de felicitações de aniversário¿, relataram oficiais da Divisão de Informações de Segurança (DIS), do Comando da 1ª Zona Aérea, em um documento confidencial.

O cartão serviria ¿ pelas explicações contidas no relatório secreto ¿ para ocultar uma massa plástica explosiva. ¿As chapas de raios X indicaram objeto (¿) no qual observava-se: arame, peça que, posteriormente, verificou-se conter em seu interior um percussor (peça metálica) acionado por mola, cujo movimento é retido por um balancim, o qual, se movimentado, libera a ação do percussor sobre uma espoleta¿, relatam os investigadores, ressaltando que, dentro do envelope, havia um saco com sílica gel, para preservar a umidade do explosivo.

O panfleto, assinado pela Organização Setembro Negro, um dos grupos terroristas mais ativos naquela época, dizia que a ação representava uma ¿represália à invasão de sua casa à nossa terra e de nossos irmãos¿ e tratava-se de uma ¿represália à sua perseguição, maus-tratos e assassinato em massa do nosso povo. Vamos atormentá-lo (¿) e você pagará o preço onde quer que vá¿. Segundo o documento ¿ que faz parte do acervo entregue pelo Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa) ao Arquivo Naciona2, em Brasília ¿ a carta-bomba foi desarmada por órgãos da Secretaria de Segurança Pública do Rio.

Alerta A ação terrorista em território brasileiro deixou o governo em alerta contra ataques não apenas a instituições diplomáticas estrangeiras, mas também a estabelecimentos públicos. Os Correios chegaram a criar regras de manuseio de correspondência, que foram difundidas aos órgãos de informação. ¿Estima-se que a utilização de cartas explosivas poderá vir a estender-se a outros grupos políticos¿, ressaltaram os oficiais da Aeronáutica. ¿Portanto, que todos os conhecimentos de ações para a localização dos dispositivos em tela devem ser desenvolvidas o mais rápido possível¿, observaram os militares.

Massacre de Munique Em 5 de setembro de 1972, a Organização Setembro Negro foi responsável por um ataque terrorista que chocou o mundo. Oito integrantes do grupo invadiram a Vila Olímpica de Munique durante a realização das Olimpíadas e atacaram os atletas de Israel. Durante o episódio, 11 desportistas israelenses foram assassinados pelos ativistas árabes. Cinco terroristas e um agente da polícia alemã também morreram no incidente, que ficou conhecido como o Massacre de Munique.

Militantes palestinos O nome da Organização Setembro Negro é uma referência à data de um dos maiores ataques da Jordânia contra palestinos ¿ que teve início em 16 de setembro de 1970, após a tentativa de um golpe de estado ¿ e resultou na morte de cerca de 10 mil pessoas. Esse grupo de militantes palestinos foi responsável por vários atentados há quatro décadas. Entre as ações, houve ataques a embaixadas, sabotagem a fábricas e até mesmo o sequestro de um avião comercial que voava da Bélgica para Israel. Apesar de há tempos não haver ações atribuídas ao grupo, até hoje o Setembro Negro faz parte da lista de organizações consideradas terroristas pela União Europeia.