Título: Obama mudará política para a América Latina
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Fonte: Gazeta Mercantil, 26/08/2008, Internacional, p. A10

Denver (EUA), 26 de Agosto de 2008 - O candidato democrata à Casa Branca, Barack Obama, propõe romper com a política de George W. Bush para a América Latina, que será mantida por seu rival republicano, John McCain, substituindo-a por uma "diplomacia ativa", que inclua Venezuela e Cuba, explicou o principal assessor do senador para a região. "O conceito é muito diferente do aplicado por esta administração, e que McCain promete manter", afirmou Daniel Restrepo, falando antes da convenção democrata, que começou ontem em Denver, Colorado, e deve oficializar a candidatura de Obama para as eleições presidenciais de 4 de novembro. A convenção democrata termina na quinta-feira (28). Obama estava ontem em Wisconsin e assistiu ao discurso de Michelle Obama por um telão em Kansas City, informou o The New York Times. A idéia principal do senador por Illinois é: "O que é bom para os povos das Américas, é bom para os Estados Unidos. Por isso, precisamos agir como um sócio, não como um salvador". Obama defenderá o diálogo e o rompimento com "a tradição dos últimos anos de impor um modelo de cima para baixo e dizer que Washington tem todas as respostas para as questões da região", explicou Restrepo, filho de pai colombiano e mãe espanhola. Ele afirma que, com Obama presidente, os EUA não vão mais tentar influenciar as eleições na região. "Se você respeita a democracia, deve fazer o mesmo com os resultados", argumentou o assessor. "A democracia não se limita a eleições", destacou Restrepo, lembrando "a preocupação" expressa por Obama em relação à "maneira antidemocrática pela qual governa o presidente Hugo Chávez na Venezuela, sua retórica e política antiEUA e suas tentativas de influenciar os processos internos de outros países". Após anos de relações tensas entre Bush e Chávez, Obama propõe uma mudança. "Parte do problema foi um mau gerenciamento do governo Bush, que enfrentou a retórica de Chávez e celebrou a tentativa de golpe de Estado de 2002. Isso deu um impulso ao presidente venezuelano", afirmou. "A falta de uma política concreta e de atenção deixou um vazio na região, e Chávez preencheu esse espaço com sua retórica antiamericana e com uma diplomacia respaldada por seus petrodólares", continuou Restrepo. "Para a Venezuela, o assessor de Obama apresenta duas soluções. Primeiro, "ocupar o vazio deixado por Bush, oferecendo outra visão e outra relação com todos os países da região". A segunda, mais radical, seria "falar diretamente com Chávez no momento adequado e no local escolhido por Obama". O candidato democrata defende posição semelhante em relação a Cuba. Ele já deu um primeiro passo, prometendo a suspensão das restrições impostas por Bush quatro anos atrás a viagens e remessas de cubanos residentes nos EUA para a ilha. Obama criou uma forte polêmica quando disse estar disposto a se reunir com dirigentes cubanos. "O senador Obama está decidido a não excluir qualquer ferramenta que possa ajudar a aumentar a liberdade do povo cubano", afirmou o assessor. Esse tipo de reunião, cujo lugar e momento também seriam apontados por Obama, "seria uma oportunidade para dizer aos governantes cubanos que se forem sérios e quiserem mudar as coisas em Cuba, o primeiro passo seria libertar os presos políticos sem condições", afirmou. "Os EUA estariam então dispostos a iniciar um processo de normalização de nossas relações", declarou Restrepo, que acusou McCain de se limitar a fazer "declarações muito duras" sobre o regime castrista "sem propor nada que mudaria a situação atual na ilha". A respeito da Colômbia, Obama pedirá ao presidente Álvaro Uribe que aumente seus esforços para pôr em marcha o Tratado de Livre Comércio (TLC), cuja ratificação está pendente de no Congresso americano, bloqueado pelos parlamentares democratas. O candidato reconhece os avanços obtidos por Uribe nos últimos anos, e que a relação com a Colômbia "é muito ampla, sumamente importante para ambos os países, e possui dinâmicas que vão mais alem do TLC. O senador apóia firmemente os progressos alcançados pelo presidente Uribe em matéria de segurança", afirmou. Obama, no entanto, também tem consciência de que ainda existe violência "não apenas contra os sindicalistas, mas também contra outros líderes da sociedade civil" cujos autores não são punidos. "Ele quer trabalhar com o governo colombiano para aprofundar nossa relação, incluindo nossos laços econômicos, mas sob as atuais circunstâncias a situação ainda preocupa bastante para avançar com o TLC", concluiu Restrepo. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 10)(AFP)