Título: Investidor externo vê País melhor do que o Bird
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 11/09/2008, Editoriais, p. A2

11 de Setembro de 2008 - O relatório do Banco Mundial Doing Business 2009, publicado anualmente em colaboração com o International Financial Corporation, mostrou que o Brasil ganhou apenas uma posição no ranking de facilidades para fazer negócios, ocupando a 125 posição entre 181 países. Na lista liderada por Cingapura, Nova Zelândia e Estados Unidos, o Brasil ficou atrás da maioria dos vizinhos latino-americanos liderados pelo Chile. Nesse ranking, o País foi ultrapassado até pelo Paraguai e Uruguai e por economias bem menores no cenário mundial, como Suazilândia e Botsuana. A surpresa com esses dados e essas comparações não é de somenos, principalmente em relação às comparações com economias emergentes do chamado Bric. O relatório do Banco Mundial assevera que o Brasil está no último lugar do bloco, reconhecendo que até a Índia, que "não fez nenhuma reforma modernizadora no último ano", permanece à frente do Brasil. A China, por sua vez, ocupa a 83 posição no ranking e a Rússia, a 120. Esse é um resultado extremamente curioso, em especial quando se compara a capacidade de atração de investimentos desses mesmos países. Na última semana de agosto, a Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad) divulgou estudo mostrando que entre 2006 e 2007 o Brasil obteve a maior alta de investimentos estrangeiros diretos entre as grandes economias emergentes internacionais, à frente da Índia,. China e Rússia. No período, o total de investimento no Brasil saltou de US$ 18,8 bilhões para US$ 37,7 bilhões, avanço de 99,3%, o dobro do índice obtido pela China e o triplo em relação à Rússia e Índia. A Unctad nota que, para este ano, a velocidade de crescimento dos IED para o Brasil continuará em expansão , ao contrário da tendência mundial que aponta queda. Os dados da Unctad, portanto, sugerem que os investidores têm opinião sobre o ambiente de negócios no Brasil bastante diferenciada do relatório Doing Business 2009, ou, talvez, apenas não pautem suas decisões sobre investimentos nas sugestões e investigações desse relatório. Um outro aspecto importante do relatório do Banco Mundial afirma que entre os países da América Latina, o Chile permanece o melhor colocado na região, apesar de perder algumas posições em relação ao ranking do ano anterior. Em segundo lugar na América Latina ficou a Colômbia que saltou do 66ª posição na lista para a 53ª, como um ambiente favorável para fazer negócios. Essa conclusão do relatório do Banco Mundial também causa espécie uma vez que, ontem, o governo colombino decidiu eliminar o controle de capital sobre a entrada de investimento estrangeiro, retirando a exigência de depósito de 50% do capital em conta sem nenhum rendimento. por dois anos. Será que, para o investidor, controle de capital desta ordem e com tais imposições, como o que vigorava na Colômbia até ontem, não prejudica o ambiente de negócios? Estas ponderações, obviamente, não sugerem que o Brasil não enfrente problemas quanto ao seu ambiente de negócios. Dentre as dez áreas analisadas , o Brasil melhorou em apenas uma, comércio exterior, porque o tempo médio para fazer exportação caiu em quatro dias, com a unificação das bases de dados de exportação e importação. Em outros quesitos, o atraso permanece, como no tempo gasto para pagar imposto, em média 2.600 horas por ano para quitar todos os tributos. O Brasil também é um dos países que mais dificultam a abertura de empresa , com 18 procedimentos, um recorde, superado apenas por países como a Guiné Equatorial. O mau desempenho do Brasil também atingiu o desenvolvimento financeiro do País, avaliado pelo World Economic Forum (WEF), que analisou sistemas financeiros e de mercados de capitais em 52 países e deixou o Brasil em 40 lugar nessa lista. Essa performance, novamente, causa certa surpresa, uma vez que ontem a consultoria especializada internacional, com base em 109 indicadores de organismos mundiais, como a Organização Internacional do Trabalho e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), concluiu que os dois maiores bancos brasileiros, entre os 40 maiores bancos do continente, detêm a melhor combinação de resultados financeiros sólidos com boas práticas de governança corporativa da América Latina, cumprindo as regras fixadas pelo acordo Basiléia 2. Esses resultados contrastam com as avaliações de alguns organismos internacionais e sugerem que alguma cautela é necessa´ria , pois, se o ambiente de negócios no Brasil é bom para tantos investidores, apesar das dificuldades burocráticas que temos, tais investimentos poderiam ser ainda maiores, se o País efetivamente as vencesse. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág.