Título: Mais investimento reduz pressão sobre inflação no longo prazo
Autor: Saito, Ana Carolina ; Cavalcanti, Simone
Fonte: Gazeta Mercantil, 11/09/2008, Nacional, p. A5

11 de Setembro de 2008 - Com a continuidade da forte expansão dos investimentos no segundo trimestre do ano, o Brasil amplia a sua capacidade de crescimento sem gerar pressões inflacionárias. Embora positiva, a situação ainda está longe de deixar o Banco Central livre de preocupações no curto prazo. Cálculos da LCA Consultores apontam que o PIB potencial brasileiro passou de 4,2% no quarto trimestre para os atuais 4,9% e deve encerrar o ano próximo ao crescimento efetivo da economia. "Hoje, o País cresce ainda acima do PIB potencial. A descompressão vai ficar mais evidente no segundo semestre, refletindo a alta da taxa de juros e a redução da demanda externa por conta da desaceleração da economia mundial", afirma o economista-chefe, Bráulio Borges. Para o próximo ano, as projeções da consultoria apontam para um crescimento inferior, de 3,5%, ao seu potencial (4,9%), o que o economista classifica como hiato negativo do produto. "O Banco Central fatalmente vai gerar um hiato negativo para colocar a inflação na meta em 2009", diz Borges. A última vez em que a economia cresceu em ritmo menor que o PIB potencial foi em 2003, quando o BC precisava reduzir a inflação de 12% para 9%. No ano seguinte, o hiato do produto voltou a ficar positivo, com um crescimento efetivo de 5,7% e PIB potencial de 3,2%. "Em 2005, a economia cresceu 3,2% e não foi necessário fazer hiato negativo porque o câmbio ajudou a segurar a inflação, o que não é o caso atualmente", diz. O fantasma ainda ronda No segundo trimestre do ano, a taxa de investimento atingiu 18,7%, o maior patamar desde o segundo trimestre de 1995 (19,8%). "Quem está tomando as rédeas do crescimento são os investimentos. E isso é importante devido à preocupação do Banco Central em relação ao desequilíbrio entre demanda e oferta", afirma Borges. A economista-chefe do banco ING, Zeina Latif, afirma que, como o aumento do PIB não veio acompanhado de uma alta do nível de utilização da capacidade instalada (Nuci), significa a maturação de investimentos. "O PIB forte sem reforço no Nuci é um bom indicativo, mas ainda há descasamento entre a oferta e a demanda, que está bem aquecida, o que é um problema para o BC no curto prazo." Em um primeiro momento, no entanto, os investimentos também significam aumento de demanda - consumo de construção civil e de máquinas e equipamentos - e só ao longo do tempo vão se transformar em ampliação da disponibilidade de oferta. E outros fatores também pressionam a inflação, como os reajustes dos preços administrados baseados nos índices de inflação passada (que chegaram a dois dígitos); o efeito cambial, que agora reverte para a desvalorização do real, e os preços dos importados manufaturados que sobem como efeito do dólar mais caro, complementa Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. A economista da Link Investimentos Marianna Costa destaca que o consumo das famílias continua elevado e a valorização do dólar é mais uma fonte de preocupação de pressão inflacionária. "A política monetária não pode esperar para ver", comenta. Mais otimistas Com o resultado do segundo trimestre acima das projeções, economistas elevaram suas expectativas de crescimento para este ano aproximando-as das do governo (entre 5% e 5,5%). Porém, mativeram as projeções para o ano que vem. "Projetávamos expansão de 4,8% para o ano, mas deve ficar ao menos em 5%. Para 2009, continuamos com 3,5%", afirma Marianna. Zeina também projeta crescimento de 5% neste ano. Já no próximo, 3,6%. A LCA deve elevar a sua projeção para 2008 de 4,6% para um percentual entre 4,8% e 5%. Assim como a MB Associados, que revisará a atual expectativa de 4,8% para algo acima de 5%. No ano que vem, espera 3,5%. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Ana Carolina Saito e Simone Cavalcanti)