Título: Expansão não depende do petróleo
Autor: Aliski, Ayr
Fonte: Gazeta Mercantil, 11/09/2008, Nacional, p. A8

Brasília, 11 de Setembro de 2008 - O Brasil descobriu imensas reservas de petróleo quando não precisa mais dele para crescer. A avaliação é do economista Antonio Barros de Castro, e foi apresentada durante o seminário "Desenvolvimento Econômico: Crescimento com Distribuição de Renda", promovido pelo Ministério da Fazenda, em Brasília. A declaração do economista, entretanto, não tem qualquer viés negativo. O alerta de Barros de Castro é que o Brasil tem uma economia saudável, em crescimento, e precisa preparar-se para utilizar da melhor forma as novas reservas de petróleo para promover o desenvolvimento futuro. Barros de Castro, assessor da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mostrou projeções que indicam ser inevitável a expansão da participação do petróleo na pauta de exportações brasileiras no futuro. O economista destacou que o Brasil já era auto-suficiente em petróleo, e que o anúncio das reservas do pré-sal geram um excedente. Ele disse que é preciso, em primeiro lugar, evitar que a economia brasileira passe a apostar somente no petróleo, o que pode gerar desestímulos à produção de bens que, em um primeiro momento, não são tão intensamente demandados. É necessário, portanto, manter o conjunto produtivo robusto, evitando aposta em matriz praticamente única. Ou seja, será necessário tomar decisões para tornar a pauta de exportações brasileira mais ou menos "petroleira". Análises apontadas por Barros de Castro mostram comparação da produção do pré-sal de acordo com cenário de mercado e com políticas ativas de oferta e demanda. Pela estimativa de cenário de mercado, haveria forte expansão em prazo mais curto, em oferta notadamente maior que a demanda entre 2020 e 2040. Com políticas ativas de oferta e de demanda, o fluxo estaria mais ajustado. Barros de Castro evitou detalhar quais seriam as políticas ativas de oferta e de demanda, mas o cenário de mais ajuste indica, por exemplo, menor velocidade na implantação de plataformas de exploração. O cenário de mercado estima seis plataformas em operação a partir de 2020. O segundo cenário considera três plataformas na mesma data. Em um cenário de adoção de políticas ativas de oferta e demanda utilizaria recursos gerados por plataformas em operação para financiar novas plataformas, reduzindo a dependência de financiamentos. Destacou também a necessidade de "esterilizar" os dólares obtidos com exportações de petróleo, transformando-os em uma poupança estratégica no exterior. Citou como bom exemplo a Noruega, que gerou poupança pública a partir de suas reservas de petróleo. A manutenção dos recursos das exportações petrolíferas no Exterior teria dois efeitos benéficos: evitar enxurrada de moeda estrangeira no mercado interno, "derretendo" a moeda nacional, e formar uma poupança de longo prazo para financiar o desenvolvimento futuro. O economista alertou que um novo momento na economia mundial tornou-se flagrante a partir de 2003, com a ampliação da presença da China. A demanda da China, destacou, "restabeleceu duradouramente a questão da escassez". E destacou que o fortalecimento do país asiático pode ser considerada obscura, mas é ostensiva e inegável. Ou seja, o mundo vive um novo momento de demanda por commodities. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)(Ayr Aliski)