Título: Juro em alta força aumento do custo de colocação de prefixado
Autor: Carvalho, Jiane
Fonte: Gazeta Mercantil, 11/09/2008, Finanças, p. B1

São Paulo, 11 de Setembro de 2008 - Incertezas quanto ao tamanho do aperto monetário, queda da liquidez global e até o forte crescimento dos CDBs emitidos por bancos para captar recursos forçaram uma revisão nas metas de financiamento da dívida pública federal. Para fugir os retornos elevados pedidos pelo investidor, o Tesouro Nacional reduziu a estimativa de participação de papéis prefixados no total da dívida para dezembro deste ano e elevou a de títulos corrigidos à Selic. O secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, justificou a mudança nas metas lembrando a menor liquidez global que leva investidores a pedirem prêmios maiores. "Dois motivos nos fizeram alterar o plano de financiamento da dívida, um deles foi a condição muito ruim de colocação dos prefixados e a outra foi a elevação do superávit primário, que nos permite reduzir a estimativa de fechamento da dívida para dezembro", afirmou o secretário em teleconferência. "Considero as mudanças necessárias e pequenas, a receptividade das novas metas foi boa e vamos seguir melhorando o perfil da dívida", disse Augustin, lembrando que em julho de 2005 45% da dívida vencia em 12 meses e, hoje, este percentual caiu para 23,8%. As metas de alongamento dos prazos de vencimento da dívida não foram alteradas, permanecendo entre 42 e 46 meses, contra 39,2 meses em dezembro do ano passado. Já a previsão de participação dos papéis prefixados (LTN e NTN-F) no total da dívida piorou. Os limites mínimos e máximos, que eram de 35% a 40%, respectivamente, caíram para 29% e 32%. A elevação dos prefixados no mercado tem sido perseguida pelo Tesouro, pois reduz eventuais impactos na dívida decorrentes de inflação, condições de mercado ou mesmo elevação do juro. Já a meta definida para os títulos pós-fixados, corrigidos pela Selic (LFT), foi elevada de 25% a 30% para de 31% a 34% do total da dívida. A expectativa de colocação de papéis pós-fixados corrigidos por índices de preços - NTN-B, pelo IPCA, e NTN-C, pelo IGP-M - foi mantida com participação mínima de 25% do total da dívida em dezembro e máxima de 29%. O ponto positivo na revisão do PAF foi a estimativa de uma dívida menor em dezembro. A banda, que era de R$ 1,48 trilhão a R$ 1,54 trilhão, caiu para de R$ 1,36 trilhão a R$ 1,42 trilhão. O recuo do Tesouro na emissão de papéis prefixados, conforme consta das novas metas do PAF, está ligada à maior aversão ao risco. "O investidor, particularmente o estrangeiro, está mais inseguro hoje do que há um ano, não vai querer ficar com um papel prefixado num momento de turbulência externa e de alta da Selic", avalia Alexandre Póvoa, sócio-diretor da Modal Asset. As condições para a venda de LTN pelo Tesouro pioraram sensivelmente ao longo do ano. Uma LTN com vencimento em 2010 vendida em janeiro deste ano, por exemplo, saiu com uma taxa próxima de 12,80%. O mesmo papel, em julho, era vendido com retorno acima de 15,50%. A piora na percepção risco/retorno comprometeu a performance das aplicações prefixadas este ano, o que também estimula a exigência de retornos maiores por parte do investidor. No primeiro semestre, segundo dados da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima), o IRF-M - índice que mede a rentabilidade da carteira a preços de mercado das prefixadas LTN e NTN-F - rendeu menos do que os benchmarks de curtíssimo prazo como Selic e DI. A rentabilidade foi de apenas 3,39%. "A expectativa de novas altas na Selic afasta os investidores em prefixados e os que ficam pedem retornos muito elevados", diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating. "Só após o fim do ciclo de aperto monetário é que as taxas de prefixados podem cair, com uma visão melhor por parte do investidor." A Selic este ano já foi elevada quatro vezes consecutivas, na tentativa de conduzir as expectativas de inflação para o centro da meta em 2009, de 4,5%. Mesmo após a elevação promovida ontem pelo Copom, analistas crêem em ao menos duas altas no ano. Na previsão do Relatório de Mercado do BC, as instituições financeiras acreditam que a Selic feche 2008 em 14,75%. Outro fator que promoveu a elevação nos prêmios pedidos pelo mercado para as LTNs foi a concorrência com ativos como o Certificado de Depósito Bancário (CDB). "A menor liquidez global fez os bancos locais buscarem funding internamente, muitas vezes com a emissão de CDBs a taxas elevadas, até 105% do CDI", explica Póvoa, da Modal Asset. "Um CDB de bancos de primeira linha é quase tão seguro quando os títulos do Tesouro Nacional e, com o retorno elevado que oferece, acaba concorrendo com os prefixados públicos." Dados da Câmara de Custódia e Liquidação (Cetip) mostram que o estoque de CDB no mercado saltou 63%, de R$ 354 bilhões, em setembro do ano passado, para R$ 579 bilhões. A retomada de metas mais ousadas de colocação de papéis da dívida pública, com novo avanço no percentual dos prefixados, não deve ocorrer tão cedo. "Ainda ninguém sabe quanto mais a Selic irá subir, tampouco em que momento a liquidez global voltará ao normal, fatores importantes para reduzir os prêmios pedidos pelo investidor", diz Agostini. "Falar em timing hoje é impossível."(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Jiane Carvalho)