Título: Procura por gestores financeiros cresceu 76,6% no 1º- semestre
Autor: Freitas, João Paulo ; Monteiro, Marcelo
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/08/2008, Empresas, p. C1

27 de Agosto de 2008 - O número de vagas para executivos do setor financeiro cresceu 76,6% no primeiro semestre de 2008, em relação ao mesmo período de 2007. A conclusão é de um balanço da consultoria DBM, que localizou um total de 2.362 oportunidades em bancos, seguradoras e corretoras, entre outras instituições somente nos primeiros seis meses do ano. Segundo Luís Concistré, consultor da DBM, o tempo médio de recolocação dos profissionais do segmento diminuiu em um mês. "No ano passado, a média era de aproximadamente seis meses. No primeiro semestre deste ano, reduziu-se para cinco", informa. "É um dado muito significativo, pois estamos falando de profissionais de alta gerência, que costumam ter um tempo de recolocação longo Em 2006 e 2007, a DBM recebeu muitos clientes voltados para o segmento financeiro, principalmente para bancos. Neste ano, o número diminui consideravelmente, o que significa que o mercado está absorvendo esse tipo de profissional com maior velocidade. Para o consultor, isso é significativo também porque eles são muito bem remunerados pelos bancos, acima da média do mercado. Segundo a consultoria, o aumento da procura por esses profissionais deve-se ao bom momento econômico vivido pelo País. Alguns segmentos da economia estão extremamente aquecidos, chegando mesmo a sofrer com escassez de mão-de-obra, como a construção civil. No que diz respeito ao setor financeiro especificamente, alguns fenômenos evidenciam que os ventos estão soprando em direção favorável. "A onda de IPOs [sigla para Initial Public Offering, a chamada "abertura de capital" de uma empresa] dos últimos anos tem exigido profissionais especializados em relação com os investidores, por exemplo. E eles são pérola rara", revela Concistré. E os profissionais da área de finanças podem ficar ainda mais escassos nos próximos anos. Há diversos nichos promissores para estes executivos, diz o consultor. O mercado de private equity e venture capital, por exemplo, está apenas começando no Brasil. "Essa indústria veio para ficar. As grandes empresas de private equity ainda não chegaram no País. Há muito para crescer nessa área", garante. Competências essenciais Para aproveitar a boa maré, o executivo do setor financeiro precisa ficar atento às competências mais valorizadas pelas empresas do segmento. "Um profissional que tenha bom trânsito na América Latina é altamente desejado pelas companhias que querem atuar no exterior", orienta Concistré. "Experiência com a Lei Sarbanes-Oxley também é outro ponto positivo. Ou seja, é necessário ter o preparo para lidar com a legislação que a abertura de capital exige", enfatiza. Outra competência fundamental para os gestores da área financeira é a experiência em ambientes multiculturais. Segundo o consultor, é cada vez mais comum - principalmente em multinacionais - a formação de equipes com integrantes de diversas nacionalidades. "Neste caso, não basta apenas saber idiomas. É necessário ter capacidade de liderar pessoas provenientes de cultura distintas", alerta Concistré. Valorização crescente Os executivos da área de finanças tiveram uma grande valorização salarial nos últimos dois anos, conforme apontou um levantamento realizado pela consultoria Michael Page. os diretores financeiros foram os profissionais mais valorizados. "Os diretores financeiros tiveram um aumento muito forte, que chegou a 40% só na remuneração fixa, em dois ou três anos", afirma Gil Van Delft, head da divisão finance da Michael Page e coordenador do estudo. O consultor, que é holandês, mas atua há cinco anos no Brasil, lembra que, quando chegou ao País, os salários de um bom diretor financeiro estavam na faixa de R$ 22 a R$ 25 mil. "Nas grandes empresas, hoje, esse salário começa em R$ 28 mil. Mas há casos acima de R$ 50 mil mensais", assegura. Segundo ele, o índice de aumento em questão refere-se apenas aos rendimentos fixos. Por isso, acredita, a valorização dos diretores financeiros pode ser ainda maior, quando considerados os ganhos variáveis. "Após o IPO, quem conduz o processo, junto com os bancos e os escritórios de advocacia, recebe um prêmio desses de R$ 600 mil a R$ 1 milhão", exemplifica. Embora esta seja a primeira vez que a Michael Page realiza o levantamento formal dos salários dos executivos financeiros, explica Van Delft, a consultoria tem condições de fazer a comparação dos patamares salariais atuais com os de alguns anos atrás, graças a um banco de dados que propicia a verificação dos ganhos dos profissionais nos processos seletivos anteriores. Anualmente, a consultoria participa da contratação de cerca de 2 mil executivos. Relações com investidores Além dos diretores financeiros, outros cargos extremamente valorizados nos últimos anos foram os de diretor e gerente de relações com investidores, gerente de project finance e gerentes de planejamento tributário e financeiro. Segundo Van Delft, os diretores de RI, por exemplo, tiveram uma elevação salarial entre 30% e 40% nos últimos dois anos. "O diretor de relações com investidores é uma pessoa muito importante no mercado aberto", afirma o consultor. "É o porta-voz da empresa no mercado e, com o aumento dos IPOs e do número de empresas com capital aberto, a responsabilidade deles aumentou muito." Entre os gerentes de RI, o aumento foi ainda maior: de 40% a 50%. "Eles ganharam um pouco mais porque existem menos gerentes de relações com investidores sendo formados no mercado", acredita Van Delft. Tanto diretores quanto gerentes de RI desempenham importante papel entre as companhias de capital aberto. "Eles conduzem a apresentação de road shows no Brasil e lá fora", diz Van Delft. "Como são poucos os profissionais preparados para esse boom de IPOs, houve uma briga muito forte no mercado para ter essas pessoas na empresa", comenta o consultor. "Houve uma demanda. E onde há demanda, há aumento de preço." Os gerentes contábeis, por sua vez, comemoraram ganhos de aproximadamente 30% na remuneração fixa nos dois últimos anos. "Aquele profissional que conhece os modelos de reporting para os Estados Unidos (como US GAAP ) e as regras da Bolsa de Nova York, que tem um perfil internacional, teve um aumento bastante grande", avalia Van Delft. "Existem poucas pessoas como essas no mercado. São menos de 40 empresas no Brasil que seguem essas normas." Outro profissional valorizado é gerente de project finance, responsáveis pelos estudos de viabilidade para grandes projetos corporativos "Todas as grandes empresas, como Brasken, Vale, Odebrecht e Petrobras, têm pessoas como essas, que atuam muito próximas aos business", explica Van Delft. "São profissionais que requerem um investimento muito grande da empresa, porque o business delas demanda um conhecimento muito grande. E são poucos os profissionais que têm o conhecimento necessário para atuar nessa função", conclui.(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 1)(João Paulo Freitas e Marcelo Monteiro)