Título: Pré-sal traz preocupações à bolsa
Autor: Americano, Ana Cecilia
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/08/2008, Finanças, p. B1
Rio de Janeiro, 22 de Agosto de 2008 - As discussões sobre a possível criação de uma estatal para a exploração do petróleo brasileiro nas camadas do pré-sal, a internacionalização das empresas brasileiras e o seu financiamento, assim como as novas oportunidades de mercado abertas em função do rápido crescimento da China e outros países emergentes marcaram boa parte das apresentações do 20º. Congresso da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec) ontem no Rio de Janeiro. Gilberto Mifano, presidente do Conselho de Administração da BMF Bovespa, por exemplo, declarou-se temeroso com os rumos das discussões sobre a criação de uma nova estatal para explorar o pré-sal. "Não sei o que é que está sendo discutido ou o que será decidido, mas uma coisa que precisa ser levada em conta é a questão da governança (que o assunto envolve)", disse ele. Nesse sentido, Mifano alegou não estar preocupado prioritariamente com os investidores estrangeiros, mas sim com os 400 mil brasileiros que escolheram a Petrobras para investir. O seu temor em relação aos acionistas da Petrobras, disse ele, é de o governo não levar em conta "algum direito que a empresa eventualmente tenha da produção futura do pré-sal". O representante da Bovespa , contudo, reconhece que, apesar de ser brasileira, a empresa não é dona do petróleo no subsolo e que os contratos para sua exploração ainda não existem. "Isso é nosso, dos brasileiros, da União. E nós todos somos acionistas da União. Agora, não é porque somos acionistas da União ¿ e eventualmente não tão acionistas da Petrobras ¿ que nós vamos passar por cima da Petrobras", alegou ele. Helder Leite, gerente de Relações com Investidores da Petrobras vê na questão do pré-sal outro desafio: o financiamento da expansão da empresa. Segundo ele, ainda não se sabe o volume de recursos necessários à exploração do pré-sal. "Mas até aqui, com os projetos atuais, temos tido condições de usar geração de caixa ou de ir ao mercado financeiro para financiá-los". Ele cita, por exemplo, as refinarias Premium 1 e 2 do Nordeste, com capacidade de 600 mil e 300 mil barris dia para produtos de alta performance. De acordo com Leite, em 2008, no entanto, a Petrobras deixou de captar recursos devido às condições internacionais, que se fecharam. A expectativa de captar entre R$ 4 bilhões e R$ 5 bilhões acabou por ser frustrada. Mas Leite conta com a força da empresa no exterior. Ele lembra que as primeiras American Depositary Receipts (ADRs) da Petrobras foram lançadas em 2000, resultando em transações de US$ 4,5 bilhões. O desafio, diz ele, está em crescer a um custo de capital razoável. "A última vez que o governo colocou recursos na empresa foi em 1974. Estamos acostumados desde então a caminhar por nossas próprias pernas e não deve ser diferente agora." Também presentes ao evento, Osvaldo Schirmer, vice-presidente de Finanças e diretor de Relações com Investiores da Gerdau, e Roberto Castello Branco, diretor de relações com investidores da Vale, ressaltaram os desafios da rápida internacionalização das empresas brasileiras. "Há dez anos tínhamos 2% dos nossos ativos fora do País. Hoje, são 46%", conta Castello Branco. Segundo ele, a globalização é uma importante opção de crescimento e de diversificação, contribuindo muito para diminuir o custo do capital. "Ganha-se acesso mais amplo a recursos no exterior e isso permite mais investimentos no país sede", argumenta. A empresa pretende investir nos próximos cinco anos US$ 59 bilhões em minério de ferro. Para Schirmer, da Gerdau, a expansão deve-se à alavancagem por meio do mercado de capitais. A estratégia permitiu crescer a empresa para além do mercado nacional, na fase de estagnação da economia brasileira. A empresa possui unidades nas três Américas e na Ásia. Ver também págs. A7, A8 e C4(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Ana Cecilia Americano)