Título: Bom-humor predomina entre investidores no pós-Copom
Autor: Alessandra Bellotto
Fonte: Gazeta Mercantil, 17/09/2004, Finanças e Mercados, p. B-1

Dólar tem menor cotação desde abril; risco atinge níveis de janeiro. Prevaleceu o clima de otimismo nos mercados ontem, um dia depois de o Comitê de Política Monetária (Copom) elevar a taxa básica em 0,25 ponto percentual, para 16,25% ao ano. Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), as taxas recuaram, em um movimento de ajuste às expectativas de que o ciclo de alta do juro será gradual. O dólar rompeu o piso de R$ 2,90, atingindo seu menor valor desde abril; a Bovespa subiu 2,38% - o desempenho refletiu também o ambiente internacional favorável, que contribui para o recuo do risco Brasil a 484,4 pontos, a menor taxa desde 29 de janeiro.

Para o estrategista da Global Invest Asset Management, Paulo Gomes, era de se esperar um clima de otimismo nos mercados, propiciado pela sinalização dada pelo Banco Central de que, ao subir o juro, está comprometido com as metas de inflação e, também, não sofrerá influências políticas a poucos dias das eleições, mostrando independência. "O investidor do mercado financeiro gosta disso", disse. Isso pode não funcionar para aquele que investe no setor real da economia, ressaltou.

Sandra Utsumi, economista-chefe da BES Investimento, afirmou que, além de "quebrar o tabu" elevando a taxa - mesmo que abaixo de 0,50 ponto - às vésperas das eleições, o BC sinalizou que não haverá choque de juros. "Preocupado com a inflação, iniciou um movimento de elevação do juro que se estenderá até atingir a dose necessária para evitar o descumprimento da meta", disse. Segundo Sandra, a leitura é de que o ajuste não permanecerá em 2005. Na sua opinião, o BC subirá o juro até dezembro. "E a Selic não deverá ultrapassar os 17,5%."

De acordo com o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, ao assimilar com certa tranqüilidade a expectativa de alta gradual nas taxas, o segmento de juros futuros promoveu uma correção das projeções que trabalhavam com um aumento maior. Sandra destacou que os prêmios embutidos nas taxas futuras estavam muito altos. "O mercado eliminou esse prêmio de incerteza", disse a economista.

O contrato de janeiro de 2005, o mais líquido, apontou juro de 16,67%, ante o fechamento anterior de 16,74%. O movimento financeiro mais do que dobrou, passando de R$ 16,81 bilhões para R$ 38,33 bilhões. O segundo contrato mais negociado foi o de novembro de 2004, que embute as expectativas para a próxima reunião do Copom. O giro somou R$ 13,94 bilhões (ante R$ 2,78 bilhões) e a taxa ficou em 16,23%, inferior aos 16,28% da véspera. Abril de 2005 passou de 17,25% para 17,20%. No total, o volume registrado pelos DIs na BM&F duplicou para R$ 69,28 bilhões. "A definição da curva, porém, depende da tinta com que será carregada a ata", destacou Rosa.

Dólar cai 0,65%

Ativos como o câmbio e a Bolsa foram favorecidos pela percepção positiva em relação à postura do BC, mas muito mais pelo ambiente internacional. Segundo Newton Rosa, o grande responsável foi o risco-País, que voltou ao patamar de 480 pontos como reflexo do desempenho da atividade nos EUA. "A economia americana está crescendo sem pressões inflacionárias", disse o economista.

Segundo Sandra, os números fracos divulgados ontem (inflação no varejo e produção industrial da Filadélfia) confirmaram o arrefecimento nas taxas de crescimento.

"Dificilmente o Fed (BC americano) será forçado a elevar as taxas por muito tempo", disse Sandra. Tanto é que os títulos de 10 anos do Tesouro dos EUA foram negociados ontem a 4,08%. "A liquidez de recursos continua e isso contribuiu para alavancar os mercados emergentes."

O maior apetite por títulos "mais arriscados" levou o C-Bond, principal papel da dívida brasileira, a atingir 99,125% do valor de face - a última vez que superou a cotação de 99% foi em 25 de janeiro de 2004 (99,250%). O Global 40 fechou a 111,75% do valor de face nesta quinta-feira, com alta de 2,05%.

O dólar acompanhou o movimento e encerrou os negócios com queda de 0,65%, cotado a R$ 2,885 - a menor taxa desde 12 de abril (R$ 2,883). "O cenário para o câmbio é bem favorável, principalmente com a volta das captações externas", afirmou Rosa. Segundo ele, a moeda deve permanecer nesses níveis pelos próximos dias.