Título: O investidor pessoa física mais ativo na Bolsa ::
Autor: Filippo, José Antonio de Almeida
Fonte: Gazeta Mercantil, 21/08/2008, Opinião, p. A3
21 de Agosto de 2008 - Um dos fenômenos do mercado de capitais brasileiro que demonstram com segurança que finalmente entramos em um novo e mais avançado estágio de desenvolvimento é a participação crescente do investidor pessoa física na Bolsa de Valores. Os últimos dados providos pela Bovespa não deixam dúvida a respeito desta tendência e mostram que o investidor individual já enxerga o mercado acionário com maturidade e entende o seu funcionamento. Em maio de 2008, chegamos a ter na Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC), da Bovespa, 486 mil contas de investidores pessoas físicas. É um número extraordinário, dado que há cerca de seis anos não passavam de 80 mil. Estimulado pela valorização surpreendente da Bovespa, o investidor pessoa física representa quase 26% do volume financeiro total negociado. A participação mais ativa da pessoa física na Bolsa, combinada ao maior nível de transparência por parte das empresas listadas, também recebe ajuda valiosa das facilidades tecnológicas, que permitiram as aplicações via sistemas de "home broker". Em maio, o volume total negociado por esse canal na Bovespa foi recorde: R$ 36,8 bilhões, isto é, R$ 1,84 bilhão por dia, com valor médio de cada negócio de R$ 11 mil. Os negócios com ações pelo "home broker" já representam 14% do volume total negociado na Bolsa. No mercado acionário dos EUA, a participação do investidor individual faz parte da cultura americana, sendo assunto de encontros familiares e entre amigos, garantindo mais estabilidade às bolsas e fortalecendo as empresas. O investidor pessoa física chega a aproximadamente 40% do volume negociado diariamente, segundo dados da U.S. Securities Industry Association. Na virada do século XXI, a economia americana possuía pouco mais de 80 milhões de acionistas individuais, ou seja, perto de metade dos lares americanos eram acionistas de empresas ou possuíam investimentos em fundos mútuos de ações. Foi um avanço que durou cerca de 20 anos, a partir da década de 80, cuja motivação estava no crescimento econômico continuado, na perspectiva de alta das bolsas e em alterações no formato da previdência privada da maior parte dos americanos, que migraram dos planos de benefícios definidos para os de contribuição definida. No Brasil, a estabilidade da economia, políticas governamentais de responsabilidade fiscal e respeito às regras, fiscalização crescente pelos órgãos competentes e aumento dos níveis de governança corporativa das empresas são motivações concretas para o investidor individual destinar parte de sua poupança ao mercado acionário. A concessão de grau de investimento ao Brasil por duas agências internacionais de classificação de risco de crédito é reconhecimento a essa nova realidade. A presença crescente do investidor individual no mercado acionário é extremamente benéfica e necessária ao Brasil. Ela garante maior estabilidade nos preços das ações, pois o cidadão brasileiro comum enxerga na Bolsa mais uma alternativa de formação de patrimônio de longo prazo, assim como aplicações em renda fixa ou em fundos de previdência privada. A participação da pessoa física na Bolsa precisa ser um objetivo não somente da Bovespa, bancos e corretoras, mas também das empresas listadas e das autoridades. Além de garantir maior estabilidade nos preços das ações, neutralizando em parte a contaminação pelos humores de outros mercados e agentes internacionais, o investidor pessoa física impõe novas necessidades para as empresas listadas, no sentido de fortalecer padrões de governança corporativa, transparência na prestação de contas e postura ética e responsável na condução dos negócios. A presença da pessoa física na Bolsa em grande escala, por outro lado, impõe mais um fator: olhar de ponderação a governos e autoridades, na medida em que decisões de caráter regulatório e tributário podem causar impacto negativo não somente nos investimentos privados e na geração de empregos diretos pela companhia afetada, mas também na poupança de longo prazo de milhares de pequenos acionistas. Vivemos um momento de profunda transformação - para melhor - do mercado acionário brasileiro, que proporcionará mudanças significativas para todos, sejam eles investidores, empresas ou o próprio governo. kicker: Os padrões de governança corporativa e transparência são fortalecidos (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 3) JOSÉ ANTONIO DE ALMEIDA FILIPPO* - Vice-presidente financeiro e de relações com investidores da CPFL Energia)