Título: Agentes buscam eletricidade para 2013
Autor: Scrivano, Roberta
Fonte: Gazeta Mercantil, 20/08/2008, Infra-Estrutura, p. C4
São Paulo, 20 de Agosto de 2008 - Com a atual falta de oferta de energia disponível no Brasil no curto e médio prazos, os agentes comercializadores do mercado livre - ambiente em que não há vínculo com uma distribuidora e que já responde por 25% de toda a eletricidade consumida no País - se esforçam para fechar contratos de longo prazo a partir de 2013, quando haverá a renovação da contratação da energia velha (oriunda de projetos já existentes). "Estamos num deserto de energia, não há oferta imediata", diz Paulo Mayon, presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace). Marcelo Parodi, presidente da comercializadora Comerc, afirma que até 2012 há um "aperto de liquidez" no setor. "Os consumidores não estão com paciência para esperar a renovação dos contratos", diz o executivo, para completar em seguida: "Esta semana nós faremos um leilão para compra de energia para janeiro de 2013 com prazo de duração de 15 anos", antecipa Parodi. Segundo ele, a nova estratégia, de fechar contratos de longo prazo para períodos distantes, dá mais segurança ao consumidor e também é positiva para os geradores, que alcançam mais rentabilidade com a negociação da eletricidade no mercado livre. "O gerador também quer fechar contratos", salienta o presidente da Comerc. Ricardo Lima, presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), diz que o mercado livre passa por um momento complicado com a baixa oferta de energia nova. "A situação está difícil. Tem consumidor livre buscando energia porque quer expandir sua capacidade produtiva (como as indústria), mas não pode fazê-lo porque não tem eletricidade", avalia Lima. Biomassa como opção Parodi, da Comerc, ressalta, porém, que em 2009 o mercado terá uma oferta de energia a mais. Trata-se da sobra da eletricidade que não foi vendida do leilão de reserva que comercializou na semana passada energia oriunda da cana-de-açúcar. "No leilão do governo só foi vendido metade do total ofertado, por isso essa sobra virá para o mercado livre", afirma As usinas sucroalcooleiras venderam apenas 548 megawatts (MW) de energia elétrica, para entrega a partir de 2009. Sobrou o mesmo montante. Mayon classifica o atual momento como "um compasso de espera". "O resultado do leilão de reserva está mudando o cenário, já que metade do montante ofertado virá para o ambiente de livre contratação", diz o presidente da Anace, que salienta que "a cana só gera energia no período seco". Segundo cálculos da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), cada mil MW de bioenergia permite elevar em até 4% o nível dos reservatórios das hidrelétricas. Parodi diz ainda que as usinas sucroalcooleiras não venderam todo o montante da energia com o objetivo de repassar a eletricidade ao mercado livre. "Para as usinas que precisam de contratos de 15 anos de duração, o ambiente regulado é bom, até porque, tal situação equaciona a questão do financiamento. Porém, as que não estão nessa situação, preferem vender ao livre que oferece mais rentabilidade", avalia. É consenso entre os especialistas que o problema da falta de oferta disponível vai acabar em 2013, ano em que sai a renovação da energia velha. "Se as renovações forem feitas dentro do prazo esperado será muito positivo para o setor. Além disso, esperamos um preço médio um pouco mais módico", diz Mayon, da Anace. Os leilões de energia nova foram realizados pelo governo federal em 2004, tem prazo de duração de 15 anos, e os preços negociados giraram entre R$ 57 por megawatt-hora (MWh) e R$ 94 o MWh. "Conforme a energia vai acabando o preço vai subindo um pouco", diz Mayon. Ele estima que, na renovação em 2013, o preço por MWh caia para algo em torno de R$ 75, na média dos valores das usinas do rio Madeira. "O consumidor livre está esperando a definição do novo preço com a expectativa de que o governo lembre que, quem é livre hoje, há 30 anos era cativo e, portanto, as usinas que terão a renovação foram pagas pelos livres e por isso esta classe deve participar do mesmo desconto", diz Mayon. Venda de excedentes Outro pleito que o mercado livre aguarda é a aprovação para a venda da eletricidade excedente, ou seja, um determinado montante contratado pelo consumidor, mas que por algum motivo não foi utilizado no mês. "Esse seria o maior benefício para o mercado livre no ano", afirma Parodi, da Comerc. Paulo Mayon diz que por mês sobram, dos consumidores livre, cerca de 400 MW médios. "Se o Ministério de Minas e Energia entender que é uma medida adequada, o mercado vai receber de volta esses 400 MW médios, o que irá até estimular investimentos para expansão de produção", comenta o presidente da Anace.