Título: Alta do juro já contém inflação, diz Meirelles
Autor: Stecanella, Vanessa
Fonte: Gazeta Mercantil, 19/08/2008, Nacional, p. A5

19 de Agosto de 2008 - O aumento da taxa básica de juros, a Selic, já começou a diminuir as expectativas de inflação no Brasil, afirmou ontem o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Segundo disse a investidores, durante conferência em Nova York, a atividade econômica continua robusta e há confiança de que a autoridade monetária colocará a inflação de volta na meta central, de 4,5%, no próximo ano. "Já existem sinais de que a política monetária começou a influenciar as expectativas de inflação, controlando os efeitos que a aceleração inflacionária de 2008 teve sobre as expectativas", disse Meirelles em evento organizado pela Câmara de Comércio Brasil Estados Unidos. "A desaceleração recente da inflação e das expectativas mostra não apenas que é viável, mas principalmente reforça o compromisso do Banco Central de trazer a inflação para o centro da meta em 2009", afirmou. A alta dos preços de commodities e o aquecimento da economia doméstica levaram a inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em 12 meses para mais de 6% em junho. No final do mês passado, as expectativas de inflação para 2008 estavam acima de 6,5%, teto da meta definida pelo governo. Mas, após elevar a Selic em 1,75 ponto percentual nas últimas três reuniões, as projeções retornaram ao intervalo de tolerância. Reversão de expectativas Economistas prevêem agora que o IPCA suba 6,44% em 2008, de acordo com a pesquisa semanal (Focus) do BC com instituições do mercado financeiro divulgado ontem. Já a estimativa para o indicador em 12 meses recuou de 5,34% para 5,31%. A sondagem também mostrou expectativas de inflação estabilizadas em 5,0% para 2009, ainda acima do centro da meta. Mas Meirelles acrescentou que "há alguns indícios de que esse percentual possa cair" também. A pesquisa do BC ainda indica que, no atacado, há dois movimentos distintos. A previsão para o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) neste ano foi reduzida de 11,33% para 10,86%. E a projeção para 12 meses caiu de 6,16% para 5,91%. Em 2009, o IGP-DI projetado permanece em 5,32%. Já a estimativa para o Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M) é de alta para o período de 12 meses, de 5,43% para 5,55%. Para o fechamento de 2008, a projeção declinou de 11,04% para 10,96% e saiu de 5,48% para 5,50% em 2009. A projeção para os preços administrados (tarifas públicas) se manteve em 3,80% para neste ano e em 5,13% no próximo ano. Para o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), analistas projetam inflação de 4,77% acumulada em 12 meses. Para 2008, a expectativa permanece em 6,48%. Em 2009, espera-se que o IPC-Fipe atinja 4,64%, viés de alta ante os 4,61% da semana passada. Mesmo com o arrefecimento da inflação, os economistas esperam a Selic em 14,75% ao ano em dezembro. Desta forma seriam mais duas elevações de 0,5 ponto percentual e uma de 0,75 p.p. sobre a taxa de 13% a.a. atual nas três reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) que ainda restam até o final do ano. Para 2009, a expectativa é a de que a Selic recue para 14% anuais. Com a taxa de juro mais elevada, menos otimismo em relação ao crescimento da economia brasileira no ano que vem, com a estimativa para o Produto Interno Bruto (PIB) recuou de 3,73% para 3,7% Já a projeção para os investimentos produtivos é de alta. Segundo a média dos analistas, o Investimento Estrangeiro Direto (IED) pode alcançar neste ano US$ 34,65 bilhões, acima dos US$ 34,5 bilhões anteriores. Para 2009, a expectativa foi mantida em US$ 30 bilhões, a mesma há 14 semanas. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Vanessa Stecanella e Reuters)