Título: Eles torcem e esperam para ver
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 20/04/2011, Mundo, p. 18

Sufocados por décadas de proibições, os cubanos finalmente poderão comprar e vender casas e carros, além de receber créditos para negócios e cultivos, graças às reformas aprovadas pelo 6º Congresso do Partido Comunista. ¿Raúl (Castro) avança aos poucos, mas em bom ritmo. Com a venda de casas e carros, muita gente vai poder ganhar um dinheirinho e usá-lo, por exemplo, em negócios¿, declarou à agência de notícias France Presse Julio González, 37 anos, que trabalha como carregador de bagagens no Centro Histórico de Havana.

Depois de assistir pela televisão ao encerramento do congresso, González lembrou que desde que Raúl substituiu o irmão Fidel, em julho de 2006, eliminou ¿proibições absurdas¿, como as que impediam que os cidadãos se hospedassem em hotéis, alugassem carros ou comprassem eletrodomésticos. Cerca de 90% dos cubanos são donos de suas casas, não pagam impostos por elas ou pagam aluguéis baixos, mas não podem vendê-las. Podem apenas trocá-las, em um negócio ilícito que movimenta milhares de dólares.

A alegria é contida, pois o governo e o parlamento ainda devem dar forma legal às decisões do PCC, e muitos lembram que ¿nada é fácil¿ em Cuba. Atualmente, particulares só podem comprar carros com autorização do Estado. Para sair do país sem estar em missão oficial, dependem de uma permissão especial, como a que é dada aos músicos que se apresentam no exterior e embolsam dólares. ¿Conheço gente que vai ficar muito feliz, porque há anos guarda dinheiro para comprar uma coisa ou outra¿, comentou Freddy Muguercia, taxista de 40 anos, que dirige um dos velhos carros americanos do período pré-revoucionário.

Com a liberação para compra e venda de casas, o governo tenta enfrentar o persistente deficit de centenas de milhares de moradias, agravado em 2008 com a passagem de três furacões que, no intervalo de algumas semanas, destruíram ou danificaram meio milhão de residências. Em abril de 2010, o regime autorizou a população a reerguer suas casas com os próprios esforços e recursos, mas também eliminou os subsídios aos materiais de construção ¿ duro golpe para uma população cuja renda mensal média é de US$ 20.

Outra reforma recebida com esperança é o fornecimento de crédito bancário a trabalhadores privados, camponeses e à população em geral ¿inclusive para a construção de casas. ¿Para um cuentrapropista (autônomo) que começa, isso é muito oportuno¿, disse Miriam Blanco, 51 anos, vendedora ambulante de pastéis. Também serão beneficiados os mais de 128 mil cubanos que, desde setembro de 2008, receberam 1,18 milhão de hectares de terras em usufruto, mas enfrentam a falta de ferramentas e outros insumos.