Título: O perde-ganha na área do petróleo
Autor: Kleber, Klaus
Fonte: Gazeta Mercantil, 15/08/2008, Opinião, p. A2

15 de Agosto de 2008 - Apesar do retumbante lucro semestral da Petrobras, a terceira empresa mais lucrativa das Américas, o Brasil continua sendo o país do futuro na área do petróleo. O debate já se desloca para o destino dos bilhões de barris e bilhões de dólares que nos são prometidos pelo o óleo a ser extraído da mirífica camada pré-sal ali por volta de 2012, mas a verdade nua e crua é que o Brasil ainda é um importador considerável de petróleo e derivados, que pesam muito na balança comercial. Segundo os números da Secex, o País importou US$ 13,077 bilhões de petróleo e derivados no primeiro semestre de 2008 e exportou US$ 8,138 bilhões, deixando um saldo negativo nesse item de US$ 4,939 bilhões, 145% a mais que no mesmo período de 2007 (US$ 2,019 bilhões). Isso nos leva diretamente à questão da auto-suficiência em petróleo (excluído o gás). Ao anunciar os seus resultados no semestre, a Petrobras afirmou que recuperou no segundo trimestre a auto-suficiência em petróleo e derivados que havia perdido no primeiro. Quanto ao petróleo em bruto, não é o que se constata no semestre como um todo, nem físicamente nem em termos cambiais. De acordo com o balanço semestral da estatal, a importação de petróleo em bruto pela empresa foi de 396 mil barris/dia de petróleo leve (Brent), a um preço médio de US$ 109,08, o que lhe custou US$ 4,319 bilhões. Já suas exportações de 369 mil barris/dia de petróleo pesado, a uma cotação média de US$ 95,89 o barril, lhe renderam US$ 3,538 bilhões. Nesse troca-troca, a estatal teve um prejuízo de US$ 781 milhões. Essa perda foi compensada pelos derivados básicos, presumindo que tanto a importação quanto a exportação tenham sido feitas a um preço médio de US$ 170,08 o barril. Como a estatal exportou 252 mil barris/dia de derivados, auferiu US$ 4,286 bilhões. Já as importações foram de 198 mil barris/dia e custaram US$ 3,367 bilhões, dando um lucro de US$ 919 milhões. Descontado o prejuízo com petróleo em bruto de US$ 781 milhões, o resultado cai para US$ 138 milhões. É uma migalha em comparação com o déficit de quase US$ 5 bilhões na rubrica petróleo e derivados do Brasil no semestre. Claro, a Petrobras não é mais monopólio e importações de petróleo bruto podem ter sido feitas pelas refinarias privadas (Ipiranga, Manguinhos), com capacidade muito limitada, e as de derivados por grandes distribuidoras, como a Esso, Atlantic, Texaco, Repsol, etc. Além disso, temos as indústrias petroquímicas, que são importadoras de nafta.Assim, não tem lógica o raciocínio de que as ações da Petrobras devem subir, como costumava acontecer, quando o preço do petróleo no mercado internacional está em alta. A estatal lucra muito pouco com isso. Ganha, na realidade, com o aumento da produção nacional de petróleo bruto, de gás natural, ampliação do refino e recomposição de custos com os reajustes dos preços internos, como 10% da gasolina e 15% do diesel em maio, absorvidos no todo ou em boa parte pela Cide. Outra coisa: um país que tem um déficit de quase US$ 5 bilhões com petróleo e derivados em seis meses, é prejudicado com a alta do petróleo. Pode-se alegar que há um benefício extra porque o preço do petróleo "puxa" o de outras commodities, favorecendo a receita cambial do País. Mas a baixa do petróleo, de outro lado, contribui para desanuviar o clima econômico internacional. O Brasil começará mesmo a ganhar com petróleo com a entrada em operação de três plataformas da Petrobras no segundo semestre, aumentando a produção nacional em 460 mil barris/dia. Aí sim. O consumo aparente de petróleo do Brasil (produção nacional mais importação e menos exportação), hoje em torno de 1,9 milhão de barris/dia, será zerado em termos físicos e espera-se que o saldo negativo em dólares deixe de pressionar a conta de comércio e passe a reforçar o superávit. Será ótima notícia bem antes do pré-sal. kicker: Até agora, o Brasil tem perdido, não lucrado, com a alta internacional dos preços do óleo (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 2) KLAUS KLEBER* - Coordenador de OpiniãoE-mail: kkleber@gazetamercantil.com.br)