Título: Alto retorno e baixo risco da eficiência energética :: Robson Andrade
Autor: Andrade, Robson
Fonte: Gazeta Mercantil, 15/08/2008, Opinião, p. A3

15 de Agosto de 2008 - Talvez nunca o mundo tenha discutido tanto a questão energética como nos últimos anos. Diferentemente de outros tempos em que o debate era orientado exclusivamente pelos elevados preços do petróleo, as motivações atuais são mais extensas e abarcam desde a oferta de energia proveniente de fontes não fósseis até os problemas ambientais e de aquecimento global. Embora no Brasil o problema não seja diferente, aqui, como em outras nações em desenvolvimento, há ainda a preocupação se restrição na oferta energética, seja imposta por problemas técnicos ou ambientais, pode minguar um ciclo de crescimento econômico que se apresenta virtuoso. Especialistas em energia são unânimes em afirmar que, pelo menos no curto prazo, investimentos em eficiência energética constituíram a melhor alternativa para lidar com o fantasma da carência desse insumo que resultou, recentemente, em pequenos "apagões" na África do Sul e na China. A despeito desse consenso, o Banco Mundial menciona, contudo, a existência de imperfeições de mercado que funcionam como barreiras à adoção dos planos de eficientização energética. Entre elas vale citar a falta de acesso a informações sobre as possibilidades tecnológicas e economias provenientes desses programas, limitando assim a demanda por eles. Outra barreira amplamente citada é a falta de recursos próprios e dificuldade para as firmas financiarem tais projetos. Esse último ponto, também citado em relatório da consultoria McKinsey & Company, chega a ser intrigante, tendo em vista a elevada taxa interna de retorno, entre 10% e 17%, dos investimentos em eficientização energética. Mais curioso é constatar que, segundo avaliações dessas entidades, tais retornos são acompanhados por baixo risco em razão da reduzida incerteza existente sobre a efetividade desses planos em reduzir os gastos com energia. Atenta à importância do tema, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) realizou estudo em que diagnostica o potencial de conservação de energia no Brasil, ao mesmo tempo que sugere medidas para incentivá-la. No documento "Programa Integrado de Eficiência Energética no Sistema Industrial e Elétrico Brasileiro" é possível acessar várias informações do setor, como, por exemplo, que o índice médio de perdas elétricas na Europa e nos Estados Unidos é, respectivamente, 6,5% e 8%, enquanto no Brasil encontra-se em 16%. Entre as várias propostas apresentadas, algumas visam a ampliar o financiamento aos programas de eficientização energética, um dos empecilhos apontados pelo Banco Mundial e pela Mckinsey à expansão desses programas. Sugerimos, por exemplo, a necessidade de taxas e prazos apropriados para a aquisição de máquinas e equipamentos mais eficientes, do ponto de vista de consumo de energia, como também para a implementação de planos que envolvem a troca da iluminação, utilização de sensores de presença, aquecimento solar, entre outros. Com intuito de financiar projetos em eficientização energética, o BNDES conta, atualmente, com a linha Proesco, que permite às empresas de serviços de conservação de energia acessar recursos desde que o valor mínimo do financiamento não seja inferior a R$ 1 milhão. Propomos que essas empresas possam pleitear financiamentos em operações diretas junto ao BNDES a partir de R$ 400 mil, permitindo assim o financiamento de planos de eficientização em empresas de menor porte. É provável que tal medida possa também estimular a constituição de novas empresas prestadoras desses serviços. Entre as várias motivações que justificam a nossa sugestão por um agressivo plano nacional de eficientização e poupança de energia, encontra-se ainda o impacto positivo na competitividade das empresas. Isso seria conseqüência da menor utilização de energia por unidade de produto, possibilitando que tal ganho fosse repassado ao consumidor final. Dessa forma, uma política nacional de eficientização energética possui o mérito de alavancar a competitividade de todos os setores da economia, constituindo-se, assim, em importante política industrial horizontal, se entendermos como política industrial ações destinadas a aumentar a competitividade das empresas. Deveria, dessa forma, ser priorizada dentro da agenda de política industrial do País. Justamente pelos diversos ganhos provenientes da utilização mais racional da energia, é crucial a ampliação das pesquisas que resultem em produtos e processos que utilizem em menor intensidade o insumo. Mais energia disponível; menor risco de interrupção das atividades produtivas e comerciais; mais bem-estar para a população e maior competitividade para as empresas; menos emissão de gases que contribuem para o aquecimento global - essas serão as conseqüências de um agressivo programa nacional de eficientização energética. Cabe ao governo aprofundar as discussões sobre o tema que constituirá em política de ganhos para todos. kicker: O índice médio de perdas elétricas no País chega a nada menos que 16% (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 3) ROBSON ANDRADE* - Presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). Próximo artigo do autor em 16 de setembro)