Título: Lula cobra mais investimentos privados
Autor: Correia, Karla
Fonte: Gazeta Mercantil, 15/08/2008, Nacional, p. A8

Barcarena (PA), 15 de Agosto de 2008 - Em meio à discussão da reforma tributária, que traz em seu corpo o fim da guerra fiscal, e à queda-de-braço entre os estados pela redistribuição dos royalties de petróleo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou ontem o aumento de investimentos da iniciativa privada nas regiões mais pobres do País. Em discurso com forte tom político, Lula criticou a concentração de recursos privados nas regiões Sudeste e Sul. "Pensando assim, o Brasil foi ficando meio torto, só cresceu um lado e o restante do território nacional ficou um pouco abandonado durante muitos anos", disse Lula durante cerimônia de inauguração de novas linhas de produção na Alunorte, refinaria de alumina da Companhia Vale do Rio Doce (Vale) em Barcarena, região norte do Pará. O presidente citou a iniciativa de Juscelino Kubitschek com a construção de Brasília e a implantação da Zona Franca de Manaus como exemplos de políticas para o desenvolvimento de regiões fora do eixo Rio-São Paulo e comemorou o anúncio, pela Vale, da construção de uma siderúrgica em Marabá (PA), prevista para entrar em operação em 2012. "Há 20 anos não se constrói um alto-forno no País. É o tempo de uma geração. O Brasil não pode se dar ao luxo de continuar importando aço produzindo ferro", disse Lula, que pediu para ser convidado para a inauguração da siderúrgica e brincou com o fato de que não será mais presidente no lançamento da usina. "Peço isso agora porque, em político sem mandato, nem vento bate nas costas." Nova estatal No Pará, o presidente voltou a bater na tecla de uma possível mudança nas regras de exploração do petróleo para as reservas pré-sal, usando como principal argumento a promessa de destinação de parte dos dividendos gerados com a exploração dos novos campos do combustível para investimento em educação. De acordo com o presidente, o País paga hoje o ônus de não ter investido em educação no passado com a escassez de mão-deobra qualificada para suprir a demanda gerada pela industrialização. "Quando você tem todo mundo ávido para contratar e faltando mão-de-obra no mercado, nós acordamos para o erro que o País cometeu quando não fez os investimentos corretos em educação há 50 anos", disse o presidente. A discussão sobre as mudanças na legislação, tema que tem gerado divisões dentro do próprio governo, tem para Lula acentuado valor político. Primeiro, com a bandeira de sanar a dívida social do governo com o País, é o fechamento com chave de ouro para o segundo mandato do presidente. Pesa também na ênfase que o Palácio do Planalto tem dado ao assunto o potencial que as mudanças na Lei do Petróleo têm para alavancar a possível candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à sucessão presidencial em 2010. Com essa lógica em mente, Lula tem insistido no mote que sustenta a criação de uma nova estatal para administrar a exploração das reservas pré-sal. "Agora, o que nós vamos fazer com esse petróleo? Vender, pura e simplesmente? Quem quiser tirar petróleo aqui, vem, pode tirar tudo o que quiser?" ¿ questionou Lula, ao defender a revisão das regras de exploração do combustível. "Deus não nos deu isso para que a gente continuasse fazendo burrice. Deus fez um sinal para nós, mais uma chance para o Brasil. E esse petróleo está a quase 7 mil metros de profundidade, a uma temperatura de mais de 200°. E nós vamos buscá-lo. E na hora que nós formos buscá-lo, vamos lembrar que esse País tem uma dívida histórica com a educação do seu povo." (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)(Karla Correia)