Título: Economia da zona do euro registra retração no trimestre
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 15/08/2008, Internacional, p. A14
A economia da zona do euro apresentou no segundo trimestre a primeira retração na história, deprimida pela redução da atividade em suas maiores economias. A retração foi a primeira desde a estréia do euro como moeda única, no início de 1999, ou quase uma década atrás, uma vez que o enfraquecimento das vendas minou os investimentos corporativos e a disparada dos custos corroeu o poder de com pra do consumidor. O dado, divulgado ontem, aumenta o risco de uma recessão técnica.
O escritório de estatísticas da União Européia (UE) estimou que a economia dos 15 países que compartilham o euro encolheu 0,2% frente ao primeiro trimestre e cresceu 1,5% na comparação ano a ano. Ambos os dados estão em linha com as expectativas do mercado. O Eurostat informou que a retração trimestral foi a primeira desde o início do acompanhamento dos dados da eurozona, em 1995. O segundo pior resultado foi a estagnação vista no segundo trimestre de 2003.
A queda foi menor que a da segunda maior economia do mundo, o Japão, que encolheu 0,6% entre abril e junho, mas pior que o resultado dos Estados Unidos que cresceu 0,5%.
¿Há boa chance de que a economia já esteja em recessão, mas mesmo que não esteja a perspectiva continua sendo de crescimento fraco nos próximos trimestres", disse Stuart Bennett, estrategista sênior de câmbio no Calyon.
A desaceleração da atividade pelo menos ajudou a frear a inflação, segundo economistas. Dados paralelos mostraram que a inflação se manteve em 4% em julho, menos que o inicialmente previsto. O Eurostat reduziu a estimativa para o avanço dos preços em julho de 4,1 % para 4,0%, na comparação ano a ano.
A Alemanha, maior economia da Europa, divulgou retração trimestral de 0,5% no Produto Interno Bruto (PIB) entre abril e junho. O dado foi melhor que a baixa de 0,8% esperada por economistas.
O PIB da França caiu 0,3% na comparação trimestre a trimestre, ao invés de crescer 0,2% como esperado pelo mercado.
A Itália, terceira maior economia da zona do euro, já anunciou uma retração trimestral maior que a esperada, de 0,3%.
"Uma recessão técnica na zona do euro é possível, porque há chance de que nós também tenhamos uma leve contração no terceiro trimestre", avaliou Christoph Weil, economista do Commenzbank.
A recessão técnica é definida como dois trimestres consecutivos de retração econômica. "A proteção que nos separa da recessão pura e simples foi, em grande medida, exaurida", disse Aurelio Maccario, economista-chefe para a zona do euro do Unicredit de Milão, Itália. "Portanto a pergunta natural é se já vimos o pior ou se os indicadores antecedentes ainda têm mais espaço para cair", acrescentou.
Para Sunil Kapadia, economista do UBS de Londres, a probabilidade de uma recessão, definida como dois trimestres de contração consecutivos, provavelmente subiu para mais de 50% agora", em relação a menos de 40% anteriormente, disse.
"Os sinais para o futuro não são mesmo muito bons", disse Amelia Tor res, porta-voz do comissário de Assuntos Econômicos e Monetários da UE, Joaquim Almunia, em Bruxelas, embora tenha evitado falar em recessão. "É um pouco exagerado usar essa palavra."
Economistas afirmam que o cenário de recessão na zona do euro deve impedir o Banco Central Europeu (BCE) de aumentar futuramente a taxa básica de juro, apesar de uma inflação mais de duas vezes superior à meta, que é de um patamar abaixo mas próximo de 2%.
"A questão é quando eles vão cortar a taxa de juros, mas com a inflação tão alta o BCE não pode cortar nos próximos meses", acrescentou Weil. O BCE manteve a taxa em 4,25% ao ano na última decisão