Título: EUA expulsam embaixador boliviano
Autor: Newswires, Dow Jones
Fonte: Gazeta Mercantil, 12/09/2008, Nacional, p. A9

12 de Setembro de 2008 - O governo dos Estados Unidos ordenou ontem a expulsão do embaixador da Bolívia, Gustavo Guzmán, como forma de retaliação à expulsão do embaixador norte-americano no país sul-americano, anunciada anteontem e reiterada ontem pelo presidente boliviano Evo Morales. O embaixador americano, Philip Goldberg, recebeu um prazo de 72 horas, a partir de ontem, para deixar a Bolívia, depois de ser declarado persona non grata por Morales, informou a chancelaria boliviana. Em solidariedade ao governo boliviano, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou ontem à noite que também determinou a expulsão, de Caracas, do embaixador americano na Venezuela. Funcionários do Departamento de Estado dos Estados Unidos informaram ontem à noite que o Guzmán foi convocado e notificado que deverá deixar em breve os Estados Unidos, numa escalada das tensões políticas entre os dois países. O porta-voz do Departamento do Estado, Sean McCormack, afirmou que Morales cometeu um "grave erro" e que prejudicou "seriamente" a relação com os EUA ao ordenar a expulsão do embaixador Philip Goldberg. "A ação do presidente Morales é um grave erro que danificou seriamente o relacionamento bilateral", disse o porta-voz. Guerra civil O porta-voz de Morales, Ivan Canelas, disse anteontem que os incidentes estavam abrindo o caminho para "uma espécie de guerra civil". Em Santa Cruz e Tarija, duas áreas de violência esta semana, que tiveram os escritórios do governo pilhados, a situação era relativamente calma, porém precária. Na quarta-feira, a área do mercado central em Tarija viu grupos de jovens de direita, ligados aos governadores da oposição que desafiam Morales, confrontando grupos indígenas. Perto de 100 pessoas ficaram feridas e pelo menos oito pessoas morreram. O impasse político no país dura meses entre Morales, que tem imposto reformas socialistas desde que se tornou presidente em 2006, e os governadores conservadores no leste do país que se opõem às reformas. Ele é o primeiro presidente indígena da Bolívia, de população na maioria indígena, e procura distribuir os recursos mais igualmente em um dos países mais pobres das Américas. Apoio armado de Chávez O presidente da Venezuela, Hugo Chávez além de expulsar o embaixador americano, advertiu ontem que seu governo se considerará autorizado a intervir na Bolívia e "efetuar mobilizações de qualquer tipo" neste país se houver um golpe de Estado contra Morales. "Se derrubarem Evo, se o matarem, saibam os golpistas da Bolívia que estarão me dando sinal verde para apoiar qualquer movimento armado na Bolívia", afirmou. O presidente da Venezuela considerou que seu governo "quer a paz", mas que está disposto a "exigir respeito" aos governos e lideranças legítimos da América Latina. "Se a oligarquia e os piti-ianques dirigidos, financiados e armados pelo império (dos EUA) derrubarem algum governo, teremos sinal verde para iniciar operações de qualquer tipo para restituir o poder ao povo nesses países irmãos." Apoio de Cristina O governo da Argentina (que acabou tendo o fornecimento de gás interrompido devido aos conflitos na Bolívia) reiterou ontem seu apoio a Evo Morales, e condenou "qualquer tentativa externa" de desestabilizar governos sul-americanos eleitos democraticamente. Buenos Aires "ratifica seu pleno e incondicional apoio ao governo constitucional do presidente Evo Morales", e "condena qualquer tentativa externa de buscar a desestabilização de governos populares eleitos de forma democrática na América do Sul". As autoridades argentinas também pediram à comunidade internacional que se pronuncie em favor da ordem constitucional na Bolívia. O governo de Cristina condenou os "graves atos de violência e sabotagem registrados na República da Bolívia, que deixaram mortos, provocaram a destruição de bens públicos e privados e afetaram gasodutos que abastecem países vizinhos", entre eles a Argentina. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 9)(Dow Jones Newswires, Reuters e AFP)