Título: Brasília tem menos fumantes passivos
Autor: Temóteo, Antonio
Fonte: Correio Braziliense, 20/04/2011, Cidades, p. 28

Pesquisa do Ministério da Saúde revela que apenas 5,8% dos brasilienses dizem respirar a fumaça alheia, o menor patamar do país. Em algumas capitais, índice é três vezes maior. Para especialistas, lei antifumo ajudou na conscientização

Brasília tem o menor número de fumantes passivos do país. Pesquisa do Ministério da Saúde aponta que 5,8% da população inspiram a fumaça alheia no local de trabalho e em casa, o equivalente a 148.651 brasilienses. O estudo também indica que a dependência de nicotina diminuiu no DF. Em 2006, 17,2% dos moradores fumavam, dos quais 19,9% eram homens e 14,9% eram mulheres. O percentual geral despencou para 13,9% no ano passado. Entre os sexos masculino e feminino os indicadores registraram 15,3% e 12,7% respectivamente.

A coordenadora da pesquisa, Deborah Malta, explica que o nível de escolaridade no DF é um dos fatores que podem explicar tanto a diminuição de fumantes passivos quanto do número geral de fumantes. Segundo Deborah, o acesso à informação ensina ao cidadão que fumar não é um comportamento adequado e essa reflexão é levada para casa, principalmente pelos jovens. ¿Os locais de trabalho são 100% livres do tabaco porque os empregados e servidores públicos estão atentos à legislação e cobram dos colegas o cumprimento da lei¿, completa.

De acordo com o Ministério da Saúde, o tabagismo está relacionado a mais de 20 doenças. Entre as mais conhecidas estão o infarto, a angina (caracterizada por uma forte dor no peito), o derrame cerebral, a bronquite, a asma e o câncer em diversos órgãos. Nos olhos, o cigarro pode provocar glaucoma, catarata e degeneração macular, levando à cegueira. As mulheres têm mais facilidade para desenvolver a dependência à nicotina. A menina que começar a fumar na adolescência têm 30 vezes mais chance de ter câncer do que uma não fumante. Além disso, elas têm grande chance de desenvolver osteoporose e menopausa precoces.

Falta vergonha na cara. Minha filha já teve uma crise de bronquite porque eu fumava dentro de casa. Mas até julho eu começo o tratamento" José Claudio Dutra, 42 anos, fiscal de transportes e fumante Na avaliação do professor da Universidade de Brasília (UnB) e pneumologista Carlos Viegas, o tabagismo tem migrado para as classes mais pobres. Ele acredita que novos projetos e campanhas precisam ser desenvolvidas para que esse segmento da sociedade também tenha acesso a informações e tratamentos de qualidade.

Luta diária O fiscal de transportes José Claudio Dutra, 42 anos, espera engrossar as estatísticas do Ministério da Saúde a partir do próximo ano. Fumante há 10 anos, consome de 25 a 30 cigarros por dia. Nos dias de maior estresse chega a fumar 40. Dutra sabe dos riscos de saúde, mas diz que falta de esforço próprio mantém o vício. ¿Falta vergonha na cara. A minha filha já teve uma crise de bronquite porque eu fumava dentro de casa. Mas até julho eu começo o tratamento¿, promete.

Já o motorista Geraldo Pereira, 49 anos, largou o vício há 14 anos, após se apaixonar por uma mulher que não suportava o cheiro da fumaça de cigarro. Pereira colocou na cabeça que precisava largar a dependência ou não conseguiria conquistar o amor da vida. ¿Fui casado por 10 anos, me separei e me casei de novo. Hoje a minha esposa é fumante. Conviver com isso é uma luta diária. Quando sinto o cheiro (do cigarro), dá vontade de comer. Mas sei que não posso me render e vou fazer ela também parar de fumar¿, planeja.

Opções de tratamento Quem estiver interessado em parar de fumar deve ligar para o telefone 0800-611997 e se inscrever no programa de tabagismo da Secretaria de Saúde do DF. Um atendente encaminhará o solicitante para o hospital ou centro de saúde mais próximo de sua casa. Uma avaliação clínica é feita e o paciente, encaminhado para um atendimento em grupo. São feitas quatro reuniões iniciais, uma por semana. Após esse período, os encontros passam a ser quinzenais, durante dois meses, e em seguida uma consulta mensal até que se complete um ano de tratamento. Ao fim do programa, são disponibilizadas gratuitamente pastilhas, gomas ou adesivos de nicotina sintética para reposições em doses menores. Aliado ao repositor, um medicamento anti-depressivo à base de bupropiona também é oferecido.