Título: Brasil voltará a exportar cédulas a partir de 2010
Autor: Monteiro, Viviane
Fonte: Gazeta Mercantil, 15/09/2008, Nacional, p. A6

Brasília, 15 de Setembro de 2008 - O Brasil se prepara para voltar a exportar moedas e cédulas a partir de 2010 após ter deixado essa atividade há 18 anos por conta da hiperinflação e do desequilíbrio econômico na década de 1980. A Casa da Moeda do Brasil (CMB), vinculada ao Ministério da Fazenda, investirá R$ 440 milhões em equipamentos mais modernos para aumentar a produtividade e assim poder atender tanto o mercado interno como o externo. A idéia é alavancar a produção de dinheiro em espécie em 100% até 2018 para atender aos dois mercados. O principal cliente da Casa da Moeda é o Banco Central (BC) do Brasil que teria uma demanda reprimida de moeda e cédulas. Os diretores da autoridade monetária, no entanto, "desconhecem dados sobre a demanda de moedas e cédulas" no País. E afirmam que o volume de dinheiro em espécie em circulação na praça é suficiente para atender a população e está dentro dos padrões internacionais, com a disponibilidade per capita de 71 moedas metálicas. Hoje a Casa da Moeda trabalha quase no limite de sua capacidade instalada. A empresa cunha 1,5 bilhão de moedas metálicas em valores que variam de R$ 0,1 a R$ 1,00 anuais. E fornece ao Banco Central 1,3 bilhão de moedas por ano. Em cédulas de papel, a capacidade de produção é de 2,4 bilhões anuais e são entregues à autoridade monetária 1,9 bilhão de notas. Hoje a empresa trabalha quase no limite da capacidade instalada. Em entrevista à Gazeta Mercantil, Luiz Felipe Denucci Martins, que assumiu a presidência da Casa da Moeda há dois meses, disse que máquinas estão "obsoletas" e precisam ser renovadas. A defasagem tecnológica reduz pela metade a sua capacidade de produção. Ela trabalha com impressoras com capacidade de processar apenas seis mil folhas/hora de cédulas. Os equipamentos mais modernos imprimem até 12 mil folhas/hora. As máquinas para produção de moedas metálicas estão com capacidade de discos coloridos insuficiente para aumentar a produção. "Quando eu cheguei à Casa da Moeda já existia no órgão o projeto para modernizar os equipamentos, pois os que existem hoje são suficientes para atender apenas à demanda brasileira", disse Martins. O presidente da Casa da Moeda afirmou que "ainda está arrumando a Casa" e que o retorno às exportações foi orientação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que o aconselhou a modernizar a empresa, reduzir custos e investir em uma abordagem comercial agressiva. Fontes do Banco Central acreditam que a retomada das exportações de dinheiro em espécie tenha a ver, também, com o acordo entre Brasil e Argentina que estabelece uma moeda única nas operações comerciais bilaterais. Na assinatura do acordo, na segunda-feira passada, Mantega disse que a aliança entre Brasil e Argentina pode se expandir futuramente a todos os países do Mercosul. Neste caso, o Brasil já estaria se preparando para ser o fornecedor de cédulas e moedas metálicas. Martins afirmou que, do montante de R$ 440 milhões a serem investidos na aquisição de equipamentos, R$ 300 milhões já estão no Orçamento da União. O restante, (R$ 140 milhões) corresponde a recursos próprios da Casa que este ano deve faturar R$ 700 milhões, receita 20% a 30% maior do que a obtida em 2007. Segundo Martins, o Brasil deixou de exportar moedas e cédulas de outros países - fabricadas no Brasil - desde 1980. Na ocasião, havia desequilíbrio da economia e hiperinflação, quando foram exibidas taxas de três dígitos. Com a inflação elevada, toda a produção da Casa da Moeda foi absorvida pelo mercado interno e a empresa passou a atender apenas a demanda do Banco Central. Porém, até hoje, o Brasil ainda recebe os pagamentos de contratos de câmbio por operações de exportação. O Balanço de Pagamento identificou que desde 1993, ano do começo da série, até agosto deste ano, foram liquidados US$ 11,930 milhões. "Esses valores referem-se aos pagamentos efetivos recebidos pela Casa da Moeda por exportações realizadas". Pela legislação cambial brasileira, os pagamentos podem "diferir significativamente da data da exportação efetiva".. As vendas eram feitas principalmente para os países da América do Sul e África, mercados que foram perdidos para empresas dos Estados Unidos, Reino Unido e França. Ao contrário daquela época, atualmente o Brasil poderia voltar a exportar diante da estabilidade econômica e de taxas de inflação em patamares civilizados. Mas isso demanda tempo porque não existe produção suficiente para atender o mercado externo. Martins afirma que as ações para retomar as exportações devem começar a partir de 2009, quando o portfólio de produtos estará pronto e as máquinas estarão renovadas. Neste caso, a empresa poderá participar de licitações internacionais. A Casa da Moeda vai produzir, ainda, carteiras de identidade e de motorista com chip, além de passaportes, a fim de acrescentar mais informações das pessoas nos documentos. Hoje ela já fabrica selos, cartões telefônicos e outros documentos que precisam de dispositivos contra falsificação, sobretudo para as empresas públicas. Para o Banco Central, pode existir uma demanda de moeda reprimida "pontual". Diretores do BC alegam que o problema do Brasil é a poupança pelo cofrinho residencial, chamada de "entesouramento". Segundo estimativa do BC, metade das moedas em circulação no Brasil, de 13,6 bilhões de unidades - o equivalente a R$ 2,6 bilhões - está "entesourada". Ou seja, guardada dentro de cofrinhos residenciais. Para suprir esses valores, o Banco Central diz que de janeiro a setembro colocou em circulação 684 milhões de novas moedas de vários valores. E vai colocar mais 716 milhões de unidades até o fim deste ano, totalizando 1,4 bilhão no ano. Em cédulas de papel existem 3,6 bilhões em circulação, também em valores variados, que correspondem a R$ 99,2 bilhões. A autoridade monetária confirma, entretanto, a existência de uma demanda reprimida em algumas localidades. É o caso de Macapá, que segundo o deputado Jurandil dos Santos Juarez (PMDB-AP), por falta de moeda na praça, alguns moradores, em junho, chegaram a vender moedas aos comerciantes com bônus de 10% por real vendido. Neste caso, o gargalo era a logística para o transporte das moedas. "Em R$ 100 vendido a supermercados, por exemplo, o poupador ganhava R$ 10,00", disse. O Banco Central disse que em junho foram entregues ao Estado 18 toneladas de moedas metálicas. Dando sinais de que o problema já foi resolvido, o Banco Central informa que, em junho, foram entregues ao Estado 18 toneladas de moedas metálicas. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Viviane Monteiro)