Título: BNDES precisa se preparar para expansão da demanda
Autor: Cavalcanti, Simone
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/09/2008, Nacional, p. A5
São Paulo, 16 de Setembro de 2008 - A crise financeira internacional está tornando as linhas de crédito escassas e, por conseqüência, deixando-as mais caras para as empresas brasileiras, que vinham se financiando no exterior com recursos bem mais baratos do que no País. Segundo o consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi), Júlio Gomes de Almeida, em pouquíssimo tempo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) terá aumentada sua demanda por conta dessa situação. "Brasil tem de defender sua economia, seu sistema de crédito, já que até empresas grau de investimento não estão tendo acesso ao crédito, reforçando a capacidade de concessão principalmente via BNDES", disse ontem durante participação no 5 Fórum de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV). Para o chefe do Departamento de Pesquisa e Análise do BNDES, Fernando Pimentel Puga, ainda não é possível sentir essa demanda. Porém, diz, o banco deve estar preparado para supri-la. De acordo com ele, independentemente de novas empresas virem buscar recursos no banco de fomento, está havendo uma mudança significativa no processo de investimento brasileiro. Puga relatou que, em 2006, estavam surgindo grandes projetos nos setores de siderurgia, de papel e celulose, e de outros básicos puxados pela demanda internacional. No ano seguinte, afirmou, houve forte crescimento das inversões em infra-estrutura ¿ muito puxado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Neste ano, há a retomada dos investimentos na indústria e na construção naval, o que não ocorria há muitos anos. "Esse processo me parece mais virtuoso que no passado. São mais máquinas e equipamentos com plantas novas", afirmou, ressaltando que a construção residencial vem crescendo a uma taxa de 11%, mas o investimento em máquinas e equipamentos, a 19%. "Há solidez nesse processo, de longo prazo de maturação, que não deve ser abalado por essa crise", afirmou o chefe do Departamento de Pesquisa e Análise do BNDES. Para Puga, se o cenário se mantiver, a taxa de investimento da economia estará em 21% daqui a dois anos. De acordo com ele, a taxa de investimento foi sendo reduzida nos últimos anos porque o crédito no Brasil é caro e o ajuste fiscal, que teve início em 1997, foi feito cortando investimentos públicos. O economista Paulo Rabello de Castro concorda com o argumento e complementa: o preço de investir é o custo do acesso ao capital. "Nós erramos há décadas na nossa política de juros. Não há nada que tenha mudado. Continuamos na mesma. Continuamos em uma política suicida", afirmou. Mais otimista, Gomes de Almeida afirmou que, com um pouco de paciência e se a crise não pegar o País de "calças curtas", o investimento poderá antecipar a demanda. "Se for isso, consolidamos pela primeira vez um padrão de crescimento que não estará limitado pelo grau de uso da capacidade instalada", disse o economista. Para o consultor do Iedi, se o nível de utilização da capacidade instalada ficar em 85% será muito animador ao investimento e pouco detonador de inflação de demanda. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Simone Cavalcanti)