Título: Jobim reitera acusações contra cúpula da Abin
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/09/2008, Política, p. A13

Brasília, 18 de Setembro de 2008 - A cúpula da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi afastada pelo presidente da República em virtude da participação de agentes na Operação Satiagraha, da Polícia Federal, e não pela suposta posse de equipamentos capazes de realizar escutas telefônicas. "O que é importante é que o afastamento não se deu por essa informação (da posse de equipamentos com capacidade de fazer grampos), mas porque a Abin havia participado com alguns elementos, depois saberíamos que eram 52, dessa investigação (Satiagraha)", disse ontem o ministro da Defesa, Nelson Jobim, em depoimento à CPI das Escutas Telefônicas Clandestinas da Câmara dos Deputados. "Durante reunião com o presidente Lula, eu disse que não competia à Abin esse tipo de participação. A função da Abin não está distante dos processos criminais, mas as investigações de crime comum são competência da Polícia Federal, do Ministério Público e da Justiça. Não haveria justificativa para a participação da Abin nesse tipo de atividade", acrescentou o ministro. Também ontem em depoimento na Comissão da Câmara, o ex-agente do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) Francisco Ambrósio Nascimento, disse que sua atuação nas investigações da Operação Satiagraha, da Polícia Federal, limitou-se à "leitura superficial de e-mails", sem entrar no conteúdo dos mesmos. O ex-agente informou que se aposentou no órgão em 1998, e nunca atuou na Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Segundo Jobim, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, telefonou-lhe indignado com a suspeita de ter sido grampeado por integrantes da Abin, conforme relatado em matéria publicada pela revista Veja. Houve no mesmo dia, segundo o ministro, uma reunião no Palácio do Planalto, que além de Gilmar Mendes também compareceram os ministros do STF Cézar Peluso e Carlos Ayres Britto. O afastamento prévio da direção da Abin teria sido uma resposta para a Corte de que o governo trataria o caso com rigor. "Mas não se discutiu responsabilidade criminal. O que estava em jogo era responsabilidade política e a posição do Supremo que queria uma solução. A sugestão que eu dei era o afastamento para fazer as investigações". Nascimento também negou que tenha sido "o braço direito" do coordenador das investigações da Operação Satiagraha, delegado Protógenes Queiroz. Da mesma forma, negou a versão de ser o elo de ligação entre a Abin e a PF. O ex-agente disse desconhecer as atribuições dos agentes da Abin nas investigações, que, segundo ele, é uma conduta básica do setor de inteligência. Ambrósio Nascimento afirmou que em nenhum momento participou de grampos telefônicos, "legais ou ilegais", contra os investigados e autoridades públicas. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 13)(Agência Brasil)