Título: Selic a 17% "não é tão alta assim", diz Levy
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Fonte: Gazeta Mercantil, 17/09/2004, Finanças e Mercados, p. B-1

O Banco Central do Brasil pode elevar sua taxa básica de juros para 17% nos próximos dois ou três meses se a inflação se acelerar, disse o secretário do Tesouro, Joaquim Levy.

"Dezessete por cento não é tão alto assim", disse Levy em uma entrevista no hotel Blue Tree Park de Brasília. Levy é o responsável pela venda de bônus da dívida do governo brasileiro.

Anteontem, o Banco Central do Brasil elevou sua taxa para empréstimos interbancários no overnight (a taxa Selic) em 0,25 ponto percentual, para 16,25 por cento, no primeiro aumento dos últimos 19 meses. A instituição também informou que pretende promover novas elevações da taxa, que subiria a passos "moderados" para impedir a corrosão do poder de compra dos brasileiros pela inflação.

"Levy parece estar nos dando uma idéia a respeito do nível a que as coisas podem chegar", disse Johnny Kneese, sócio e corretor da Levycam CCV Ltda., uma corretora de câmbio de São Paulo.

O real brasileiro se valorizou 0,6%, passando a valer 2,8855 às 14:11 em Nova York e ampliando em 4,1% os ganhos observados no mês de agosto. Nas operações com juros futuros, o rendimento do contrato de um dia com vencimento em 5 de janeiro de 2005 caiu ontem de 16,75% para 16,66%, na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) de São Paulo.

Recuo só em 2005

Levy disse que o BC, que reduziu sua taxa básica nove vezes desde junho de 2003, pode reiniciar as reduções da taxa no ano que vem.

"A indicação do Banco Central de que os aumentos da taxa permanecarão moderados está fazendo com que as pessoas especulem menos em relação a uma alta na taxa", disse em uma entrevista por telefone, de São Paulo, Fabio Akira, economista-chefe para o Brasil do JPMorgan Chase & Co.. Akira prevê que os responsáveis pela política monetária elevarão a taxa básica de juros para 17% até o final deste ano.

O governo brasileiro prevê que a taxa de crescimento da economia se desacelerará, passando dos 5,7% registrados no segundo trimestre de 2004 - seu maior ritmo de expansão dos últimos oito anos - para um "ritmo mais estável", ele disse.

``O Brasil continuará a crescer pelos próximos três anos", disse o secretário Joaquim Levy. "Mas não esperamos ter um crescimento de 6% para sempre".

As taxas de juros corrigidas de acordo com a inflação, que no Brasil ficaram num patamar acima dos 10% durante a maior parte da década passada, provavelmente também cairão, disse Levy, um engenheiro naval de 42 anos, nascido no Rio de Janeiro.

O reajuste da taxa divulgado na noite de anteontem terá efeitos "relativamente marginais" sobre as taxas corrigidas pela inflação, disse Levy. "O futuro aponta para taxas de juros reais mais baixas".

A inflação teve uma aceleração no período de 12 meses que findou em agosto, passando a 7,2%, seu nível mais alto desde janeiro. Em maio, a inflação do período de 12 meses havia ficado em 5,2%. Em agosto, a taxa de inflação mensal diminuiu, ficando em 0,69%; no mês anterior, a taxa havia ficado em 0,91%.

A decisão do Banco Central de elevar a taxa de juros dependerá da aceleração ou da desaceleração da inflação, disse Levy. Se a taxa mensal de inflação ficar em torno de 0,8% ou 0,9%, uma taxa de juros básica de 17% não será alta demais, disse Levy.

O governo brasileiro dará suporte aos esforços do Banco Central para conter a inflação mantendo os gastos sob controle, disse Levy. "A política fiscal precisa dar apoio à política monetária", disse.