Título: Socorro não impede queda das ações
Autor: Carvalho, Jiane
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/09/2008, Finanças, p. B2
18 de Setembro de 2008 - O aporte de US$ 85 bilhões do governo dos Estados Unidos para impedir a falência da American International Group (AIG) não conteve a queda das ações da gigante do setor de seguros ontem na bolsa de Nova York. Os papéis da seguradora caíram 45,33%, comercializados a US$ 2,03. No Brasil, o Unibanco AIG reforçou que as operações da joint venture "estão dentro da normalidade". Com a operação de socorro, o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) assumirá 79,9% da AIG por um prazo de dois anos, prazo que a companhia terá para honrar o compromisso com a autoridade monetária norte-americana. O Fed dará posse a uma nova diretoria por receio de "o colapso desordenado da AIG ser capaz de piorar níveis já significativos de fragilidade no mercado financeiro", de acordo com comunicado da instituição. O Unibanco, controlador da Unibanco AIG Seguros & Previdência, com 52% de participação, voltou a enfatizar que as ações envolvendo a AIG nos EUA não afetam as operações da seguradora no País. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Unibanco AIG informou que os resultados das duas companhias não se misturam. "Os números do primeiro semestre demonstram solidez." Estabelecida por meio de uma joint venture em 1997, a Unibanco AIG opera com seguros, previdência e capitalização. A empresa registrou faturamento de R$ 3 bilhões e R$ 11 bilhões em reservas técnicas no primeiro semestre deste ano. Somente os ganhos em previdência privada atingiram R$ 977 milhões, mas o consultor de investimentos Wenderson Wanzeller conta que a crise da AIG mundial prejudica a imagem da marca no Brasil. "Os clientes precisam estar bem informados, pois em tempos de turbulência podem decidir migrar seus ativos para outras seguradoras", comentou. Na avaliação do analista Luiz Santacreu, da Austing Ratings , "a parceria de 11 anos indica solidez, em termos de índices combinados, sinistros e resultado". Para Eduardo Nakao, presidente do IRB-Brasil Resseguros, nem mesmo o mercado de grandes riscos, que tem a Unibanco com líder, será afetado. "Tanto as seguradoras quanto os resseguradores trabalham com provisões apuradas com base em critérios atuariais reconhecidos, aceitos e, geralmente, são conservadores. Essas provisões representam a expectativa de indenizações para pagamento de sinistros para os riscos assumidos." Os problemas na AIG surgiram em um momento em que a pior crise no setor imobiliário desde a Grande Depressão de 1929 gerou mais de US$ 18 bilhões em prejuízos nos últimos 12 meses. Um colapso generalizado poderia ter custado ao setor financeiro US$ 180 bilhões, pelos cálculos da RBC Capital Markets já que a AIG forneceu apólices de seguros para mais de US$ 441 bilhões em investimentos em renda fixa mantidos pelas maiores instituições mundiais, incluindo US$ 57,8 bilhões em títulos vinculados a empréstimos imobiliários de alto risco (subprime). "Ninguém sabe realmente o que teria ocorrido se tivesse sido permitido que a AIG fosse à falência, mas há uma quantidade enorme de risco sistêmico", disse David Havens, analista de crédito do UBS AG em Stamford, Connecticut. O governo norte-americano está emprestando dinheiro à AIG à taxa de 8,5 pontos percentuais acima da taxa interbancária de três meses do mercado de Londres, de cerca de 11,5%. O acordo dará à empresa, que comercializa seguros em mais de 130 países, tempo para vender seus ativos "ordenadamente", informou a AIG em comunicado. Robert Willumstad, principal executivo da empresa, será substituído pelo ex-principal executivo da Allstate Corp., Edward Liddy, de acordo com uma fonte que acompanha os planos de reestruturação da seguradora. (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 2)(Luciano Máximo e Bloomberg News)