Título: Dólar sobe para R$ 1,86, na maior cotação em 12 meses
Autor: Carvalho, Jiane
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/09/2008, Finanças, p. B2

São Paulo, 18 de Setembro de 2008 - O mercado financeiro voltou a exibir pessimismo com a crise de liquidez desencadeada pelo mercado de hipotecas de alto risco, as subprimes. Após a segunda-feira marcada pelo caos no mercado acionário e de uma discreta recuperação na terça-feira, ontem as bolsas sucumbiram novamente. Desta vez o movimento foi patrocinado por dados que confirmam a fraqueza da economia americana. Notícias de novas perdas envolvendo seguradoras, agora a Allianz Arena, colaboraram. A queda no mercado acionário foi novamente generalizada. Na Bolsa de Valores de Nova York, o índice Dow Jones caiu 4,06%. O S&P 500 recuou 4,71% e Nasdaq fechou em baixa de 4,94%. A Bovespa fechou com queda ainda maior, de 6,74%, aos 45.908 pontos. A fuga de ativos de risco fez o preço dos treasuries americanos mais curtos disparar. A taxa paga pelo treasurie de três meses fechou próxima de zero, a 0,112%, a menor desde 1958. O preço do papel e seu rendimento se movem inversamente, ou seja, a maior procura pelas treasuries, consideradas seguras, reduz seu rendimento. O dólar no mercado comercial voltou a subir, alta de 2,62%, a R$ 1,8620, a maior dos últimos 12 meses. O socorro do Fed à seguradora AIG, na véspera, e ontem os resultados trimestrais do Morgan Stanley foram ignorados por investidores. O Morgan registrou lucro líquido de US$ 1,42 bilhão no terceiro trimestre de 2008, acima das expectativas do mercado. Pesaram sobre o humor geral dados da construção de casas, que caiu 6,2% em agosto nos Estados Unidos. Além disso, o déficit em conta corrente no segundo trimestre superou as estimativas, chegando a US$ 183,1 bilhões. Apesar da instabilidade nos mercados globais, o movimento forte de alta do dólar em relação ao real não encontra sustentabilidade nos fundamentos. Além de o País ser grau de investimento e contar com o maior juro real do mundo, o que atrai capital, dados do BC comprovam que em setembro o ingresso de recursos é maior do que a saída. Nos primeiros 10 dias úteis de setembro, o mercado registrou fluxo positivo em US$ 4,329 bilhões, graças principalmente ao saldo comercial. Mesmo com dólares ingressando no País, no mesmo período a cotação subiu 8,47%. A contradição entre oferta maior de dólar e alta na cotação reforça a tese de um movimento especulativo. "Não há fundamento para a alta da moeda, ela está sendo construída com posições especulativas no mercado futuro", avalia Sidnei Moura Nehme, diretor-executivo da NGO Corretora. Na BM&F, a exposição cambial líquida dos estrangeiros está "comprada" - aposta na alta - em US$ 5 bilhões. "Isto acaba puxando o preço da moeda no mercado à vista, não tem nada a ver com pressão de demanda", diz Nehme. O analista da corretora Hencorp Commcor, Marcos Forgione, faz coro. "Quando se olha o mercado futuro e a cotação lá na frente está em alta, há uma corrida para aquisição do dólar pronto o que também ajuda a subir o preço", diz. Nos últimos dias também colaborou para a alta da moeda o baixo volume movimentado no interbancário: 20% do volume normal na segunda, 30% na terça e 63% ontem. "Este volume menor no físico também estimula a alta e creio que o dólar só retome a trajetória de queda quando os níveis negociados subirem", diz Nehme. (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 2)(Jiane Carvalho)