Título: Bancos reduzem a concessão de recursos de longo prazo
Autor: Nascimento, Iolanda
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/09/2008, Finanças, p. B3

São Paulo, 18 de Setembro de 2008 - O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Fábio Barbosa, disse ontem que em virtude da crise que assola o sistema financeiro internacional as instituições brasileiras reduziram seu apetite por linhas mais longas de financiamento, principalmente para operações que precisam de funding internacional realizadas com grandes companhias e mais voltadas para o comércio exterior. Essa tendência, ressaltou, é pontual. "Não dá para ir hoje para operações longas, de cinco anos, por exemplo, do mesmo jeito que se fazia antes. As empresas ainda precisam entender o que está acontecendo e por isso se resguardam." Barbosa afirmou que linhas de longo prazo destinadas ao consumo, como de empréstimos para a compra de automóveis, e crédito consignado, continuam inalteradas e que não houve uma redução de prazo significativa a ponto de causar impacto na economia. O executivo, que comanda ainda as operações brasileiras do grupo espanhol Santander, dono também do Banco Real, chegou ontem pela manhã de Madri, onde esteve em reunião rotineira no quartel general, informou. A companhia não tem exposição no segmento de subprime, pivô da crise frinanceira, e, com caixa, estaria analisando ir às compras nos Estados Unidos, hoje um mercado de oportunidades para os bancos com dinheiro que desejam aumentar suas posições, conforme especulações de analistas não confirmadas por Barbosa. O Santander estaria ainda, dizem os mesmos analistas, estudando elevar sua fatia, hoje de pouco mais de 20%, no Sovereign Bancorp , também dos Estados Unidos, de maneira a exercer opção de contrato, quando da realização do negócio, em 2005. Para Barbosa, é difícil fazer um diagnóstico e um prognóstico em relação a quando o sistema irá voltar ao equilíbrio. Enfatizou que a crise está mais concentrada hoje nos nega bancos dos Estados Unidos, onde o Federal Reserve busca um equilíbrio entre o saneamento das empresas envolvidas com a preservação do sistema financeiro. "Não dá pra todo mundo (em relação ao Lehman Brothers e à AIG) sair ileso disso." Já o sistema financeiro brasileiro é sólido, está imune ao colapso e não apresentaria "crise" dessa natureza pelos fundamentos e pela pouca alavancagem, afirmou. "Os bancos brasileiros são líquidos, contabilizam tudo em seus balanços, suas operações são transparentes." O maior impacto da crise no Brasil, na sua opinião, acontece no mercado acionário. "A venda de papéis brasileiros é para cobrir posições que os investidores têm no exterior." O executivo reconheceu, contudo, que a crise tem ajudado a elevar o custo do dinheiro, afetando as margens das empresas, e encurtado prazos de captação. "Uma parte contamina, não somos uma ilha, mas isso é marginal. A maior parte do funding vem de operações locais", disse Barbosa, acrescentando que não há qualquer problema de liquidez no sistema financeiro nacional. A parte de funding que depende de operações internacionais, e que é pequena, já teve elevação de preços naturalmente ao longo dos últimos tempos, afirmou. As medidas do governo brasileiro para conter consumo e inflação, como elevação das taxas de juros, de impostos e do compulsório, foram mais efetivas para o aumento do preço do dinheiro, observou. China Barbosa concentrou os maiores impactos da crise no cenário internacional, onde afirmou que existe problemas bem sérios de liquidez e crédito. Segundo o executivo, possíveis consolidações no setor também não devem afetar o mercado brasileiro. Para ele, o desenvolvimento da China poderá atenuar reflexos maiores da crise. "Uma economia em crescimento expressivo ", afirma. O presidente da Febraban fez as considerações ontem durante o lançamento do Sistema Brasileiro de Auto-Regulação Bancário, que deverá ser implementado a partir de janeiro do próximo ano. (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Iolanda Nascimento)