Título: BNDES ajudará se faltar crédito, diz Mantega
Autor: Monteiro, Viviane
Fonte: Gazeta Mercantil, 18/09/2008, Finanças, p. B3

Brasília, 18 de Setembro de 2008 - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que se o Brasil enfrentar uma falta de crédito diante do agravamento da crise internacional, o governo pode suprir o mercado interno, via recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para o ministro, há falta crédito no mercado internacional, e isso pode reduzir a capacidade de as empresas brasileiras captarem recursos no exterior. Ontem circularam informações no mercado financeiro de que o governo americano havia cortado as operações de capital de giro para as empresas exportadoras, chamadas de adiamento sobre contratos de câmbio. Isso teria agravado mais a turbulência internacional. O Banco Central do Brasil não quis comentar o assunto. Mantega acredita que, talvez, o Brasil enfrente alguma escassez de crédito internacional. "Se isto se prolongar poderemos tomar medidas para estimular o crédito para investimento, não para consumo, que não está faltando", assegurou o ministro. "Se faltar crédito para investimento, para agricultura, para exportação, o Governo tomará as medidas no sentido de supri-lo." Durante a entrevista concedida aos jornalistas, o ministro achou correto o socorro do governo americano dado à seguradora American Internacional Group (AIG). A maior seguradora dos Estados Unidos recebeu anteontem empréstimos de US$ 85 mil milhões do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos. Apesar de Mantega defender que o Fed não deve ajudar a todas as empresas que enfrentam dificuldades financeiras, o ex-diretor do Banco Central, Carlos Eduardo de Freitas, disse que a crise começa a preocupar o Brasil pelo fato de o Fed não ter socorrido o Lehman Brothers . "Até segunda-feira a crise não preocupava tanto, porque o Fed estava com decisões firmes. Mas quando ele deixou de socorrer o Lehman isso mudou a equação (do cenário)", disse Freitas, hoje diretor da OF Consultoria. Para ele, a decisão do Fed de hesitar em socorrer o banco demonstrou desconfiança no sistema financeiro. "O Fed agora está sem um norte claro; não há clareza no momento em que ele prefere socorreu a AIG e hesita em socorrer o Lehman. Isso é extremamente preocupante", declarou A decisão do Fed, diz, mostra que os bancos estão sem dinheiro em caixa. Para o Brasil, o impacto negativo, neste caso, é nas operações de crédito de capital de giro para as empresas exportadoras, embora o Brasil dependa hoje muito pouco do crédito externo. O Ministério da Fazenda afirmou que o governo pode fomentar o crédito no Brasil para as empresas exportadores, caso elas venham precisar, com os recursos do BNDES. Recentemente, foi editada uma Medida Provisória que prevê um adicional de R$ 15 bilhões no orçamento do BNDES deste ano. Para o ex-diretor do Banco Central, as reservas internacionais brasileiras podem ser uma outra fonte de recursos. Neste caso, Freitas disse que os recursos, superior a US$ 200 bilhões, podem ser aproveitadas para dar crédito aos brasileiros. O BC emprestaria aos bancos que repassariam às empresas nacionais. Isso foi feito em 1987, quando houve moratória da dívida pública. Mas hoje o cenário é totalmente diferente daquele tempo, diz. "O remédio pode ser administrado." (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Viviane Monteiro)