Título: Baixa taxa de poupança é mais um obstáculo ao crescimento
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 17/09/2008, Nacional, p. A7

São Paulo, 17 de Setembro de 2008 - A baixa taxa de poupança do Brasil é mais um entrave ao alcance de percentuais maiores de crescimento econômico. Segundo o economista e pesquisador Samuel Pessoa, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a taxa, de 16%, fica muito aquém de economias em desenvolvimento e com renda per capita similar à brasileira, como Coréia (35%) e China (45%). "O Brasil poderia crescer 7%, mas limita sua expansão a 4% ou 5% enquanto não elevar seus níveis de poupança", diz Pessoa. Ele afirma que esse nível é baixo por causa da forma como o País estruturou seu sistema previdenciário, principalmente a partir de 1988. Na sua avaliação, o regime brasileiro é muito generoso, principalmente por ter uma população predominantemente jovem. Os gastos com benefícios, afirma, chegam a 12% do Produto Interno Bruto (PIB), três vezes mais do que em países demograficamente parecidos, onde a totalidade dos recursos destinados a esses fins são de 4% do PIB. Além disso, explica, a alta carga tributária reduz a renda das pessoas e, como recebem menos, não poupam. Ao mesmo tempo, a expectativa de ganhos futuros com a Previdência desestimula a reserva de recursos. Pelo lado do governo, os gastos cada vez maiores com custeio da máquina pública e salários de funcionários públicos também reduzem as chances de sobra de recursos para poupar. "É preciso abrir mão do gasto presente para poupar. É ter renda e não consumir", diz. No entanto, realista, Pessoa vê que esse problema não deve ser resolvido nem sequer no próximo governo. "É uma escolha da sociedade, que está acostumada a esse padrão." Recursos petrolíferos Com a descoberta de petróleo na camada pré-sal e a possibilidade de recursos vindos da exploração, o Brasil tem uma chance de elevar seu patamar de poupança. Segundo Pessoa, o governo poderia trocar por reais parte dessa receita e, a outra, manter no exterior. Um percentual do dinheiro internalizado iria para a redução da dívida interna e outro para o Fundo Soberano, por exemplo. O economista Antonio Delfim Netto concorda com o pagamento da dívida. No entanto, para ele, a melhor saída seria a quitação do endividamento externo. De acordo com o ex-ministro da Fazenda, a dívida externa pública hoje é de US$ 90 bilhões, pelos quais o governo brasileiro paga juros de 6%, ou seja, US$ 5,4 bilhões ao ano. "Ao pagar isso, libera-se dinheiro para a poupança pública", afirma. Além disso, diz, o governo pode fixar o que quiser na apropriação da nova riqueza e essa receita também iria para o Fundo Soberano. Os recursos da camada pré-sal, segundo Delfim, resolvem dois problemas que, historicamente, abortaram os ciclos de crescimento econômico brasileiro: as crises de energia e de financiamento do balanço de pagamentos. Pessoa arremata lembrando que a baixa taxa de poupança do País proporciona valorização do câmbio real sempre que a rentabilidade do investimento se eleva. O economista sustenta que seria positivo que a elevação da poupança doméstica fosse maior do que o custo do investimento da Petrobras na camada pré-sal. Isso, segundo ele, seria o suficiente para que o aumento da demanda por bens chamados não-comercializáveis ¿ investimentos da estatal de petróleo ¿ seja igual à redução da procura pelos não-comercializáveis fruto da elevação da poupança doméstica. "Neste caso haverá, após os dois movimentos, equilíbrio entre os não-comercializáveis e a produção e demanda doméstica de bens comercializáveis. Haverá superávit em transações correntes e o câmbio não se move." Pessoa e Delfim participaram ontem do 5 Fórum de Economia da FGV, em São Paulo. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 7)(Simone Cavalcanti)