Título: Arapongas no Dia do Trabalhador
Autor: Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 01/05/2011, Política, p. 6

Tradicionais nas celebrações do Dia do Trabalhador, as festas promovidas pelas centrais sindicais em São Paulo ¿ como a que ocorre hoje, na Avenida Marquês de São Vicente ¿, serviram para municiar o regime militar com informações sobre os sindicatos e até mesmo autoridades. Isso ocorreu, por exemplo, durante as comemorações do 1º de maio de 1967, quando trabalhadores festejaram a data no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo ao lado do então ministro do Trabalho, Jarbas Passarinho, e do governador do estado à época, Roberto Costa de Abreu Sodré. O encontro foi monitorado por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (Dops).

Na ocasião, os trabalhadores fizeram reivindicações ao então ministro do Trabalho e agradeceram por benefícios recebidos, tudo documentado pelo Dops paulista. O informe, que só foi difundido a outras agências de informação da época depois de um mês, relatava que até mesmo as esposas das autoridades presentes eram observadas.

¿Foi dada a palavra ao ministro do Trabalho, Jarbas Passarinho, que proferiu um breve discurso¿, registraram os arapongas do Dops. Além disso, ¿as reivindicações apresentadas seriam objeto de estudo, havendo a possibilidade de algumas serem atendidas, enquanto outras deveriam encontrar solução conforme os maiores interesses do operariado e governo¿. O discurso de Sodré também ficou registrado no informe do Dops, que destacou que o governador paulista falou sobre a ¿necessidade de ser restabelecida a verdade e de acabar com a mentira¿.

Depois que as autoridades deixaram o local ¿ seguindo para outra festa de trabalhadores ¿, foi a vez de os sindicalistas serem os alvos da espionagem. Segundo o informe que se encontra no acervo do Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa), no Arquivo Nacional, em Brasília, os discursos passaram a ser contra o governo. ¿Falou, também, um representante do sindicato dos químicos de Osasco (estamos investigando para identificar), criticando violentamente aqueles que aplaudiram o ministro do Trabalho, que falava em liberdade, enquanto `beleguins¿ do Dops prendem trabalhadores que lutam por seus direitos¿, relatavam os agentes do serviço de informação, que também atuavam na repressão.

Com o passar do tempo, a vigilância em torno dos sindicatos ficou cada vez mais severa. O movimento sindical representava fonte de preocupação para os militares desde o golpe de março de 1964 até os instantes finais do regime de exceção, em 1985. No Primeiro de Maio do ano anterior à redemocratização, por exemplo, os arapongas estavam no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP), durante a eleição de Jair Meneghelli à Presidência da entidade. ¿Para compor a chapa, Meneghelli indicou, também, mais três elementos: Luiz Inácio Lula da Silva, Vicente de Paulo da Silva (o hoje deputado Vicentinho) e José Cândido Pereira. Esses quatro elementos cassados de acordo com a lei trabalhista são inelegíveis, mas essas indicações foram feitas com o propósito claro de desmoralizar as leis trabalhistas do país¿, relataram os agentes do Exército.

Falou, também, um representante do sindicato dos químicos de Osasco (estamos investigando para identificar), criticando violentamente aqueles que aplaudiram o ministro do Trabalho¿

Relatório do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) sobre as comemorações do 1º de maio de 1967, no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo