Título: Exército boliviano assume controle de capital rebelde
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Fonte: Gazeta Mercantil, 17/09/2008, Internacional, p. A14

17 de Setembro de 2008 - As Forças Armadas bolivianas consolidaram ontem o controle sobre a pequena cidade amazônica de Cobija, capital do Departamento de Pando (fronteira com Acre e Rondônia), onde aconteceram os piores incidentes na atual onda de violência política no país. Soldados fortemente armados ocuparam sem resistência o centro da cidade, depois de terem detido pela manhã o governador Leopoldo Fernández, acusado de ordenar um massacre de camponeses e ignorar o estado de sítio em vigor desde sexta-feira. "A prisão de Fernández obedece a uma determinação legal; as Forças Armadas estão cumprindo seu papel legal no marco do estado de sítio", disse Morales a jornalistas, um dia após receber o apoio de outros governos da América do Sul contra o que qualificou de "tentativa de golpe civil". O ministro da Defesa Legal, Héctor Arce, afirmou a jornalistas que Fernández pode ser condenado a 30 anos de prisão pelo massacre de camponeses. Quatro departamentos bolivianos governados pela oposição (Pando, Beni, Santa Cruz e Tarija) vivem há quase um mês violentos protestos contra a nova Constituição que Morales pretende aprovar para aumentar a participação do Estado na economia, dar mais poderes à maioria indígena e promover uma reforma agrária. Unasul apóia Morales A União das Nações Sul-Americanas (Unasul) divulgou um comunicado no final da noite de segunda-feira apoiando o governo de Evo Morales e rejeitando qualquer tentativa de divisão territorial da Bolívia, ao final de uma longa reunião de emergência, na capital chilena. A Declaração do Palácio de La Moneda - aprovada por unanimidade pelos nove presidentes que assistiram à reunião - prevê a criação de uma comissão aberta a todos os países da Unasul, coordenada pela presidência chilena, para acompanhar o processo de negociação atualmente em curso em La Paz. A Unasul rejeitou ainda os ataques às repartições federais e à força pública por parte de grupos que buscam a desestabilização da democracia, e exigiu a pronta devolução das instalações ocupadas. O documento foi assinado pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Tabaré Vázquez (Uruguai), Evo Morales (Bolívia), Cristina Kirchner (Argentina), Fernando Lugo (Paraguai), Alvaro Uribe (Colômbia), Rafael Correa (Equador), Hugo Chávez (Venezuela) e Michelle Bachelet, que exerce a presidência rotativa da Unasul. Evo Morales agradeceu o apoio unânime dado pela Unasul, "especialmente por sua posição firme de defender a democracia e a unidade do povo da Bolívia". O chanceler chileno, Alejandro Foxley, afirmou ontem que a Unasul irá recorrer a instâncias internacionais caso sejam comprovadas violações aos direitos humanos nas mortes e desaparecimentos de bolivianos ocorridos desde a última quinta-feira em Pando. Foxley declarou que a Unasul irá acompanhar o processo de diálogo entre o governo e oposição na Bolívia e investigará o que ocorreu em Pando, "algo escandaloso com 30 mortos e cem desaparecidos". Grupo do Rio, formado por 22 países latino-americanos e atualmente presidido pelo México, também manifestou seu apoio ao governo boliviano e destacou a necessidade de se respeitar o princípio de integridade territorial na Bolívia. Já os Estados Unidos autorizaram a desocupação parcial da embaixada na Bolívia e recomendaram aos cidadãos norte-americanos que evitem viajar ao país. Jobim descarta intervenção O ministro de Defesa do Brasil, Nelson Jobim, descartou ontem a possibilidade de enviar tropas brasileiras à Bolívia para intervir na crise política vivida por este país. "O Brasil não fará isso", disse Jobim, ao ser questionado sobre declarações do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que cogitou enviar militares venezuelanos para defender o governo de Evo Morales. "Se o Brasil enviar tropas à Bolívia, será por uma questão humanitária, e apenas isso", explicou Jobim, que está no Uruguai para participar das sessões do Parlamento do Mercosul (Parlasul). O ministro disse não acreditar em uma "solução militar" para a crise boliviana. "Esta é uma questão histórica, que deve ser resolvida por meio da política, com o apoio dos presidentes sul-americanos". (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 14)(Reuters, AFP e Ansa)